Hypada e polêmica: conheça a trajetória da autora Colleen Hoover
Colleen Hoover é uma das maiores autoras de romance dos Estados Unidos, tendo estado 11 vezes na lista de bestsellers do New York Times e apesar do seu crescente sucesso, a autora texana divide opiniões com seus livros polêmicos e atitudes controversas.
Sua carreira como escritora começou um tanto tarde, aos 31 anos, quando decidiu deixar o trabalho na área de assistência social e publicou seu primeiro livro de forma independente, “Métrica”, e desde então, a autora publicou um total de 24 livros em apenas 10 anos.
Com histórias profundas, a autora se tornou a fundadora de um novo gênero literário, o new adult, e conseguiu conquistar milhões de leitores pelo mundo falando sobre luto, relacionamento abusivo e traumas no início da vida adulta.
O que é, no mínimo, intrigante. Afinal, como assuntos tão delicados foram tão bem recebidos por leitores jovens do mundo todo? Bem, nem sempre foi assim. É o que falaremos a seguir.
Como tudo começou
Aos 31 anos, casada e mãe de três filhos, Colleen decidiu publicar seu primeiro livro “Métrica (Slammed)” de forma independente para que sua mãe pudesse ler no Kindle, o leitor digital que acabara de receber.
Logo na sua primeira história, Colleen trouxe uma narrativa emocionante sobre o luto, contando a história de uma adolescente que perdeu o pai e se apaixona pelo vizinho que também enfrenta o luto. Juntos, Layken e Will utilizam poesias para expressar a dor e o amor.
O que não passava de um hobby, veio a se tornar uma carreira de sucesso expressiva no meio literário. Foi em 2012, quando uma blogueira chamada Maryse Black classificou Métrica com nota 5, que Colleen ganhou notoriedade e seu livro alcançou o 8º lugar na lista do New York Times de ebooks mais vendidos.
Dois meses depois, a autora lançou “Pausa” como continuação de seu primeiro livro e, no mesmo ano, assinou um contrato com a Atria Books, uma das maiores editoras dos Estados Unidos. No ano seguinte, publicou o último livro da trilogia Slammed, “Essa Garota”.
Após o sucesso dos livros, Colleen Hoover largou o emprego para se dedicar à escrita em tempo integral. Já no seu próximo livro, Um Caso Perdido, voltou a publicar de forma independente e alcançou o primeiro lugar na lista do New York Times e permaneceu lá por três semanas, sendo o primeiro livro de lançamento independente a alcançar a posição.
Fundadora do New Adult
Sem querer, Colleen Hoover ficou conhecida como fundadora de um novo gênero literário, o new adult, em que as narrativas retratam o momento ou fase de vida dos jovens adultos que estão na faixa etária dos 18 aos 30 anos.
Em seus livros, a autora evidencia a perspectiva feminina dos problemas vividos no início da vida adulta, sempre mostrando a realidade nua e crua de mulheres reais. A quebra de tabus é uma característica presente em vários livros da autora, o que contribuiu para sua fama positiva e negativa.
Queridinha do BookTok
O livro mais famoso da autora é também o mais difícil que ela já escreveu. Uma história baseada no relacionamento de seus pais, É Assim que Acaba, retrata a violência doméstica vivida por muitas mulheres que estão em um relacionamento abusivo e demoram para se dar conta de que precisam de ajuda.
A autora conta na nota do livro que seus pais tinham um casamento agressivo, mas que sua mãe nunca deixou que isso afetasse a relação do pai com as filhas. A história de sua mãe inspirou seu livro de maior sucesso, que ganhará uma continuação, "It Starts With Us” em outubro de 2022. Mas a autora não pretende escrever mais obras com este tema.
“É Assim que Acaba” teve lançamento em 2016, mas foi em 2021 que conquistou milhares de fãs por conta do TikTok. A rede social que cresceu na pandemia, conhecida pelas dancinhas virais, tem uma grande comunidade de leitores que formam o chamado “booktok”. Com tantas recomendações, o livro bombou e atingiu o 1º lugar na lista de mais vendidos do New York Times.
O livro foi recorde de vendas em livrarias. Segundo Shannon Devito, diretora da Barnes and Noble, uma das maiores livrarias dos Estados Unidos, o livro chegou a vender 10.000 cópias por semana na livraria, desde julho de 2021, graças ao sucesso no TikTok.
O livro também fez sucesso no Brasil, sendo o mais vendido da Bienal Internacional do Livro de São Paulo de 2022.
