Gasolina verde: o combustível nosso de cada dia
A economia do futuro depende do sentido de sustentabilidade hoje com a gasolina verde (Imagem - Jakayla Toney - Pexels)
A pauta da mídia especializada em sustentabilidade é rica em artigos e estudos sobre combustíveis. Sejam sérias ou bem-humoradas, sejam de direita ou de esquerda, sejam elegantes ou escrachadas, conversas sobre esse tema giram sempre em torno de motores poluentes. Ou caem diretamente neles. Ainda bem que “há um túnel no início dessa luz”: gasolina verde.
Um túnel. Um longo e sinuoso túnel na luz da sustentabilidade. Os estudos ainda estão no início - razão pela qual o túnel é longo -, mas já se mostram promissores - razão pela qual há luz.
A Ciência é um caldo democrático de sabor estranho. É usada até mesmo por quem não a admira para fazer chacotas sobre ela mesma. Daí ser democrática. No caso de combustíveis, já houve fake news tão bizonhas que tangem até mesmo ao conspiracionismo; daí ter sabor estranho.
Uma dessas bizonhices trata da “lenda do carro movido à água”. A história (ou estória) já foi refutada por especialistas sérios, mas ainda cavalga no imaginário de esperanças popular. Antes, é mais relevante destacar o mérito e a essencialidade das pesquisas sobre novas formas de energia. Fugir das garras da dependência dos combustíveis fósseis e especialmente poluidores é o objetivo espalhado por todo o mundo.
Gasolina Verde: o conceito
Giovana Picoli Vieira, em seu artigo Estudo de Pirólise Catalítica de Bagaço de Malte em Leito Fixo, destaca a grande importância da busca por fontes de energias diversas. “A energia sempre foi uma força motriz no desenvolvimento da cultura humana, estilo de vida e desenvolvimento geral por décadas, mas alcançou novos patamares na segunda metade do século XX e teve seu pico nas primeiras décadas do século XXI”, diz a pesquisadora.
E continua, ainda citando vários outros pesquisadores: “A produção de energia no século XX foi dominada por combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás) que representavam, ainda no início do século XXI, cerca de 80% de toda a energia produzida no mundo”.
O conceito em si de gasolina verde trata de aplicação e de mistura de compostos químicos muito semelhante ao sistema de produção padrão. Entretanto, a base de insumos são vegetais. A ideia é tão promissora e ampla que há pesquisas sendo feitas no mundo inteiro. Muitas destas trabalham com diferentes objetos e ambientes, mas com um único objetivo: gasolina verde.
Assim, alguns objetos são catalisadores; outros, micróbios. Cada equipe de estudos pré-analisou todas as alternativas e optou por aquela em que suas experiências definiram como a mais eficiente.
Gasolina verde por catalisadores
Muitos experimentos resultaram em vantagens no uso de catalisadores. Restos de madeira e o próprio açúcar em uma das fases de produção se mostram excelentes produtos catalisáveis em material de altíssima octanagem. Assim, obtiveram-se gasolina, diesel e outros elementos combustíveis para aviação.
Vegetais em geral se transformam em gasolina a partir de dois caminhos principais :
Gaseificação: aplicação de alta temperatura para que o calor extremo produza monóxido de carbono e hidrogênio. Esses dois elementos, se catalisados com material específico, resultam em gasolina. Esse processo é um dos mais antigos caminhos para obtenção de gasolina tradicional, mas somente agora tem sido levado como meio de gasolina verde. Pesquisadores atuais trabalham em passos produtivos menos custosos, pois os procedimentos são caros.
Pirólise: também há uso de calor em processos de pirólise, mas não tão intenso quanto a gaseificação. A matéria orgânica se decompõe sem presença de oxigênio ou sob quantidade mínima desse gás. A qualidade dos resultados é tão estimulante que se pensa também em produção de eletricidade.
