Jornalismo Cultural em tempos de pandemia.
A vida das pessoas é composta de tumultos diários que diferenciam-se entre si pela intensidade, ora em maior ou menor escala. Nos últimos dois anos vivemos um tumulto de escala global que afetou a vida de todos, mesmo aqueles que o negaram e muitos foram os reflexos da pandemia da Covid19 na vida em sociedade.
Mesmo aqueles que trataram e tratam a pandemia como "uma gripezinha", tiveram seu cotidiano alterado, o isolamento se necessário, o uso de máscaras se fez cotidiano e permanente. Expressões como home office, quarentena e lockdown foram incorporadas ao nosso vocabulário mostrando que muitas vezes é necessário recorrer a outros idiomas a fim de encontrar a melhor expressão que explique um fenômeno. Desta forma, a língua se moderniza? Bem, essa é uma discussão para os(as) estudiosos(as) do nosso idioma e como não é a minha seara deixo que façam o debate apropriado.
Quem sou eu?
Sou professor de História da rede pública do Rio Grande do Sul e neste ano completo duas décadas de sala de aula. Possuo pós-graduação em Patrimônio Cultural em Centros Urbanos, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Entre os anos de 2016 e 2021 fiz a graduação em jornalismo. Devido à crise pandêmica enfrentei uma rotina em que orientava meu filho em seu estudo remoto (no seu quarto) ao mesmo tempo em que lecionava para as minhas turmas (na sala) e à noite ainda assistia as disciplinas da faculdade.
Algumas foram as oportunidades em que, ao acordar um sono profundo, estava sentado no sofá - com microfone e câmera desligados, por óbvio- e constatei que estava sozinho "na sala de aula da faculdade". Alguém mais passou por isso? Quem diz que, por ficarmos em casa isolados não cansamos, não ficamos esgotados? Muitas foram as vezes em que, enquanto ouvia a explicação e/ou apresentação de professores/colegas, eu aproveitava para jantar.
O estágio em jornalismo
Esta experiência foi um diferencial, pois naquele momento estávamos em isolamento e não havia mínima possibilidade do retorno ao presencial. Uma das linhas sugeridas era a elaboração de um produto jornalísitico. Antes de apresentar a minha experiência no jornalismo é importante comentar que trabalhei seis anos com a metodologia da História Oral, o que resultou na publicação de três livros e no gosto de ouvir as pessoas se expressarem. Então a minha proposta de estágio não poderia ser outra: um programa de entrevistas.
Antes de elaborar o programa e suas características (nome, identidade visual, horário de exibição) tive que me acostumar com algo fundamental: trabalharia sozinho ou, como eu mesmo digo, em EUquipe. As perguntas que serviram para nortear a elaboração do programa foram: que tipo de assunto quero abordar? Quem eu quero entrevistar?
Considerava que qualquer pessoa tinha algo interessante a dizer, portanto qualquer pessoa poderia ser convidada para o programa. Desde quando os grupamentos humanos pré-históricos desenvolveram ferramentas para sua sobrevivência, lá no Paleolítico, aqueles eram momentos em que a humanidade estava fazendo algo que a distinguia das demais espécies: Cultura. O "fazer cultura" é desde a ponta de flecha pré-histórica até o celular 5G mais moderno da atualidade.
Para mim, ambos são pontos de uma mesma linha de evolução/progresso que contribuíram/contribuem para o desenvolvimento da vida em sociedade. Essa noção ampla do conceito de cultura me dava tranquilidade em poder ampliar ao extremo o leque de convidados(as) de uma historiadora a um jornalista, passando por uma professora de yoga, músicos, imigrantes hiatianos. Enfim, qualquer pessoa poderia/pode ser convidada.
EUquipe
As reuniões eram rápidas, quase não haviam momentos de discordância. Em uma dessas reuniões decidiu-se pelo nome do programa que devido ao tom de informalidade veio fácil: Bate Papo Cultural.
crédito: o autor
Aos que pretendem se aventurar no trabalho em EUquipe é importante deixar aqui o aviso que temos a parte boa e a parte ruim deste trabalho. A boa é que vais trabalhar sozinho e, portanto, serás responsável por todas as etapas do processo. A ruim é a mesma. Em nenhum momento podes delegar tarefas para ninguém, afinal, meu caro e minha cara, é tudo contigo.
