Há empoderamento das mulheres nas entrelinhas, tempos de equidade?
imagem: Freepik
Em pleno século XXI nunca nos questionamos e refletimos tanto o quanto a sociedade é diversa, ou deveria ser, ou o quanto as mulheres ainda apresentam ano após ano um significante crescimento no mercado trabalho. Contudo, em segmentos considerados tradicionalmente masculinos, em destaque aéreas exatas e engenharia, em muitas mesas de reuniões, ainda nos deparamos com as mulheres em números muito menores.
É comum cenas nas quais as mulheres são as únicas diante de um público completamente masculino, mas com a habitual retórica, olhares sutis de questionamentos quanto a capacidade técnica ou entendimento ao falar, interrupções ou vozes mais altas em demonstração de poder e superioridade. Todos estes são tênues sinais de que ainda há contexto histórico nas entrelinhas das reuniões. Devemos acreditar que nesta geração? Válido crer que este cenário será outro tão facilmente?
Em aspectos históricos, somente em 1932 as mulheres passam a ter o direito ao voto, à entrada no mercado de trabalho e isso tem forte crescimento em decorrência das guerras mundiais. Dessa forma, os homens precisam sair em defesa de suas nações e a mulher deve assumir a casa, a educação dos filhos e contribuir na cadeia de suprimentos para abastecer a guerra. Curioso é notar que mesmo depois de 77 anos do término das grandes guerras, hoje olhamos atentos à recente invasão que ocorre na porção leste da Europa, Ucrânia, e a foto se repete.
Nos telejornais as mulheres em pequenos grupos produzem redes de proteção com retalhos de panos para proteger os soldados, enquanto outras buscam atravessar a fronteira em busca de abrigo com os filhos em países vizinhos. Já no noticiário nos deparamos com a notícia “a única mulher que ficou para ajudar os soldados”. Esta cena vale o questionamento: será que realmente estamos em transformação ou somente temos o discurso mais harmonioso que aplicável?
O número das mulheres!
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2021 apresentou a síntese de Indicadores sociais, no qual compreendemos em números as discrepâncias: Na indústria de 11 milhões de trabalhadores, 7 milhões são homens, no segmento da construção a cada 6,2 milhões, 5,9 milhões são homens e no segmento de transportes de 4,6 milhões somente 456 mil são do público feminino, contra 4,1 milhões de homens. Cenário completamente adverso quando observamos serviços domésticos com 4,9 milhões nos quais 4,4 milhões são mulheres.
Nos últimos dez anos possui a oportunidade de atuar no segmento de transportes, direcionado a cargas de projetos de energia, um setor com público predominantemente masculino, mas que cresce substancialmente no Brasil. Assim como os dados acima, ressalto que muitas mulheres mudam sua maneira de se expressar, de falar ou se vestir para se "adequar” ao segmento e tornar mais fácil a aceitação do público oposto.
Sim, ainda falamos na aceitação velada. Há a necessidade de as mulheres provarem o seu valor e além disso, sentirem-se respeitadas nos respectivos cargos. Em muitos momentos, ao questionarmos os homens sobre um machismo estrutural dentro das grandes organizações, nos deparamos com: “não, não vejo esse contexto histórico todo que as mulheres comentam,” ou “aqui não temos isto, veja temos até uma mulher na diretoria de transportes, não podemos generalizar”.
Contudo, trago um questionamento, não quanto as empresas estão preparadas e estão adaptadas a esta diversidade, mas o quanto as empresas estão dispostas a repensarem suas estruturas e flexibilidade de horários, para que as mulheres possam cuidar de seus filhos, amadurecer quanto ao processo de maternidade, que ainda hoje é visto com um impacto nas carreiras de muitas mulheres e as estruturas hierárquicas ainda tradicionalmente verticais e rígidas.
É notório que ainda temos um longo caminho para que a transformação ocorra e muito provável que não consigamos ter a mudança ainda nas gerações atuais, contudo, válido criticar a velocidade com que as mulheres se inserem nos segmentos com predominância masculina. Há muito a se discutir, compreender e evoluir quanto a equidade de gêneros na sociedade neste aspecto.
Este artigo foi escrito por Karina Almeida e publicado originalmente em Prensa.li.