Futebol brasileiro se rende a métodos estatísticos e a inovação já faz parte de competições amadoras
O futebol não é um esporte que depende apenas de talento e instinto de seus atletas. Há muita informação, leitura de jogo e minúcias táticas que podem fazer a diferença. Para que possam observar estas movimentações, uma equipe de profissionais atua nos bastidores utilizando a análise de desempenho.
A Análise de Desempenho é uma ferramenta de aprimoramento interno de clubes e também de estudos técnicos e táticos. Por meio de departamentos de análises e inteligência, os times mapeiam suas virtudes e fraquezas, assim como de seus adversários.
Várias métricas são possíveis de serem quantificadas dentro do esporte e são úteis neste trabalho. Assim é possível definir que abordagem deve-se dar a cada partida, assim como recomendar as melhores peças para o duelo a seguir.
Do mesmo modo, é possível também, a partir de dados de atletas diversos, direcionar possíveis investidas no mercado por reforços, diminuindo a chance de contratações errôneas ou demasiadamente caras sem o retorno necessário.
Se na Europa a Análise de Desempenho é usada pelos principais clubes desde os anos 90, no Brasil, ela tem sido adotada com mais frequência apenas na última década. Dito isso, recentemente clubes amadores começaram a usar a ferramenta.
O Campeonato de Futebol Amador da Capital, de Curitiba, conhecido popularmente como Suburbana, é uma das mais fortes competições amadoras federadas do Brasil.
Alguns clubes presentes na competição utilizam a Análise de Desempenho, como Vila Fanny, Urano, Iguaçu (atual campeão Sul-Brasileiro) e o Operário Pilarzinho (atual campeão da competição).
Mesmo com treinos reduzidos durante a semana, há possibilidade de mapeamento físico, técnico e de posicionamento dos atletas.
As comissões técnicas acabam possuindo informações sobre resistência, velocidade, força dos atletas, além de dados de jogo como passes por partida, tempo de jogo, desarmes, finalizações, chances de gols criadas.
O acúmulo de informações permite alterações adequadas durante os jogos e até mudanças de estratégia conforme o adversário ou o campo em que se atuará, como por exemplo o Amador de Curitiba, há um caso de campo sintético e diversos pisos de grama natural de dimensões e de estado de conservação diversos.
A Análise de Desempenho atua também no conhecimento e escolha do tipo de jogo, seja mais intenso ou mais lento, mais forte ou veloz. A abordagem correta para o piso correto faz muita diferença, principalmente quando a qualidade técnica das equipes é quase equivalente.
Muitas das estatísticas obtidas pelos profissionais da Análise de Desempenho são similares às estatísticas de jogo que são possíveis de obter por meio da integração das ferramentas de desenvolvimento da Mulesoft com os aplicativos da ESPN.
Em um futuro não muito distante, até os dados dos campeonatos amadores possam ser acessados por meio de aplicativos usando esta tecnologia. O caminho começa a ser trilhado.
Futebol científico começou na antiga União Soviética
A Análise de Desempenho deriva do Futebol Científico, vertente de estudos que surgiu na então União Soviética. Um de seus principais artífices foi o treinador ucraniano Valeriy Lobanovskiy (1939-2002).
Ex-jogador do Dínamo Kiev, do Chernomorets e do Shakhtar Donetski, Lobanovskiy encerrou a carreira de atleta e iniciou a de treinador aos 30 anos em 1969 no Dnipro.
Seus trabalhos mais marcantes foram no Dínamo Kiev e na seleção da União Soviética, tendo conquistado a medalha de bronze olímpica em Montreal 1976 e também o vice-campeonato da Eurocopa em 1988, ambos com os soviéticos.
O Futebol Científico prezava pelo uso de estatísticas como ferramenta de aprimoramento de atletas e equipes, o que foi absorvido pelos estudiosos da Análise de Desempenho.
No Brasil, o primeiro grande seguidor de Lobanovskiy foi o preparador físico paranaense Antônio Carlos Gomes, que estudou na Rússia nos anos 90 e foi responsável pela estruturação da preparação física de abordagem científica de dois times campeões brasileiros: o Athletico Paranaense de 2001 e o Corinthians de 2011.
O atual movimento, no entanto, tem origem principalmente da literatura de treinamento desportivo de Portugal, país que tem a Universidade do Porto como referência mundial em Ciências do Futebol e principal adepta da Periodização Tática.
Este artigo foi escrito por Leonardo Bonassoli e publicado originalmente em Prensa.li.