Homens não se embriagam
Al Pacino e Marlon Brandon em O Poderoso Chefão. – Foto por Steve Schapiro
Quem me conhece sabe que sou um grande fã de filmes de máfia italiana, em especial da trilogia de O Poderoso Chefão. Acredito que tudo o que vemos hoje em termos de filmes, séries e outras coisas relacionadas ao gênero, tomam como base essa obra prima do cinema e da literatura.
E lendo o livro que inspirou os filmes, não deixei de reparar que a bebida alcoólica é algo sempre presente nos cenários em que a história se passa.
Um anisete aqui. Um Scotch ali. O álcool está sempre presente.
Mas outra observação que fiz foi que, ainda que este elemento seja recorrente, na maior parte do tempo é de uma forma controlada. E quando isso não acontece, são em momentos que trazem logo em seguida consequências desastrosas. Só que eu diria que isso se dá mais pelos personagens do que pelo álcool em si. Don Corleone, — Vito e Michael, posteriormente. — Tom Hagen, Pete Clemenza etc.
Homens que, no decorrer da narrativa, tomam as rédeas e tem os encargos mais pesados na trama.
Eles não se embriagam.
Deixando a ficção de lado, vamos mudar um pouco o panorama. Vamos trocar o álcool pelas emoções, ações e desejos.
Desde os tempos antigos, foi destinado ao homem funções de controle e manutenção de pequenos grupos, que depois evoluíram para sociedades, e assim como na máfia, posições de liderança requerem uma certa conduta fria (e não estou falando de Thomas Shelby). Fria no sentido de manter-se inabalável a qualquer fator externo ou interno que possa comprometer o andamento de uma negociação, por exemplo.
Aristóteles dizia que, ao homem, era necessária a prudência, o justo meio termo. Um homem “embriagado” por suas emoções e prazeres se torna imprudente, assim como o homem que se embriaga com a bebida. Ele não tem o controle de situações das quais ele deveria ter. Se perde. Causa constrangimento a si e aos outros.
E nesse oposto, encontramos Sonny Corleone, quando tomado pela raiva, baixou a guarda e caiu em uma emboscada armada pela família Tattaglia. Para os mais religiosos, temos o Rei Davi, quando estava bêbado, se despiu e dançou junto com o povo.
Veja bem, não estou dizendo que homens não devem ter emoções, ou que não podem aproveitar os prazeres da vida, muito pelo contrário. Emoções são para serem sentidas e prazeres para serem desfrutados. Essas são suas funções.
O alerta é para que sejamos prudentes. É o nosso dever com nós mesmos e com aqueles que se encontram no nosso círculo.
Homens não se embriagam.
Este artigo foi escrito por Elias Corgosinho e publicado originalmente em Prensa.li.