JÓIA DO CATÁLOGO - FILME: A Rebelião (Captive State). 2019 - PRIME VIDEO / HBO MAX
Quando Rupert Wyatt (Planeta dos macacos - A origem) escreveu, produziu e dirigiu este filme de 2019 (Captive State, no original), claramente ele queria passar uma mensagem: “Quando a repressão for total, a única saída é a Anarquia.”
Já vimos isso ganhar forma em sua abordagem brilhante sobre a origem da guerra entre humanos e macacos inteligentes no filme de 2011, mas em A Rebelião, o tom anárquico da visão do diretor/roteirista ganha força e ares muito mais densos e sombrios.
Imagine um mundo onde uma raça alienígena invadiu nosso planeta em busca de nossos recursos, nos obrigou a viver na miséria (a não ser os políticos coniventes com eles) nos impôs total vigilância, um regime de leis e de governo estabelecido por eles e nosso único papel como espécie é trabalhar para manter o governo deles estabelecido sobre nós: Cenário fácil pra se iniciar uma revolta, não? É sobre esta ótica que o roteiro do filme se desenvolve.
Não espere aqui um filme que se explica, que seja fácil de se entender. Pelo contrário. Tanto o desenvolvimento do filme quanto os diálogos são confusos. E vendo e revendo o filme, me parece que é um tom proposital que o diretor escolheu para a trama. E não é difícil imaginar porquê.
A humanidade está em frangalhos. Totalmente dominada pelos alienígenas. Não existe mais exército, nem leis humanas, nem direitos, nem advogados, etc. Tudo o que existe é uma polícia com pouquíssimos recursos, com a única finalidade de manter a ordem e cassar dissidentes nos guetos da sombria Chicago. A única célula de resistência ainda atuante na cidade foi quase totalmente dizimada, junto com os habitantes locais, num ataque alienígena a um desses guetos. E o seu líder, Rafe Drummond (Jonathan Majors) foi dado como morto. Como superar o horror vivido, lidar com as próprias falhas e encontrar forças para organizar e executar um novo tento contra os poderosos “legisladores?”
É neste ínterim que a relação nada amistosa e quase de “pai” pra “filho” acontece entre o Inspetor de polícia Mulligan (John Goodman) e o jovem Gabriel Drummond (Ashton Sanders), irmão mais novo de Rafe. Enquanto Mulligan vigia os passos de Gabriel e tenta mantê-lo longe de encrencas, Gabriel vive um dilema: continuar sendo passivamente um “escravo do sistema” imposto por aqueles que mataram seus pais e deixaram ele e seu irmão órfãos, ou tentar fugir da cidade em busca de um lugar melhor, se é que esse lugar existe.
Pra piorar as coisas, o jovem descobre que seu irmão não está morto. Não só está vivo, mas como uma “fênix”, está organizando na surdina um novo ataque contra os “legisladores.”
Enquanto ele tenta desesperadamente convencer seu irmão "ressurreto dos mortos” a fugir com ele, Gabriel se vê envolvido contra a sua vontade na célula de resistência. Seu plano de fuga dá errado antes mesmo de ser executado e ele tem que tentar sobreviver mesmo sendo cassado por drones alienígenas e por Mulligan, que está determinado a cassar os dissidentes um por um.
O personagem de Goodman é um caso à parte. Até a conclusão do filme (genial, por sinal), ninguém sabe exatamente de que lado Mulligan está. De caçador implacável dos dissidentes a encontros amorosos com a prostituta Jane Doe (Vera Farmiga - Godzilla 2: Rei dos Monstros), é praticamente impossível traçar sua personalidade.
Aliás, a dualidade parece ser algo em comum entre a maioria dos personagens. Até mesmo os dissidentes, pois fingem ser cidadãos comuns levando suas vidas enquanto, na surdina e se comunicando por pombos correio, mensagens escondidas em cigarros de maconha contrabandeados e mensagens subliminares em classificados de jornal, tentam organizar o ataque aos alienígenas.
O próprio ataque soa como uma medida desesperada, um último suspiro da humanidade a fim de dar um basta em toda a repressão e iniciar uma luta pela retomada do planeta. Como o próprio Rafe diz: “light a match. Ignite a war” (que significa algo como “acenda um fósforo, e incendeie uma guerra ``).
Além de nos apresentar o bom Jonathan Majors (que recentemente fez sua estréia no MCU dando vida a Khan, o Conquistador, na série Loki), e de contar com nomes como o próprio Goodman (impagável na pele de Fred Flintstone em Os Flintstones, de 1994), o filme lida muito bem com questões como perdas e sacrifícios, tão comuns em cenários de guerra, e nos ensina, de uma maneira humana e realista, a manter sempre a chama da esperança acesa, mesmo na pior das circunstâncias.
Pra aqueles que gostam de uma narrativa mais densa e um roteiro bem amarrado, este filme é uma boa pedida!
Onde ver? Atualmente está disponível nas plataformas HBO Max e Prime Video.
A Rebelião | Trailer Legendado
Imagem de capa - Divulgação
Este artigo foi escrito por Eliezer J. Santos e publicado originalmente em Prensa.li.