JÓIA DO CATÁLOGO: Jack Reacher - O último tiro
Ok. A adaptação da franquia Jack Reacher, baseada na série de livros do personagem homônimo de Lee Child não vingou nas telonas.
Muito em virtude da implicância de muitos fãs da franquia com a altura do protagonista, estrelado por Tom Cruise, do que pela qualidade dos filmes.
Mas Jack Reacher - o último tiro representa muito bem a categoria thriller de ação policial a que se propõe.
O último tiro já começa "acertando o alvo" no bom elenco escalado. Tom Cruise na pele do protagonista dispensa apresentações (ele também assina a produção do longa). A ótima Rosamund Pike (007- um novo dia para morrer, Garota exemplar) e os consagrados Werner Herzog (O sobrevivente, Encontros no fim do mundo) e Robert Duvall (O sexto dia, Impacto profundo) entregam performances honestas.
Aqui vale um adendo sobre a performance de Herzog: sempre assustador na pele do sombrio "Zec", um homem que faz qualquer coisa pra sobreviver.
Na direção, Chirstopher McQuarrie repete a longa parceria de sucesso com Cruise (trabalharam juntos em Operação Valquíria e na franquia Missão: Impossível).
O longa não deixa de fora quase nenhuma característica marcante desse tipo de filme: uma boa trama, um protagonista "bonzão", uma investigação densa e com ótimas reviravoltas, perseguições, tiro, porrada…
Só faltou mesmo o protagonista dar uns pegas na gostosona, mas aí seria muito clichê. Ao invés disso, Cruise se dá ao luxo de dispensar duas beldades.
Mas o filme passa longe de ser uma história de romance. A trama começa quando um atirador de elite atira a esmo e mata seis pessoas a sangue frio.
Todas as evidências apontam para o ex oficial James Barr (Joseph Sikora): as balas eram dele, que as fabricava em casa. sua digital foi encontrada na cena do crime e a van usada pelo assassino estava em seu nome.
A única opção que resta a Barr é escolher a prisão perpétua ou a execução.
Mas surpreendentemente ele pede pra chamar o ex policial do exército Jack Reacher, com quem havia servido no Iraque.
Após ser abordado por uma jovem chamada Sandy (que só Deus sabe porque a dublagem traduziu para Morena, vivida por Alexia Fast), e se meter numa briga com seus cinco "irmãos", Reacher percebe que "algo errado não está certo", e parece que alguém quer vê-lo longe do caso, mesmo ele duvidando da inocência de Barr.
O clima sombrio, estilo filme noir dos anos 80 dá a tônica da trama, que nos reserva boas reviravoltas e surpresas.
Cruise entrega um Reacher "andarilho" e excêntrico, que não acredita em qualquer história que lhe contam e está sempre um passo a frente das investigações, quase um Sherlock Holmes moderno, sem o ego e a super inteligência.
Os principais personagens aliás são bem trabalhados na trama. Até a gangue que briga com Reacher não são apenas personagens "muleta", que estão alí só pra fazer a trama andar. Há alguma profundidade neles.
A trama aliás, evoluí no tempo certo. Indo do óbvio ao improvável, ela mergulha o expectador numa colcha de retalhos que vai sendo tecida passo a passo por Reacher e a advogada Helen Rodin (Pike), que não fica claro se aceitou o caso por idealismo ou pra desafiar seu pai, o promotor Alex Rodin (Richard Jenkins).
Como ponto negativo do filme eu diria que algumas cenas poderiam ser melhor trabalhadas, como o desfecho da perseguição policial ao protagonista (onde Deadpool certamente chamaria o roteirista de preguiçoso) e também o desfecho do embate entre Reacher e um dos vilões "revelados" no final, que abusou um pouco demasiado das habilidades do protagonista.
Há também uma pequena falha de roteiro. Quando um dos vilões é questionado por suas motivações, ele diz simplesmente que "não teve escolha". E depois não há mais nenhuma menção ao que poderia tê-lo feito mudar de lado. Simplesmente ele se tornou vilão e pronto. Mas nada que chegue a estragar o filme.
Para os amantes do gênero ou pra quem gosta de um bom filme policial, Jack Reacher - O último tiro é uma ótima pedida. Um filme que prende do início ao fim e surpreende no final.
Atualmente ele e a sequência da franquia estão disponíveis no catálogo do Amazon Prime Video.
Este artigo foi escrito por Eliezer J. Santos e publicado originalmente em Prensa.li.