GenAI e escassez de talentos: os desafios invisíveis do futuro do trabalho
Avanços em Inteligência Artificial Generativa esbarram em um gargalo estrutural: a falta de profissionais qualificados em segurança digital. O setor bancário já sente os efeitos e busca respostas.
A digitalização avança em duas frentes que parecem caminhar em direções opostas: de um lado, o crescimento acelerado da Inteligência Artificial Generativa (GenAI); de outro, a escassez crítica de talentos em áreas como cibersegurança.
A combinação desses vetores — tecnologia sofisticada sem capital humano suficiente — expõe um risco estrutural. Sem investimentos coordenados em formação, diversidade e novas formas de trabalho, a inovação pode virar vulnerabilidade.
Na Prensa Tech de hoje, mergulhamos nos dilemas que acompanham o avanço da Inteligência Artificial Generativa no setor financeiro. Enquanto bancos aceleram o uso da GenAI para reinventar operações e experiências, a escassez de profissionais em cibersegurança acende um alerta estrutural.
Falta gente para proteger o sistema
A crise de talentos em cibersegurança é global, mas tem contornos particularmente graves no Brasil. O país enfrenta um déficit de quase 200 mil profissionais na área, segundo dados apresentados por Andréa Thomé, representante da WOMCY (Latam Women in Cybersecurity). Em uma análise direta, ela afirmou: “Diversidade não é apenas representatividade — é inteligência estratégica”, lembrando que apenas 20% dos profissionais de cibersegurança no mundo são mulheres.
Além do problema quantitativo, há também um desafio qualitativo: a tecnologia avança mais rápido do que os programas de formação conseguem acompanhar. Marcelo Mazanati, da consultoria Foursys, foi direto: “Formar talentos leva tempo. Mas a tecnologia muda mais rápido que a formação.”
As respostas estão nas pessoas — e na cultura institucional
Frente ao cenário crítico, algumas instituições têm investido em mudanças estruturais. Egídio Pelúcio, vice-presidente de Pessoas da Caixa Econômica Federal, detalhou como o banco incorporou temas de cibersegurança já nos concursos públicos: dos 4 mil novos contratados, metade irá atuar na área de TI, com provas que já cobravam noções de segurança digital.
Alexandre Timm Vieira, do Banrisul, reforçou um ponto-chave: “A IA amplia a superfície de ataque e exige profissionais com repertório técnico novo — é preciso dominar segurança na IA e utilizar IA na segurança.”
A mensagem recorrente entre os especialistas é que contratar já não basta. É preciso reter, treinar, integrar e diversificar — com parcerias com universidades, bootcamps, programas inclusivos e uma nova cultura de trabalho digital.
GenAI já é pilar de operação — e não apenas uma promessa
Se faltam profissionais para garantir a segurança, sobram projetos para acelerar a inovação. A GenAI já é parte estrutural do sistema bancário, com exemplos concretos em operação:
No Bradesco, a evolução da assistente virtual BIA incluiu o uso de GenAI para transações, suporte a gerentes e automação de tarefas. Segundo Leandro Marçal, “80% da equipe de desenvolvimento já usa a Biatec para acelerar entregas com qualidade.”
No Banco do Brasil, há mais de 500 casos de uso em andamento. Um deles, chamado “IA nas Minhas Finanças”, aplica GenAI para personalizar a educação financeira com base nos dados do Open Finance. “Estamos nos movendo para agentes autônomos com governança embarcada”, explicou Giuliane Paulista, executiva do banco.
Outros exemplos vêm da Neurotech, que em parceria com o Banco BV, recuperou mais de R$ 8 milhões em crédito em um único mês com GenAI. Para Domingos Monteiro, CEO da empresa, a tecnologia é “catalisadora de valor”. Já Fernando Schmidt, da Diebold Nixdorf, destacou o impacto na experiência do usuário: “Ninguém quer mais falar com robô de script no WhatsApp.”
Mais IA, mais risco: o paradoxo da inovação
A ironia é clara: quanto mais GenAI se incorpora às operações bancárias, maior a exposição a riscos — inclusive aqueles que ainda nem estão totalmente mapeados. Alexandre Montoro, sócio do BCG, propôs uma leitura em ondas dessa evolução: da automatização à reinvenção de funções, até chegar à terceira fase — os agentes autônomos. “Estamos a um passo da quarta onda: sistemas compostos por múltiplos agentes que aprendem e decidem juntos.”
É um horizonte empolgante, mas que impõe responsabilidade redobrada. Afinal, a inovação tecnológica que reduz custos e melhora a experiência dos clientes só se sustenta com estratégias robustas de segurança e capital humano qualificado.
A convergência entre escassez de talentos e aceleração tecnológica cria um paradoxo inquietante para o setor financeiro. De um lado, o futuro das operações depende da adoção estratégica de GenAI. Do outro, essa mesma evolução expõe fragilidades estruturais na base: a formação de pessoas.
A inovação, por si só, não basta. É preciso investir em quem torna a inovação viável — e protegida.
Essa foi a sua Prensa Tech de hoje. Até a próxima 😎🧑💻