Isso não é um misto
Imagem por @noscete_mpi e Deixa MANAR (podcast)
Em um certo momento da minha infância, lá pelos meus 9 anos, aconteceu uma coisa que eu chamo de... Sistema Hierárquico Familiar, e eu sei que alguns sabem exatamente o que isso.
A minha mãe - mamãe querida, desculpa, mas é para uma boa causa - resolveu trazer um lanche para eu e meus dois irmãos.
Ao mais velho, foi um Hambúrguer Padronizado; pão, carne, queijo, ovo, alface e tomate; ou seja, 6 ingredientes, e isso porque eu não estou contabilizando o gergelim - se vende separado no supermercado, conta sim como peça autônoma.
O do meio recebeu a mesma coisa, - detalhe, eu estou contando nessa ordem, porque foi assim que ela distribuiu, e para mim, na época - ainda aconteceu em câmera lenta. O que você acham que eu ganhei?
Alguns chamam de misto, mas minha gente, que tipo de misto vem só o queijo? Eu não tive outra escolha, senão fingir chorar, embora eu quisesse mesmo, só que de raiva.
Mas não foi só isso, eu ainda tentei argumentar - só que da minha forma de 9 anos - de como aquilo tudo era injusto e que eu não era menos que eles, mas... foi em vão.
No final das contas, eu comi o misto e ainda recebi uma “conversa”. O curioso é que hoje, eu não gosto muito de hamburguês, prefiro cachorro quente (risos).
Brincadeiras à parte, o ponto central - que a gente costuma perceber muitos anos depois, é claro - não era o misto, mas o que ele representava.
Há quem diga que ele me marcou, mas eu discordo, eu penso que é justamente o contrário, mas só por que, eu consentir.
Quantos e quantos mistos não aparecem na nossa vida? E quantos deles nós nos tornamos permissivos? E eu acho que parte complicada não é nem essa, mas saber o que fazer!
Este artigo foi escrito por Talitha Meireles e publicado originalmente em Prensa.li.