Ignorem a Rose
“No começo era a ação” – Sigmund Freud
Quem usa o Telegram e abre um chat – modo de conversa de em grupo – sabe que tem a Rose Bot. Sempre quando alguém entre no grupo ou entra no chat do grupo, lá esta Rose com suas perguntas. Participava de um grupo de filosofia que tinha Rose, ela perguntava <<qual filosofia que gostava>> eu respondia, cada um respondia do seu modo. Mas, esse texto nasceu de um chat da Prensa que Silas, para ser gentil, disse para <<ignorar Rose>>. Ignorar Rose é focar na conversa e focar naquilo que importa. O que, na maioria das vezes, isso não acontece e ninguém foca naquilo que interessa.
O fundamento da filosofia da tecnologia é a utilidade daquilo que foi inventado. Primeiro, por que existe o Rose bot? Segundo o site Behmster, Rose é um bot moderador de grupo. A intenção desse bot é impedir que grupos do Telegram encham de spammers. Pode ajudar o dono a gerenciar grandes grupos e é um dos bots mais populares que existem no Telegram. Diz, ainda o site, que esse é o melhor de todos (tem um outro recurso que escreve o áudio para pessoas surdas). Mas, há uma pergunta: para que serve a Rose bot?
Segundo o filósofo norte-americano ANDREW FEENBERG, há uma questão histórica a ser seguida desde a Rose bot. Para as sociedades tradicionais, havia as tradições e os mitos que deveriam ser seguidos e não questionados. Ou seja, as sociedades tradicionais proibiam certos tipos de questionamentos para não desestabilizar o sistema de crenças que essa sociedade estava acostumada. Mas – como todo período humano histórico – veio as sociedades modernas e liberaram o poder de questionar essas crenças e as formas tradicionais de pensamento. O iluminismo europeu do século dezessete, exigiu que todas essas crenças e formas tradicionais de pensamento e instituições se justifiquem como uteis para a humanidade. E esse impacto de mudanças, colocaram as ciências e a tecnologia como base para as novas crenças.
Ainda o filósofo da tecnologia disse: <<Alguém poderia dizer que a racionalidade tecnocientífica se tornou uma cultura nova.>>. Poderíamos dizer, que a partir do iluminismo, houve um nascimento de uma nova cultura, a cultura do útil. Porém, essa cultura é claramente útil segunda as exigências do iluminismo em aumentar o conhecimento e aumentar a utilidade da tecnologia a mais pessoas, mas se tornou muito abrangente que questões mais profundas podem ser feitas sobre o seu valor. Podemos dizer que, não basta ser útil ou que serve para algo, mas, qual o valor que aquilo significa para você.
A questão desse tipo de filosofia vem desde a Grécia antiga, pois, existia dois termos que são importantes até hoje nas sociedades modernas. Um termo é <<physis>> que poderíamos traduzir como natureza – a física, onde se herdou esse termo, estuda a natureza das coisas – e o outro é <<poiêsis>> que era a atividade pratica de fazer. O termo técnica ou tecnologia foi derivado do termo grego <<tekné>> que tinha o significado de conhecimento ou disciplina que se associa com uma forma de <<poiêsis>>. Por exemplo, a medicina seria uma tekné que tem o objetivo de curar o doente, a carpintaria seria a tekné onde o propósito é construir objetos a partir na madeira.
Num modo geral, na visão grega das coisas e naquela época, cada tekné incluía um proposito e um significado para os objetos que eram produzidos e ela orientava. Para entender temos que olhar mais de perto o conceito de physis e poiêsis, ou, existência e essência. Segundo a poiêsis, a diferença entre existência e essência seria real e óbvia. Uma coisa existiria primeiro como uma ideia <<eidios>> e só depois passaria a existir sendo fabricado. Se nota que para os gregos, a ideia do artefato não é arbitraria ou subjetiva, mas pertence a uma tekné.
Há, sem dúvida, uma distinção entre existência e essência não é óbvia dentro da natureza. Uma coisa e sua essência aparecem juntas e existem juntas. Sua essência – aquilo que é – não parece ter uma existência separada. Por exemplo, uma flor pode emergir em conjunção com o que torna uma flor aquilo que ela é ou o que ele é <<acontece>>, de um certo modo, simultaneamente. Por outro lado, depois, poderíamos construir um conceito da essência da flor, mas esta construção é humana, não algo essencial para a natureza como é aos objetos construídos. Por isso mesmo, podemos dizer que, há seres naturais e seres artificiais (de artefatos).
Na verdade, Rose bot é um artefato virtual onde foi construído para um objetivo e tem uma programação definida. Cheio de algoritmos – linhas de constrição onde o computador transforma em número binário (na verdade, ele calcula) – que modera para não ter spam nos grupos. Na realidade, a pergunta seria: para que o spam? Esse tipo de “marketing agressivo” pode vender? A utilidade de algo tem sempre um outro algo envolvido, como se não houvesse vírus não teriam antivírus. Se houvesse ética, não teríamos leis. Tudo tem uma causa e as regras são o efeito.
Este artigo foi escrito por Amauri Nolasco Sanches Junior e publicado originalmente em Prensa.li.