Jornalismo e os ‘trolls’ das redes sociais – temos direito à privacidade?
Nos últimos dias, vimos nas redes sociais e no meio jornalístico, a indagação do direito de privacidade de cada cidadão. Em outros países – como os Estados Unidos – esse tipo de lei (regra social) é muito bem preservado, chegando até mesmo, ser rigorosos com isso. Aqui no Brasil, temos muitas deficiências e a privacidade fica meio difícil de entender, quando se trata de vazamento de dados de um usuário ou, até mesmo, dados de uma pessoa que tem contato violado. Temos experiencias no nosso cotidiano como ligações que não pedimos, ou recebimento de mensagens em aplicativos como WhatsApp que não solicitamos.
Mas, como podemos nos defender desse tipo de mensagem ou de ligações que podem e são consideradas como “spam”? Já que temos o direito à privacidade e o direito – junto com a privacidade – o direito de fazer nossas escolhas. Não seria uma questão de exposição por causa da fama – mesmo o porquê, todo cidadão tem o direito de privacidade – segundo as várias constituições. Mas, isso seria valido dentro do ramo do jornalismo? Isso é valido para as pessoas famosas?
Quando fazia matérias jornalísticas – em um site freelance – eu tinha a ética de não escrever sobre tragedias e explorar a dor dos outros. Pois, não iria querem ganhar visualizações – porque ganhávamos por visualização – em cima de dores alheias, afinal, se colocar no lugar das pessoas envolvidas se chama empatia. Talvez, acima da discussão da privacidade está a empatia com as outras pessoas. Como vimos ultimamente, parece que perdemos um pouco essa humanização que nos faz seres sociais.
Claro, podemos dizer que em tom de denúncias de preconceitos e de discriminações – que ainda acontecem com minorias – há necessidade de escrever textos e notícias relatando os fatos acontecidos. Mas, até onde são quebradas esse direito a privacidade?
1 – Jornalismo de verdade
Muitas pessoas não sabem o que é jornalismo e muitos jornalistas não sabem ter compostura de jornalistas. Como sou publicitário – que aprendemos que é primo-irmão do jornalismo – sabemos que um faz anúncios através de propaganda de um produto (mostrando sempre as vantagens desse produto). O outro, coleta, investiga e analisa as informações para a produção e a distribuição de um relatório sobre a interação dos eventos, os fatos, ideias e pessoas que são notícia e que afetam a sociedade em algum grau.
Ou seja, isso tem a ver com a palavra que se aplica a ocupação (seja profissional ou não), aos métodos de coleta de dados e a organização de estilos literário isso, muitas vezes, tem a ver com o ceticismo de certas informações e a intenções que essas informações são geradas. Como nos casos recentes da menina de 11 anos de idade que um veículo de imprensa – que já se envolveu em outras polemicas – noticiou um estupro, sendo que a história não foi bem essa. Será que houve investigação no caso? Até onde essa notícia seria relevante a sociedade?
Poderíamos, até mesmo, alegar que esse tipo de notícia poderia gerar uma discussão social. Afinal, se duas crianças (pré-adolescentes) que não tiveram educação sexual é um problema familiar, do Estado e da sociedade. Mas, envolve muito mais coisas e a sociedade – que tem uma educação precária – não sabe se portar com ceticismo e acabam, muitas vezes, tomando decisões violentas e sem sentido. E tem mais um elemento: a crença, que é assegurada na Constituição.
Outro caso é a exposição de uma atriz e influencer famosa que teve seu caso vazado por uma enfermeira (vendido) e que, teve que se explicar e se expor nas redes por causa disso. Nesse caso, se deve existir ética? Será que casos como esse, tem mesmo relevância social? Ter relevância social é mudar a sociedade para melhor e melhorar ela com mudanças e informações relevantes. Qual benefício casos como este, poderá ter para a sociedade?
As mídias sociais – como alguns chamam as redes – podem ter relevância para um aprendizado e informação em tempo real. Mas, não pode ser usada para agredir, para ferir dignidades em nome de benefícios próprios como milhares de veículos da imprensa que vinculam esse tipo de informação irrelevante. E isso tem a ver com o “troll” das redes ou, como é chamado hoje, “hater” (odiador).
