Formiga se despede da Seleção Brasileira
Em 2019, quando a Seleção Brasileira de Futebol Feminino foi eliminada nas oitavas de final da Copa do Mundo, a principal jogadora do elenco e uma das mulheres mais importantes desse meio, Marta, disse o seguinte:
“Não vai ter uma Marta para sempre, não vai ter uma Formiga para sempre, não vai ter uma Cristiane para sempre. O futebol feminino depende de vocês! Valorizem mais!”
Ela estava certa. Chegou o momento de nos despedirmos de Formiga.
Hoje, dia 25 de novembro, a jogadora fará sua última partida vestindo à camisa canarinho, na estreia da Seleção Feminina no Torneio Internacional contra a Índia, na Arena da Amazônia.
Aos 43 anos, a veterana foi convocada pela técnica Pia Sundhage como jogadora adicional para a partida de hoje.
Formiga coleciona 233 jogos pela seleção e já disputou sete Copas do Mundo, o que a torna recordista mundial masculina e feminina, e sete Jogos Olímpicos. Foi vice-campeã mundial em 2007 e vice-campeã olímpica em 2004 e 2008.
A despedida da “Canarinha” já era esperada depois que a jogadora anunciou que não continuaria no PSG, onde jogava desde 2017 e do qual saiu este ano porque queria voltar ao Brasil.
A mulher no futebol
Miraildes Maciel Mota, ou simplesmente Formiga, nasceu em 3 de março de 1978, em Salvador na Bahia.
Naquela época, o decreto-lei de 1941 ainda impedia as mulheres de jogarem futebol. A restrição durou até o ano seguinte, 1979.
Mesmo podendo jogar futebol, Formiga sentia a pressão e a exclusão toda vez que tentada dar uma "bicuda” da bola.
Formiga afirmou que teve o apoio de sua mãe, quando começou a jogar futebol, aos 12 anos. Mas infelizmente só podia fazer isso quando seus irmãos permitiam e estivessem em campo junto dela.
Mas como qualquer pessoa apaixonada pela bola, Formiga nem sempre obedecia a seus irmãos e ia jogar sozinha, mas depois apanhava pela desobediência.
Em uma entrevista para a Vogue, Formiga disse que “Sente orgulho de ter resistido a tantas coisas, de ter superado barreiras e persistido no seu objetivo”.
A meia-campista também teve que escutar pessoas a chamarem de “mulher-macho” e falarem que ia engravidar cedo por estar sempre cercada de meninos.
Felizmente, todo machismo não a impediu de insistir no seu sonho, para a sorte de milhões de torcedores brasileiros, que puderam ver uma das maiores futebolistas da história em ação.
Formiga e a camisa Canarinho
Formiga estreou com Amarelinha no Mundial Feminino de 1995 com 17 anos, na Suécia, pela segunda edição do torneio.
Na ocasião, a meia-campista pegou emprestado as camisas da conquista do tetra de Romário, de Bebeto e de Dunga.
Em 1999, conquistou sua primeira medalha na Copa do Mundo com a Seleção Brasileira, conquistando o terceiro lugar.
Depois disso, ela sempre esteve presente em todos os campeonatos disputados pela Seleção Feminina e em 2019, ultrapassou Cafu ao se tornar a atleta com mais jogos pela Seleção Brasileira.
Formiga chegou a anunciar sua aposentadoria em 2016, quando foi realizado o jogo do adeus em Manaus, também em um torneio internacional, em duelo contra a Itália.
Mais tarde, em 2018, a jogadora voltou à Seleção Brasileira e disputou as últimas Olimpíadas no Japão.
E, mais uma vez, a torcida brasileira pôde ver Formiga nos gramados por mais alguns anos, na TV aberta. Até agora.
Em uma coletiva de imprensa realizada ontem, Formiga disse que sua despedida dos gramados não significa sua despedida ao futebol feminino.
“Tem alguns cursos que posso fazer na CBF. Mas eu vim pensando, refletindo um pouco e acredito que talvez que eu possa ajudar não só ali na terceira linha, vamos dizer assim, que é a demarcação do treinador, mas também fora, como diretora de algum clube ou mesmo da CBF".
Foi um prazer te ver jogar, Formiga!
Formiga é mais do que uma grande jogadora dentro das quatro linhas. Sua imagem é um grande lembrete dos esforços para uma mulher jogar futebol, tudo isso em decorrência da falta de investimento e apoio.
Apesar de já termos nos despedido dela uma vez, não significa que doerá menos. Formiga representou a coragem, dedicação e vontade para realizar seu maior desejo, jogar bola.
E, mesmo sem perceber, abriu espaço para outras como ela poderem realizar seus sonhos também.
"Bate uma tristeza, mas, ao mesmo tempo, uma alegria. Porque eu vejo essas meninas jovens hoje tendo condições, e eu não peguei isso. Mas, mesmo no finzinho da minha participação na seleção, eu consegui vivenciar e fico muito alegre, com o coração cheio de alegria de saber que não é só minha a batalha, mas de muitas outras (jogadoras)", disse ela na coletiva.