Dessa maneira, o combustível verde é conseguido por transformação de vegetais em gasolina sem necessidade de refinação. A concentração de poder energético é, segundo especialistas, superior à da gasolina comum. Com isso, o novo combustível se traduz em grande vantagem, além de outra: os produtos base não necessariamente alimentícios como matéria-prima.
O início do conceito
Em 2009, o jornalista Fábio de Castro anunciava que pesquisadores americanos já buscavam alternativas para obtenção de gasolina verde. A matéria cobriu o evento Biofuel Technologies and their Implications for Land and Water Use, organizado na cidade de Atibaia - SP e patrocinado pelo Programa Fapesp de Pesquisa em Bioenergia - Bioen.
Cientistas do Brasil, Estados Unidos e Argentina ouviram o então diretor do Programa de Catálise e Biocatálise da National Science Foundation - NSF, John Regalbuto, confirmar que a “gasolina verde deve estar disponível no mercado consumidor em cinco a sete anos e será uma alternativa e complemento ao etanol”.
A previsão ainda não se concretizou. Entretanto, os estudos estão bastante adiantados, o que torna as expectativas bem esperançosas.
Etanol x Gasolina verde
Por princípio, certamente que o etanol brasileiro compõe o conjunto de produtos considerados combustíveis não-fósseis. Afinal, o processo de produção usa plantas como insumo básico.
Regalbuto lembrou que há diferença essencial entre etanol e gasolina verde. Enquanto o primeiro é obtido por fermentação de plantas a partir de enzimas, a segunda usa catalisadores, como visto acima.
O cientista lembrou também que não haverá competição por mercados entre os combustíveis. São intercomplementares.
Motivação para produção de gasolina verde
Há dezenas de motivos para que o mundo se volte à gasolina verde. Ou a qualquer outra fonte de energia diferente da fossilizada, que é o caso do petróleo. O próprio petróleo em si e seu caráter de finitude já é um bom motivo. Mas há muitos outros.
Muitos observadores do mercado de combustível confirmam que mesmo as grandes petrolíferas têm interesses na gasolina verde. Mesmo porque a imagem dessas empresas é constantemente arranhada por ativistas ambientais. Ao contrário do que aparentemente se alega, as empresas produtoras de gasolina tradicional têm incentivado e financiado estudos sobre a gasolina verde..
Economia descarbonizada
A economia mundial sobrevive ao longo das últimas décadas por ação de energia por combustível fóssil. Os processos para obtenção passam por ação da natureza (decomposição de corpos) e ação segmentada humana. Ela movimenta a indústria e produz bem-estar social a partir de quantidade incomensurável de produtos usados no dia a dia.
Entretanto, posto que nada é perfeito, produz também malefícios. Se, por um lado, carvão mineral, gás natural e petróleo tornam a vida mais confortável, por outro, enxovalham a atmosfera com gás carbônico.
Esse fator é conhecido por toda a comunidade científica voltada à área combustível e por todos os cidadãos minimamente preocupados com o clima mundial. Diz-se, então, que a economia do mundo é dependente de gás carbônico, que é o produto residual do uso de combustíveis fósseis.
E gás carbônico é nocivo, como se sabe.
Diminuir ao máximo essa dependência é praticamente um movimento geral entre pesquisadores e governos conscientes.
Resultados atualizados
Mais recentemente, a empresa petrolífera finlandesa Neste renovou as esperanças dos mercados. Como primeira ranqueada na produção de diesel e de combustível sustentável, tem testado um dos tipos de gasolina verde capaz de, segundo seus técnicos, emitir até 90% menos de efeitos negativos no clima mundial.
O objetivo da empresa é ser pioneira na oferta de combustível renovável também para automóveis sem qualquer espécie de alteração na estrutura dos motores.
Acompanhe outros temas sobre mobilidade mundial por motores neste artigo da Prensa.
Este artigo foi escrito por Serg Smigg e publicado originalmente em Prensa.li.