Impactos do Open Finance em investimentos
É sempre complicado tratar de cenários futuros. Estes envolvem uma variedade de incertezas que não podem ser desprezadas. A transformação radical do mercado financeiro a partir Open Finance aponta para muitas probabilidades e algumas tendências, por enquanto.
O Brasil, por certo, está em uma posição de pioneirismo absoluto nesta transformação, ao propor um novo marco regulatório ao mercado e, especificamente no tocante às questões tecnológicas. Na prática, contudo, há muitos pontos em aberto que envolvem o cenário futuro.
Até há pouco, cada instituição financeira era a única detentora das informações sobre os investimentos, bem como dos dados dos seus clientes. Gradativamente estas informações poderão ser partilhadas, após prévio consentimento do cliente, pelas instituições financeiras que têm a obrigação de participar do compartilhamento de dados (segmentos S1 e S2) e pelas instituições que aderirem voluntariamente ao Open Finance.
Em agosto de 2021, começou a fase 2 do Open Finance, a qual permite o compartilhamento de informações de clientes, entre elas, os valores depositados em poupança. Em 2022 está prevista também a fase 4 do Open Finance, que prevê o compartilhamento de dados de investimentos dos clientes, entre eles os CDBs. Desta forma, abre-se uma ‘caixa de Pandora’ de cerca 2 trilhões de reais, os quais serão “visíveis” às instituições participantes do sistema.
Impactos da Fase 2
Na fase 2, iniciada em agosto, R$1trilhão - 97% do total dos depósitos em poupança concentrados em oito instituições obrigatórias (segmentos S1 e S2) tornou-se potencialmente visível. Deste volume, cerca de 590 bilhões de reais (59% dos depósitos em poupança), estão concentrados em duas instituições obrigatórias.
Ressalte-se que a maiorias das instituições dos segmentos obrigatórios (S1 e S2), bem como algumas instituições dos demais segmentos, já possuem a certificação Relying Parties necessária para o consumo de dados. Por consequência, poderão ser construídas estratégias de instituições S1 e demais segmentos para tentar migrar estes depósitos para CDBs - os quais têm risco similar, porém maior rendimento.
Impactos com a Fase 4
Muito em breve, na fase 4 do Open Finance, prevista para entrar em vigor ainda este ano, outro R$1,1 trilhão, emitido por instituições dos segmentos S1 e S2, se tornará visível. Deste total, R$994 bilhões são emitidos com cláusula de resgate e, portanto, poderão ser alvo de captura pelas demais instituições aptas ao consumo de dados.
Historicamente, o segmento S1 paga um menor percentual de DI na comparação com instituições dos demais segmentos. Como resultado, as instituições dos demais segmentos que participam do consumo de dados poderão criar estratégias para incentivar a migração para CDBs mais rentáveis.
O Open Finance veio para colocar o cliente no centro da relação com as instituições financeiras. São abundantes os casos de uso implementados para ofertas e experiencias visando melhorar a vida dos brasileiros. Espera-se agora que, em breve, sejam criadas ofertas personalizadas de investimentos usando os dados do Open Finance.
Este artigo foi escrito por Luigi Iervolino e publicado originalmente em Prensa.li.