2- Troll, hater e privacidade
Quando se diz em redes sociais – redes que as pessoas interagem – podemos dizer que começou em 2004 com o Orkut. Mas, a internet sempre teve lugares de discussão de ideias, como fórum, grupos e outros lugares. Ali, se começa a ter gírias e nomes que traziam características peculiares. Um desses termos e o troll, que como gíria de internet, seria usado para designar pessoas que tenham comportamento ou comentários que desestabilizam uma discussão. Ela faz aquela bagunça e ninguém mais sabe o que está sendo discutido.
Na internet, um troll é um usuário que provoca e enfurece as outras pessoas que estão na discussão com comentários injustos e bastante ignorantes. O único objetivo de um troll é sempre provocar a raiva e a ira de outros em determinado grupo. Podemos dizer que um troll não seria um hater porque um hater é “aquele que odeia’, mas um troll não odeia nada, a questão dele é acabar com a discussão virtual.
Mesmo assim, o termo troll tem vários significados. Podem significar criaturas antropomórficas da mitologia escandinava. Eram descritos como gigantes muito feios, como ogros, ou ainda em pequenas criaturas que eram parecidas com goblins, que viviam em cavernas ou grutas subterrâneas.
Já o hater – como já disse – é um termo em inglês e que tem o significado “os que odeiam” ou “odiador” na tradução literal a língua portuguesa. O termo hater é bastante utilizando nas redes sociais para fazer uma classificação algumas pessoas que praticam "bullying virtual" ou "cyber bullying". Podemos dizer, grosso modo, que o hater não está muito preocupado com o êxito de outras pessoas, mesmo o porquê, seu intuito sempre é “atacar” e fazer duras “críticas” a uma outra pessoa. Assim sendo, sempre o hater desvaloriza uma opinião só por desvalorizar e desdenhar a opinião de um opositor.
Nesses dois casos, vimos uma preocupação de deixar a discussão bastante política – ou polarizada – em casos de cunho particular se tornou algo politizado e que, como já foi dito, não interessa a sociedade. E a questão da privacidade – que no Brasil ainda está engatinhando – tem subterfúgios muito estranhos e que deveriam ser preservados, já que seus dados são propriedade sua e não se deveria ser espalhado.
A questão é muito mais ampla e tem a ver em separar meras opiniões com críticas ou ataques – tanto religiosos quanto ideológicos – onde se você não concorda fica colocado em um outro espectro dentro daquilo que se discorda. Mas, existem assuntos muito mais complexos e que se você faz uma crítica vazia, você se tornara hater. E se você só quer “bagunçar” a discussão – tornar ela banal – você se torna um troll. A trollagem ou o ódio gratuito, não agrega nada a discussão séria e de bom tom.
3 – Conclusão
Podemos chegar na conclusão de que há uma polarização dentro das redes sociais que, por um lado, pode ser positiva em dar liberdade de opinião. Mas, ao mesmo tempo, existem pessoas que não se contentam em dar só sua opinião, mas, chegam a fazer uma espécie de bullying virtual e começam a perseguir essa pessoa por opiniões políticas que não concorda ou atos que estão contra as suas crenças. Daí, como todas as sociedades fizeram ao longo das eras, constroem leis para inibir esse tipo de conduta. Mas, será mesmo que resolve? Será que inibe só quem faz isso ou acaba inibindo e coagindo toda uma sociedade?
Não podemos ter uma opinião cartesiana – em miúdos, preto no branco – onde existem duas escolhas, pois, estamos lhe dando com assuntos humanos que existem sentimentos. Por outro lado, quem cometeu tais crimes? Qual a verdade por trás das histórias e o porquê elas vieram à tona? Pois, todas as condutas humanas, contem interesses e esses interesses nunca são bons diante de fatos particulares.
Jornalismo de verdade não faz isso.
Este artigo foi escrito por Amauri Nolasco Sanches Junior e publicado originalmente em Prensa.li.