Guerra na Ucrânia
O tema mais discutido nas últimas semanas tem sido a guerra na Ucrânia. Imagens de refugiados, áudios de bombardeios, vídeos de protestos contra a guerra e comentários em todas as redes sociais tornaram a guerra uma constante para todo o mundo.
As tensões entre Ucrânia e Rússia eram comentadas com algum grau de desinteresse no começo do ano, aparecendo de forma mais significativa em fevereiro, nas semanas que antecederam a invasão russa.
O conflito entre os dois países, no entanto, já existe desde 2008, com o convite informal da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) ao país do leste europeu. Durante uma cúpula da organização em Bucareste, foi confirmado que a Ucrânia faria parte do bloco em algum momento, mas foi em 2014, com a guerra da Criméia e a ascensão de um governo pró-ocidente que o diálogo entre o país e a OTAN se intensificou.
Em 2014 o conflito entre Rússia e Ucrânia também levantou discussões e acusações, especialmente entre os países da União Européia e os Estados Unidos. A Ucrânia passou por um conflito interno com uma série de protestos que culminou com a deposição do presidente Viktor Yanukovych, o presidente era uma importante figura pró Rússia no país.
Depois da deposição, a Criméia, território ucraniano que também já foi parte da Rússia, reivindica a eleição de um novo presidente pró Rússia. Em março foi realizado um referendo em que a população decidiria se gostaria de ser parte da Rússia, com mais de 90% dos votos favoráveis.
É importante acrescentar que já estava em andamento um processo de ocupação da região por parte dos russos, relativamente silencioso e suave. Os Estados Unidos e a União Europeia foram contra o processo e consideraram que o referendo não era válido, mas a Russia reconheceu e iniciou a anexação. Essa tensão retomou as negociações entre a OTAN e a Ucrânia.
A OTAN é uma aliança militar entre diversos países e a adesão às suas fileiras significa uma série de apoio e influência entre os países membros. Tendo sido criada no contexto da Guerra Fria como uma aliança ocidental em oposição à URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) a organização representa um poder militar significativo e tem incluído países do leste europeu ao longo das últimas décadas.
Apesar da dissolução da URSS é importante considerar que a tensão entre Estados Unidos e Rússia ainda é uma realidade, e são países em destaque pela quantidade de arsenal nuclear acumulado na Guerra Fria. A Rússia tem visto a aproximação da OTAN no leste europeu com desconfiança e o presidente Vladimir Putin tem feito inúmeras declarações e pressões políticas contra esse avanço.
A história da Ucrânia e da Rússia se entrelaçam ao longo dos anos, com heranças culturais e linguísticas muito similares. A atual capital ucraniana, Kiev, foi o ponto central da estrutura medieval eslava no século IX, que deu início à Ucrânia e à Rússia.
A Ucrânia já foi parte da Rússia no período dos Czares, no século XVII, assim como foi uma das repúblicas socialistas soviéticas ao longo de boa parte do século XX, o que faz com que muitas famílias e comunidades estejam distribuídas nos dois territórios. São essas ligações históricas que criam uma relação complexa entre as duas nações, e que tem levado às declarações do presidente russo de que Rússia e Ucrânia são “o mesmo povo”.
A guerra na Ucrânia tem um aspecto internacional e midiático importante. No aspecto internacional a maior parte dos países se posicionou contra a invasão russa, e tem feito muitas e graves sanções econômicas e políticas ao país, além de a cidadãos russos em várias partes do mundo. Muitas nações realizaram apoios humanitários e militares à Ucrânia, mas sem se envolver diretamente no conflito nem mandando tropas ao país.
Sobre a cobertura midiática é interessante analisar como os presidentes, especialmente pelas suas trajetórias bem distintas, e a cultura dos países têm se destacado como alvo de especulação. O presidente russo, Vladimir Putin, tem sido uma figura importante ao longo dos anos, e especialmente nesse conflito.
Putin é um político considerado centralizador e autoritário, foi chefe da inteligência e já está no comando do país de forma quase ininterrupta desde 1999, como presidente ou primeiro-ministro. Foi responsável por uma significativa retomada econômica da Rússia e pelo retorno do nacionalismo.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, foi um comediante que criou uma série televisiva muito popular onde era o presidente da Ucrânia, em 2018 concorre às eleições com uma plataforma pautada por reformas e aproximação do ocidente. É considerado um presidente “antissistema”, rompendo com muitas estruturas políticas do país, tendo inclusive dissolvido o parlamento no momento de sua posse.
O conflito entre os dois países têm colocado o presidente ucraniano em uma posição mais favorável e impactado significativamente a imagem do líder russo, que se vê isolado na política internacional. O poder russo, no entanto, sustentou até agora semanas de conflito e de sanções econômicas.
Zelensky já deu declarações considerando a suspensão da entrada do país na OTAN, uma das exigências russas. A guerra na Ucrânia é considerada como o maior conflito europeu desde a segunda Guerra Mundial e as previsões apontam para mudanças significativas na política internacional, mesmo que o conflito se encerre de forma diplomática, como todos esperamos.
Este artigo foi escrito por Paula Giampietri e publicado originalmente em Prensa.li.