Habemus Doctor!
Imagem: Dois corações e um louco numa caixa azul | Imagem: Instagram Ncuti Gatwa
Tradicionalmente, o início de maio no meio da cultura pop é marcado pela celebração da saga Star Wars. O 4 de maio (em inglês, may fourth, que soa muito próximo da frase símbolo da franquia, may the force be with you) sempre traz comemorações e novidades. Desta vez, a expectativa é pelo lançamento da série Obi-Wan Kenobi.
Porém, duas notícias acabaram eclipsando o brilho das estrelas (da Morte). A primeira, vem da franquia “vizinha”, Star Trek, lançando com toda pompa a nova série Star Trek: Strange New Worlds, e já chegou fazendo barulho, com as aventuras da nave Enterprise antes da série clássica.
E a outra bomba explodiu no domingo, 8. Enquanto boa parte do mundo comemorava o Dia das Mães, a britânica BBC gritou aos quatro ventos que o novo Doutor foi escolhido.
Doutor quem?
Caso você não saiba, a BBC mantém no ar a série de TV mais longeva da história, Doctor Who. O personagem, um viajante do tempo que interfere no destino da Terra (e de metade da galáxia), vive suas aventuras desde 23 de novembro de 1963. E cada vez que o personagem morre (ou o ator precisa ser trocado), ele não morre: regenera.
Cada vez que isso acontece, a tradicional emissora inglesa faz um verdadeiro show para definir o ator que o irá suceder. Algo em termos ingleses comparado à sucessão do Papa (sem entradas ao vivo da Ilze Scamparini).
Desde que o primeiro intérprete do Doutor, o ator William Hartnell, precisou se retirar, houve nada menos que catorze substituições. Em tese deveriam ser treze, mas há um Doutor em particular, que foi vivido por John Hurt, mais conhecido como o Doutor da Guerra, que não entra nessa conta.
De Ruanda para Gallifrey
Ncuti Gatwa: segredo difícil de esconder | Imagem: BBC
O novo escolhido é o ator ruandense Ncuti Gatwa, primeiro negro a interpretar o personagem*. Gatwa sucederá Jodie Whittaker, também a primeira mulher no papel. Ela cuidou das chaves da Tardis (sua nave para viajar entre tempo e espaço) desde 2018. Com o 14º Doutor chega também um novo showrunner para a série: Russell T. Davies.
Davies, porém, é um novo velho conhecido. Foi o responsável por trazer a série de volta à TV depois de um hiato de nove anos. À frente das aventuras do 9º Doutor, vivido na ocasião por Christopher Eccleston, conseguiu trazer uma legião de novos fãs para Doctor Who.
Jodie: Doutora a caminho da última viagem | Imagem: BBC
Segundo a crítica especializada, Russell T. Davies volta em boa hora. As aventuras protagonizadas pela excelente Jodie Whittaker careceram de bons roteiros, e a audiência foi muito aquém da esperada. A própria BBC não investiu tanto em divulgação como em outras ocasiões, tanto que por aqui praticamente passou em brancas nuvens. Esperam que o showrunner consiga sacudir as coisas novamente.
E o 14º Doutor? Ncuti Gatwa é conhecido pelo personagem Eric, em Sex Education, comédia da Netflix, ao lado de Gillian Anderson (a eterna Agente Scully) e Asa Butterfield. Criado na Escócia desde a juventude, Gatwa se tornou bacharel em artes pelo Conservatório Real. Com quase 30 anos, pode ser o sangue novo necessário para colocar a série novamente em seus trilhos.
Silêncio
O ator já estava escalado desde fevereiro, mas a ordem da BBC foi manter – contratualmente – o bico calado. Finalmente, revelou "diferentemente do Doutor, posso ter um só coração, mas estou o entregando por completo para essa série". Em entrevista à TV britânica, durante as premiações do BAFTA, disse: "Eu estou feliz que finalmente foi revelado, e eu não tenho mais que manter isso em segredo, porque eu sou terrível.”
Seja gentil. Ou não?
Matt Smith: boas vindas | Imagem: BBC
Logo após a revelação, o ator Matt Smith, que interpretou o 11º Doutor, publicou uma nota dizendo “Ele vai ser realmente brilhante. Há calor, sagacidade e profundidade real em seu talento. Honestamente, estou muito animado para o show”. Já a colega de Sex Education, Gillian Anderson, tuitou “Parabéns a este raio de sol, Ncuti Gatwa”.
Já Peter Capaldi, mais conhecido como o12º Doutor, destacou a história de vida de Gatwa: “Um garotinho cuja família escapou de Ruanda em 1994 e aos dois anos encontra refúgio na Escócia, onde cresce para se tornar Doctor Who. Essa é uma história para se orgulhar”.
O público inglês, no geral, reagiu bem à escolha. No Twitter, algumas declarações surgiram: “Estou realmente animado para ver o que Ncuti fará como o Doutor, acho que ele vai deixar os outros Doutores orgulhosos.” “Ncuti Gatwa é uma estrela desde o momento em que apareceu na tela. Ele será fenomenal como o próximo Doutor.”
Já no Brasil, os comentários nas páginas do site especializado Universo Who foram um pouco inconstantes: “Vai ser estranho ver o Doutor e não o Eric de Sex Education mas é sempre assim com todas as regenerações... primeiro estranha se e depois entranha-se.”
Outros, não foram tão gentis: “Não adianta trocar de ator se as histórias e roteiros são ruins. Ser politicamente correto não vai ajudar a série a voltar a ser o que era antes. Desisti de assistir.” e “Espero que os roteiros fiquem melhor daqui pra frente, esse politicamente correto não me agradou nenhum pouco”.
Peter Capaldi, o 12º: o mais velho da nova fase| Imagem: BBC
Enfim, não é fácil agradar a gregos e troianos, o que dizer de gallifreyanos e Daleks? As primeiras participações de Ncuti deverão ocorrer no episódio de transição entre Jodie Whittaker e ele, e é claro, na temporada prevista para estrear em novembro de 2023.
Uma coisa é certa: sob a batuta de Davies, a série volta a investir em um ator mais novo para buscar um público com a mesma idade. Muita gente torceu o nariz para Peter Capaldi, antecessor de Jodie. Com 55 anos na época da escalação, em 2013, muitos o consideravam velho para o papel e deixaram de assistir a série. Mesmo com Capaldi entregando uma das melhores personificações do Doutor da era moderna.
Aguardemos as próximas temporadas. Ou podemos pegar a Tardis e dar uma olhadinha lá na frente?
* Ncuti Gatwa é o primeiro homem negro a interpretar o Doutor. A atriz Jo Martin já o havia feito em participação especial no episódio Fugitivo dos Judoons, na décima segunda temporada da série nova, como uma versão “esquecida” do personagem.
Este artigo foi escrito por Arthur Ankerkrone e publicado originalmente em Prensa.li.