E tem coisa mais viral que uma boa polêmica? A autora não tem medo de abordar tabus e problemáticas em suas narrativas, e isso também divide opiniões. É sobre isso que falaremos a seguir.
Polêmicas
Começando por uma atitude da autora que desagradou os fãs, um retuíte feito em 2016 de um tuíte de Donald Trump, onde o então presidente dos Estados Unidos fazia uma crítica às celebridades que protestaram contra a sua eleição.
A autora logo se retratou e disse que havia retuitado sem querer, utilizando inclusive a expressão “butt twitter” que significa "apertar sem querer" como o ato de sentar em um controle remoto e trocar de canal.
O que não convenceu boa parte dos seus seguidores, já que para fazer um retweet é preciso clicar duas vezes, sendo difícil não perceber o ato.
A autora nunca declarou apoio ao então presidente Donald Trump, o que deixou os fãs confusos e decepcionados na época. No entanto, Colleen Hoover se retratou e o evento ficou no passado.
Aviso de gatilho
Já em suas obras, a autora também é alvo de críticas por conta dos assuntos delicados tratados com certa irresponsabilidade. Boa parte de seus livros aborda questões comuns em um relacionamento abusivo como agressão física e verbal, assédio e manipulação.
E apesar dos livros possuírem cenas pesadas, a autora não costuma adicionar avisos de gatilho em suas obras. O que também gera frustração nos leitores, já que não podem se prevenir de cenas delicadas antes de comprar o livro.
Em seu livro mais pesado, Tarde Demais, a autora cogitou escrever sob um pseudônimo como forma de diferenciar esta obra das demais, mostrando que este livro teria uma temática mais tensa para os leitores.
Romantização do abuso
Colleen Hoover é conhecida por abordar questões muito dolorosas e dramáticas com bastante transparência. Relacionamentos abusivos são frequentes em suas narrativas em diversos níveis, desde sinais sutis até cenas agressivas e até mesmo desconfortáveis para o leitor.
E além de não sinalizar cenas com gatilhos, seus livros são criticados por romantizar situações de abuso e agressão, onde a protagonista perdoa facilmente atitudes agressivas e tóxicas do parceiro.
No livro É Assim que Acaba, Ryle é um cirurgião renomado que no início do relacionamento com Lily é como um príncipe encantado. Aos poucos, o personagem passa a ter atitudes agressivas que sempre vinham acompanhadas de um pedido de desculpas muito convincente.
Lily, apaixonada pelo namorado exemplar, dá diversas chances e perdoa Ryle por seu comportamento agressivo. O leitor, também comovido e encantado pelo personagem, é levado a perdoar e encontrar desculpas pelo seu comportamento.
[Aviso de Spoiler] Por fim, o personagem não sofre punições por diversas agressões cometidas ao longo do livro, deixando a história sem solução.
Em outros livros, como Novembro 9, o personagem masculino comete uma série de atitudes problemáticas e agressivas que a protagonista perdoa e ainda permanece na relação com um “final feliz”. Deixando a entender que tais comportamentos são aceitáveis.
Falta de representatividade
Outro motivo das críticas recebidas pela autora, é a falta de representatividade em seus livros. De todos os seus 24 livros publicados, nenhum retrata um relacionamento não-hétero, nem mesmo relacionamentos inter-raciais.
Seus personagens são em grande maioria brancos, loiros, ruivos e de olhos claros. Dificilmente a autora retrata personagens de outras etnias, sexualidades ou mesmo religiões.
Quando questionada sobre a possibilidade de escrever um romance gay com personagens masculinos, a autora respondeu que adoraria escrever algo nessa temática, mas que ainda está se educando para escrever com responsabilidade e não tirar o espaço de autores que são LGBTQIAP+.
Ela também declarou que compartilha e divulga autores LGBTQIAP+ como forma de apoiar e fortalecer o trabalho desses autores, que nem sempre tiveram espaço na indústria literária.
Conclusão
Por fim, a autora continua sendo uma das maiores escritoras de romance e new adult, com recorde de vendas e muitos fãs pelo mundo. É responsável pelo projeto The Book Warm Box, uma assinatura de livros em que todos os meses o assinante recebe um livro surpresa autografado por algum autor do mundo.
As rendas obtidas no projeto são destinadas a instituições de caridade, e já foram doados mais de um milhão de dólares.
É inegável sua influência e importância na literatura jovem atual, que apesar de abordar assuntos delicados, também retratam a realidade com uma escrita avassaladora e cativante.
Este artigo foi escrito por Bruna Teixeira e publicado originalmente em Prensa.li.