Elaborei a identidade visual com o Canva que para quem é pouco afeito a edição de imagem, como eu era, é um achado. A pré-produção da entrevista consiste em definir o assunto com o convidado, elaborar uma pesquisa, um questionário prévio (não te vale da tua memória - ela vai te trair. Isso é fato!), elaborar os cards e divulgar nas redes sociais.
A plataforma usada foi o Instagram. Para tanto, criei um novo perfil "ulissessantosjornalista" e o dia/horário pensado foi a sexta-feira às 20h. A duração do programa era em torno de 50 minutos, podendo se estender até 1h.
O Instagram limitava as lives em 60 minutos na época. Hoje eu não sei se isso mudou. Portanto, fique atento(a).
Com a noção de cultura que permeava o projeto o leque de convidados era muito amplo e como estávamos todos, ou pelo menos deveria ser assim, em isolamento era mais tranquilo conseguir entrevistas. Elaborava-se um texto de apresentação do programa que era enviado para um grupo de dez potenciais entrevistados(as).
Ao passo que iam respondendo positivamente, a agenda era composta. Enquanto isso, era feita uma pesquisa sobre o(a) entrevistado(a). Assim que era dado o "ok", solicitava-se uma imagem para criação do card de divulgação que na semana da entrevista era enviado ao(á) convidado(a), solicitando-se que também divulga-se nas suas redes sociais.
Em três meses e meio de projeto foram realizadas 34 entrevistas com músicos, historiadores(as), políticos, jornalistas, ativistas culturais e professores. Todas as entrevistas desta primeira temporada estão disponíveis no meu canal no youtube "Ulisses Santos".
Depois desta temporada insana, afinal chegou a ter duas entrevistas em uma semana, recebi o convite para inserir o Bate Papo Cultural na programação do canal do youtube Tv Jovens Cronistas, sextas-feiras às 20 horas. Eu era editor de Política deste canal e participava de um programa chamado "Redação JC" aos sábados com a apresentação do jornalista Cláudio Porto.
Bate Papo Cultural - II Temporada
Durante o recesso, entre janeiro e fevereiro, foram realizadas reuniões com o jornalista Claudio Porto para definir a nova identidade visual do programa e sua estrutura. A agenda continuaria sob minha responsabilidade. Eu buscaria os entrevistados, faria a agenda e a pesquisa. Na data da entrevista, o(a) convidado(a) receberia um link para acessar um estúdio remoto e assim realizarmos a entrevista.
Em março de 2021, iniciou a segunda temporada que teve 32 episódios e mais uma vez com uma gama variada de entrevistados(as): jornalistas, músicos, historiadores, sociólogos, artistas entre outras representantes da cultura nacional. O programa teve modificações, como por exemplo, a inserção de vinhetas de abertura e de um quadro, ao final, chamado "dica do(a) convidado(a)", em que ele(a) ficava livre para sugerir um livro/filme/qualquer coisa aos público.
Bate Papo cultural III Temporada
No ano de 2022 foi decidido que o programa seria quinzenal para que fosse mais tranquilo elaborar a agenda. Ao mesmo tempo, criei um programa com novo formato. Este programa é gravado e chama-se Hora Rocker. Neste programete, que dura em média 2:30 minutos eu comento sobre discos (vinil/cd) que marcaram a história do rock. O programa vai ao ar todas as semanas no perfil @jcronistas no Instagram.
Ainda com todas estas práticas de produção/edição de conteúdo, ainda produzo conteúdo em dois perfis no Instagram: @ulissessantosjornalista e @prof_colorado e também sigo lecionando em escolas públicas.
Sigamos!
Este sou eu,
Ulisses Santos.
Este artigo foi escrito por Ulisses B. dos Santos e publicado originalmente em Prensa.li.