Harlem: série do Prime Video que apresenta mulheres negras empoderadas
Harlem, série que estreou em dezembro no Prime Video, narra as aventuras de Camille, Quinn, Tye e Angie, quatro amigas que se conheceram na faculdade. Na série conhecemos a história de cada uma, enquanto elas compartilham suas conquistas e conflitos numa amizade onde uma incentiva a outra.
Sinopse
“Harlem retrata 4 melhores amigas elegantes e ambiciosas do Harlem, Nova York, a Meca da cultura negra dos EUA. Camille é uma jovem e popular professora de antropologia da universidade Columbia, com amplo conhecimento das condutas de namoro de muitas culturas, mas que tem dificuldade em conduzir a sua própria vida amorosa.”
Pela perspectiva do narrador personagem
Gosto muito de conteúdos audiovisuais onde o personagem principal narra sua vida, pois, podemos conferir sua história a partir da perspectiva de quem viveu o momento.
Em Harlem a personagem Camille, Meagan Good, inicia os episódios apresentando conceitos antropológicos sobre relacionamento em várias culturas, uma introdução que dá uma ideia do que esperar dos próximos minutos.
Como professora de antropologia, Camille conecta suas experiências com os conceitos antropológicos apresentados em aula, sempre focando nas relações humanas. O que considerei uma forma inteligente de apresentar a personagem. Pois, além de entender sua perspectiva dos acontecimentos, também mergulhamos um pouco no seu trabalho acadêmico.
Confrontando expectativas de vida
Camille é uma mulher com um plano de vida criado quando tinha 18 anos. No entanto, perto de completar 30 anos, ainda não concluiu nem 40% da sua lista. Já que a tão sonhada cadeira de professora associada na Universidade da Colúmbia é incerta. Não se casou e sua vida amorosa segue repleta de altos e baixos.
A vida de suas amigas também está um caos
Tye, Jerrie Johnson, é a primeira mulher negra queer a desenvolver um aplicativo de relacionamento para mulheres LGBTQIA+ de sucesso. Mas, sua vida amorosa é caótica. Dado que Tye tem problemas para manter relacionamentos mais profundos, por isso, vive de encontros casuais e superficiais. No entanto, tudo muda quando a jornalista Anna, Kate Rockwell, entra em sua vida. Levando Tye a questionar suas escolhas, além de confrontar suas crenças e posicionamento quanto mulher negra queer bem-sucedida.
Quinn, Grace Byers, é uma estilista que abandonou uma carreira promissora em Wall Street para realizar o sonho de ter sua própria marca de roupas femininas. Que me fez perceber que ter uma casa toda rosa é uma má ideia. Ainda bem que desisti a tempo. Hahahahaha
Quinn tem um péssimo relacionamento com os pais, especialmente com a mãe Patricia, Jasmine Guy. Uma vez que é considerada um fracasso, por ter largado um trabalho promissor para recomeçar em uma nova carreira no mundo tão concorrido da moda.
Completando o quarteto Angie, Shoniqua Shandai, uma artista em busca da grande oportunidade de sua carreira, que vive de favor na casa de Quinn e está sempre fazendo bicos para descolar uma grana. Angie é vista como a irresponsável do grupo, pois não tem emprego fixo, casa ou um plano de vida.
Como não ser refém do próprio plano de vida
Ter um plano de vida é incrível, mas seguir todo o planejamento criado num momento específico de sua existência, sem considerar o presente. Ou melhor, a pessoa que você é agora, não é nada inteligente. Afinal, pessoas mudam e planos devem acompanhar essa transformação. Portanto, revise e adapte seu planejamento periodicamente.
Camille estava tão focada em concluir todos os itens do seu plano de vida, que esqueceu de olhar para dentro de si mesma e se perguntar porquê. Por que tinha feito aquele plano? E, por que ainda queria concluí-lo?
Afinal a vida acontece fora dos planos que fazemos. Além disso, grande parte dos planos de Camille dependia de outras pessoas.
Da mesma forma, Quinn tinha que provar ter feito a escolha certa ao deixar o emprego que sua mãe tanto se orgulhava em dizer que a filha tinha. Para fazer algo que realmente acreditava. Criar roupas seguindo um processo mais sustentável de produção, que não explora mão de obra e faz as pessoas se sentirem bem consigo mesmas. Inclusive ela.
Tey é uma mulher negra LGBTQIA+ que chegou ao topo, em função disso, não pode fazer nada errado. Afinal, outras mulheres negras podem se inspirar nela. Logo, Tye quer ser esse exemplo para todas que enfrentam os mesmos desafios para serem bem-sucedidas. Entretanto, a vida é mais profunda que isso, assim como ser um exemplo mais trabalhoso do que parece.
Por último Angie, uma mulher negra que corre atrás do sonho de ser uma artista famosa. Mas, está vendo o tempo passar e nada acontecer. Assim, vêm cobranças de todos os lados para que ela arrume um emprego formal e se sustente. Que não é totalmente errado, mas também não dá conta de toda a complexidade da vida adulta. Gente, quando ficou tão difícil viver? Quando a gente deixou de tomar Todynho!!! Hahahaha
Como desenvolver boas histórias sem recorrer a clichês?
Um ponto negativo da série é a demora para apresentar o passado das personagens, bem como as escolhas que fizeram durante a vida até chegarem nesse ponto de suas histórias. Ainda que no decorrer dos episódios eles vão dando umas pinceladas, a maior parte do passado das garotas é apresentada nos 3 últimos episódios.
O que faz a narrativa recorrer a soluções preguiçosas para encerrar a temporada como: doença e sinceridade proporcionada pelo copo de cachaça. O que tira um pouco do charme da série, já que estávamos numa crescente, então tudo despenca.
Contudo, o clichê é uma forma rápida e segura que Hollywood costuma se apoiar para engajar o público, visto que utiliza estruturas já conhecidas para contar histórias. Só que expandir também é importante. #ficaadica
Enfim, Harlem é uma série incrível, com visuais muito bem pensados. Temas que precisamos refletir. Entretanto, o melhor de Harlem é apresentar mulheres negras como pessoas que vivem, trabalham duro, se apaixonam e se decepcionam. Enfim, ir além das temáticas raciais.
É contar nossas histórias sem focar somente nas consequências do racismo. Que é uma grande parte de nossa existência, mas não é tudo.
Este artigo foi escrito por Kika Ernane e publicado originalmente em Prensa.li.