Inteligência emocional: o que é e como trabalhá-la da melhor forma (parte 2)
Independentemente de ter ou não uma boa inteligência emocional, é sempre possível melhorar. Para isso, talvez você não tenha condições de arcar com a ajuda de um mentor ou um terapeuta especializado, mas a boa notícia é que você mesmo pode ser seu próprio guia nesse processo.
No entanto, adquirir a capacidade de ser protagonista das suas próprias emoções não é fácil, principalmente no início. Antes que você se desespere, saiba que existem algumas práticas que podem te auxiliar nessa missão.
1. Observe os seus próprios sentimentos
Em um dia a dia corrido, no qual os processos de cumprir prazos e responder diversas demandas fazem parte da rotina, é comum perder o contato direto com nossos sentimentos. Quando isso acontece, somos muito mais propensos a agir inconscientemente e perder as informações valiosas que nossas emoções carregam.
Lembre-se: sempre que manifestamos alguma reação emocional diante de qualquer coisa, estamos recebendo informações privilegiadas sobre nós mesmos diante de uma situação particular, pessoa ou evento.
Esse sentimento que experimentamos pode ser devido às particularidades da situação atual, ou o que ela faz lembrar por meio de pensamentos ainda não processados. Uma pessoa que perde um parente querido em um acidente de moto, por exemplo, pode associar este veículo impulsivamente com uma sensação ruim.
Quando prestamos atenção e procuramos entender o modo como sentimos, aprendemos a confiar em nossas emoções e nos tornamos muito mais racionais ao gerenciá-las.
2. Analise o seu comportamento
Enquanto você estiver refletindo sobre seus sentimentos, aproveite para prestar atenção também no seu comportamento.
Isso significa observar como você costuma agir quando experimenta certas emoções e como isso afeta sua vida cotidiana. O impacto na sua comunicação com os outros e o seu senso geral de bem-estar é positivo ou não?
Uma vez que nos tornamos mais conscientes de como estamos reagindo, fica mais difícil de começar a colocar rótulos no seu comportamento e também nas ações de outros. Essa ausência de julgamentos também te ajuda a ser mais honesto consigo mesmo e entender as atitudes de pessoas que te desagradam.
3. Assuma a responsabilidade por suas ações
Além de conhecer bem seus próprios sentimentos e comportamento, é importante ter em mente que eles são só seus. Sendo assim, você é o único responsável por ambos.
Isso quer dizer que, se você se sente ofendido em virtude de alguma atitude ou acusação de outros (ainda que injusta), apenas você é responsável por essa mágoa. Ninguém tem a capacidade de te atingir sem a sua permissão, porque não há outra pessoa capaz de administrar suas emoções além de você mesmo.
Depois de começar a aceitar a responsabilidade pela forma como se sente e como se comporta, você verá que é possível se dar conta de que o modo como você encara as ações de outros não é nada mais do que uma escolha sua.
4. Procure responder em vez de reagir
Reagir é um processo inconsciente, no qual experimentamos um gatilho emocional e nos comportamos com o objetivo de expressar (ou aliviar) essa emoção. Um exemplo é se irritar instantaneamente com uma pessoa que acabou de te interromper.
Responder, por outro lado, é um processo mais complexo e consciente, que consiste em perceber como se sente e entender quais emoções vem à tona, para depois poder decidir como você deseja se comportar. Um exemplo desse tipo de comportamento é abordar a pessoa que te interrompeu de forma gentil, explicando como se sente e porque aquele não é um bom momento para interrupções.
5. Pratique a empatia
Agora que você aprendeu a não julgar suas próprias emoções tão rápido, que tal adotar essa mesma prática com os sentimentos alheios?
Todas as pessoas possuem defeitos e virtudes, então por que não tirar sempre o melhor delas? Com uma mente aberta em relação ao próximo, é possível compreendê-lo com mais facilidade. Mas para isso, é preciso saber se comunicar.
Ao contrário do que você pensa, ser um bom comunicador é muito mais do que ter boas habilidades verbais. O mais importante nesse processo é saber ouvir e observar. Estudar o modo como os outros se expressam pode dar dicas valiosas sobre como se relacionar com eles.
Por isso, é preciso libertar a mente de distrações e preconceitos quando alguém te procurar para conversar sobre qualquer coisa. Chame as pessoas pelo nome, demonstre interesse em conhecê-las melhor e fique atento aos sinais não-verbais que elas enviarem. O foco aqui é buscar construir uma conexão de confiança com todos que quiserem interagir com você.
