Harry Potter e a Chave do Sucesso
Apesar das declarações preconceituosas proferidas pela autora (que feio, Tia Joanne!), não há como negar: a saga Harry Potter é o maior fenômeno crossmídia da atualidade. Por sinal, completando duas décadas do lançamento do primeiro filme derivado dos livros, Harry Potter e a Pedra Filosofal.
Nada desprezível para uma história que foi planejada durante uma viagem de trem. O que também pode explicar a presença (e a importância) deste tipo de transporte na vida dos alunos da escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.
“Você é um bruxo, Harry”
A autora J. K. Rowling (a Joanne citada lá em cima) certamente não imaginou, sobretudo depois de algumas portas na cara e recusas de editoras, que o universo complexo e coeso que criou faria um sucesso estrondoso. Os livros foram traduzidos em pelo menos setenta idiomas (incluindo latim e grego antigo).
Assim como não imaginou sua historinha no passeio ferroviário chamando a atenção da gigante Warner Bros., que os transformou numa série de longa-metragens; em seguida, veio o espetáculo teatral, Harry Potter e a Criança Amaldiçoada; um sem-número de publicações derivadas; uma segunda cinessérie, Animais Fantásticos e Onde Habitam; e principalmente, não imaginou se tornar uma das escritoras (pra não dizer pessoas) mais ricas do planeta.
“Palavras são nossa inesgotável fonte de magia”
Mas, trocadilhos à parte, qual a mágica por trás de Harry Potter?
A despeito de ter se inspirado ou não no roteiro dos quadrinhos Os Livros da Magia, de Neil Gaiman (que realmente apresenta uma premissa muito parecida), Harry Potter parte de uma ansiedade central de qualquer ser humano: descobrir ser especial e viver numa realidade fantástica, libertando-se de uma rotina tediosa. E claro, aproveitar a popularidade de ser o centro das atenções.
Isso é comum a muitos personagens: Frodo, Percy Jackson, Superman, Lúcia Pevensie ou o Homem-Aranha.
Mas sabiamente disse o Tio Ben, com grandes poderes vêm grandes responsabilidades. No caso do pobre Harry, estas vêm no atacado. Quem mandou ser o menino que sobreviveu? Digamos que o título de outra famosa série literária, Desventuras em Série, seria bem adequado.
São sete livros (oito filmes), onde Harry Potter precisa provar seu valor. Tarefas simples, tipo salvar o mundo mágico e o mundo humano. O garoto toma pancada desde a infância até se tornar um jovem adulto. Ou pelo menos até alguém resolver continuar a história.
“Predizer o futuro é uma tarefa realmente difícil”
E os filmes? Apesar do sucesso dos livros, não há como negar: foi através do cinema que a base de fãs do Mundo Mágico se multiplicou. Ainda assim, a produção de Harry Potter e a Pedra Filosofal não quis correr riscos. Afinal, os produtores não eram trouxas.
O orçamento foi modesto comparado ao da maioria de seus sucessores; apesar de não passar vergonha, seus efeitos visuais são bem simplezinhos. Acreditar na magia era passar perto da suspensão de descrença.
A coisa mudou a partir de Harry Potter e a Câmara Secreta: com a boa bilheteria do antecessor, os cofres de Gringotes foram abertos com mais generosidade.
O filme que nos apresentou o Basilisco (aquele cobrão que curtia se esgueirar pelos encanamentos da escola) teve um orçamento bem maior, e consequentemente a qualidade de produção e efeitos visuais foi exponencialmente turbinada.
Para se ter uma ideia, Harry Potter e a Pedra Filosofal custou miseráveis 125 milhões de dólares, arrecadando perto de 976 milhões; já Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2, teve um orçamento em torno de 250 milhões, e obteve astronômicos 1 bilhão, 342 milhões, 38 mil e vinte e um dólares!
A matemática (e a lucratividade) ficam ainda mais mágicas se levarmos em conta que esse orçamento ridículo de 250 milhões de dólares foi dividido entre Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 1 e a Parte 2. Ou seja, custaram mais ou menos o valor do primeiro filme, mas o resultado nas bilheterias foi esmagadoramente maior, tal qual um trasgo enfurecido no banheiro da escola.
“É claro que é na sua cabeça Harry, mas isso não significa que não é real”
Uma mudança bem visível nessa evolução financeira está na caracterização do personagem… bem, você-sabe-quem. No primeiro filme, ele não vai muito além de um adereço de cabeça falante (e muito feio) do pobre Professor Quirrell; à partir do quarto filme, Harry Potter e o Cálice de Fogo, aquele-que-não-deve-ser-nomeado torna-se um personagem tangível e aterrorizante, embora desprovido de nariz.
O que mais dizer da epopeia cinematográfica do jovem bruxo? A série trouxe outra contribuição à história do entretenimento: a belíssima trilha sonora que pontua toda a franquia, desde A Pedra Filosofal e se esparramou para sua “irmã mais nova”, Animais Fantásticos.
Conhecida popularmente como Tema de Harry Potter, a marcante peça sinfônica se chama Hedwig’s Theme. Sim, a música foi composta para a coruja, aqui conhecida como Edwiges, e não para o garoto!
O que importa é que a sequência de treze notas que a caracterizam são quase mágicas, inesquecíveis, automaticamente associada aos personagens do Mundo da Magia. Mesmo que você não queira. Obra de altíssima qualidade do mestre (e maestro) John Williams!
“Hogwarts sempre estará lá para ajudar a quem merecer”
Com mágica ou sem mágica, é inegável que o sucesso da franquia potteriana permanece e mostra potencial para continuar duradouro, seja em que mídia se apresente. Ou aparate.
A exemplo de Friends, que fez um estrondoso sucesso em seu especial The One Where They Get Back Together (ou The Reunion para os mais chegados), a Warner Bros. anunciou para primeiro de janeiro de 2022 o especial Harry Potter 20 Anos: De Volta a Hogwarts, com estreia mundial exclusiva pela HBO Max.
O especial reunirá os atores David Radcliffe (Harry), Emma Watson (Hermione) e Rupert Grint (Rony), e boa parte do elenco original. A autora J. K. Rowling, entretanto, não deverá dar as caras, devido à aqueles comentários, digamos, deselegantes. E é claro, a HBO Max espera da turma frequentadora de Hogsmeade um sucesso igual – ou maior – que o especial dos amigos frequentadores do Central Perk.
Este artigo foi escrito por Arthur Ankerkrone e publicado originalmente em Prensa.li.