Como utilizar sua inteligência emocional da melhor forma possível
Você pode (e deve) fazer uso da sua inteligência emocional no dia a dia para ajustar suas atitudes perante as emoções alheias, adquirir mais influência profissional e lidar com diversos tipos de situações diferentes, tanto no trabalho quanto em casa.
Embora não exista uma receita de bolo para aplicá-la da melhor maneira possível na sua rotina, alguns conceitos devem ser mantidos sempre em mente para que você lide com emoções de forma correta e saudável. Conheça alguns deles.
Equilibrar o falar e o escutar
Ninguém gosta de ouvir qualquer pessoa que fala apenas sobre si mesma. Se quiser dialogar com alguém, é preciso que haja um certo equilíbrio entre as duas vozes. Mas para facilitar ainda mais a comunicação, nada melhor do que unir as opiniões dos dois lados e buscar soluções interessantes para ambas.
Ao focar mais no coletivo, o seu interlocutor se sente parte importante de suas colocações, o que pode aumentar seu foco no assunto que você aborda e até mesmo fortalecer os laços criados entre vocês.
Não economizar reconhecimentos
Um dos momentos mais complicados da nossa rotina com certeza aparece quando precisamos fazer críticas ou comentários desagradáveis para os outros.
No trabalho ou em casa, algumas tarefas simples podem render muitos constrangimentos ou mágoas, como avisar a um amigo que a colônia que ele usou está muito forte, deixar um colega saber que seu trabalho não ficou bom ou ter que dar sua opinião sobre algo que você desaprova.
Uma boa estratégia nestas horas consiste em "maquiar" a sua crítica com o reconhecimento que você possui por aquela pessoa. Ainda que ela seja alguém que você não gosta, todos nós temos qualidades, e não é difícil encontrá-las ao procurar conhecer melhor quem convive com você.
Sendo assim, antes de dizer algo que você sabe que a pessoa não vá gostar, faça um elogio. Depois, faça uma crítica construtiva de forma respeitosa e finalize com outro elogio. Um exemplo é dizer que gosta muito do perfume que seu amigo usa, e que se a quantidade que ele usasse fosse menor, o aroma poderia ser ainda mais agradável.
Valorizar as diferenças
Se há uma coisa que você precisa entender para compreender melhor os seus sentimentos e os dos outros, é que nenhuma pessoa é igual a outra e não há nada de errado nisso. A autenticidade de cada um precisa ser reconhecida se você quer se comunicar de forma emocionalmente inteligente.
Por isso, as particularidades de cada um devem ser percebidas como um mosaico de grandes habilidades e oportunidades diferentes. São essas diferenças que alimentam a forma única e inovadora de pensar de cada um.
Empoderar outros
Além de saber valorizar as pessoas à sua volta, também é essencial que você saiba fazê-las se sentir que são significantes. Para isso, descubra o que as inspira e utilize esta estratégia para motivá-las.
Não se esqueça de manifestar sua atenção e preocupação com seus amigos, parentes e colegas em forma de atitudes, palavras e gestos para que esse sentimento envolva todos os seus relacionamentos e seja predominante na sua vida.
Intensificar o foco
Quando você estiver na presença de outra pessoa, deixe o celular, computador, o trabalho e as distrações de lado. Volte toda a sua atenção para cada indivíduo com o qual você se comunica.
Posicione-se de frente para este alguém, observe a cor de seus olhos e veja como sua expressão facial muda de acordo com o assunto da conversa. Com isso, você estabelecerá um excelente contato visual e comunicará interesse pelo o que ele tem a dizer.
Não o interrompa. Demonstre interesse sobre o que ele estiver dizendo e não mude o tópico imediatamente para falar de si. O foco nesse momento deve ser as necessidades do outro.
A sua competência para administrar relacionamentos está diretamente relacionada ao seu nível de empatia. Lembre-se que todas as emoções contém informação, e ignorá-las nem sempre é a escolha mais sensata.
Como você pode perceber, mostrar abertura para perceber seus próprios sentimentos (e de outros) é uma ótima forma de aprender com eles e elaborar estratégias para aprender a responder diversas situações que aparecem no nosso dia a dia.
Gerenciar suas emoções (em vez de se deixar gerenciar por elas) por meio da inteligência emocional pode te trazer mais sucesso em todos os âmbitos da sua vida. Já imaginou uma nova rotina com mais resiliência e menos estresse? Agora você sabe que é possível.
Este artigo foi escrito por Bianca Lopes e publicado originalmente em Prensa.li.