Juliette: a rainha da coisa toda
Muito além de uma sister - Foto: Divulgação LA
Durante algum tempo, escrevi roteiros para versões nacionais de documentários de vida natural. Com bichinhos fofinhos, normalmente devorados por outros bichinhos não tão fofinhos. A vida é cruel no Reino Animal.
Entrementes, cheguei a conclusão: não há bicho mais peculiar que o ser humano. O desejo por se destacar na multidão nos impulsiona de modo irrefutável a fazer coisas estranhas.
Escrever para um portal de jornalismo, por exemplo. Ou, sei lá, querer ser convidada para a Farofa da GKay. No passado, sair com uma melancia pendurada no pescoço já resolvia. Mas poucas coisas são tão eficazes quanto participar de um reality show.
E é sobre uma curiosa subespécie que deteremos nosso olhar: os ex-BBBs.
Só uma espiadinha
Até hoje, foram 1706 episódios em 21 edições, com quase trezentos participantes. Para se ter uma ideia, houve participantes da última edição que sequer eram nascidos na ocasião da primeira.
Desse mundaréu de gente, alguns fizeram sucesso e perduram sob os holofotes muitos anos após sua participação. Caso de Sabrina Sato, Grazi Massafera, Jean Wyllys, Ana Paula Renault e mais uma meia dúzia de cinco ou seis.
A grande maioria apenas consegue aproveitar seus quinze minutos de fama e acaba caindo no limbo destinado aos participantes de realities, normalmente falidos, eventualmente depressivos.
Mas outros despontam de maneira tão surpreendente que fizeram uma experiente jornalista (eu mesma) coçar a cabeça em uma indagação: “de onde veio? O que faz? Para onde vai? É bonito aqui?”.
Resolvi então arregaçar as mangas (mentira, estava usando uma blusinha de mangas curtas) e debruçar-me sobre o perfil daquela que sintetiza perfeitamente essa vertente de ex-BBBs bem sucedidos, passando a ocupar as principais manchetes e também a Internet.
Quem é essa tal de Juliette?
Como diria Roberto Cabrini, me acompanhe nesta investigação.
A rainha da coisa toda
Meu primeiro passo foi descobrir de onde pululou esta notória participante do BBB 21. Não tenho vergonha e digo que sabia muito pouco e apelei para pesquisar na internet; desci às profundezas da Wikipédia.Nem sempre confiável, mas sempre um caminho.
A primeira coisa que descobri é que a moça, com nome e sobrenome, Juliette Freire, 32 anos, é uma pessoa multifacetada; advogada, influencer, maquiadora, cantora e apresentadora.
Confuso a princípio, mas dá pra começar a entender esta proliferação de seu nome no noticiário.
Música para seus ouvidos (e conta bancária)
“Advogada” não me parecia uma boa linha de pesquisa. Resolvi arriscar “cantora”. Registre-se nos autos: na juventude, a ex-participante (e vencedora) do BBB 21 interessou-se em seguir carreira musical, gravando algumas músicas gospel, inspirada pela igreja que frequentava.
Logo percebeu que não iria muito longe desse jeito, e retornou à igreja católica.
Mas vejam como são as coisas: mal saiu do reality, assinou com a Virgin Music Brasil e gravou um EP com o (originalíssimo) título “Juliette”.
Impulsionada pela popularidade do BBB, bateu o recorde de pre-saves do Spotify, na véspera do lançamento, com nada menos que 222 mil inscrições. Número modesto se somar às demais plataformas de streaming de áudio: 600 mil inscritos.
O álbum traz seis canções, tendo a produção “amadrinhada” por ninguém menos que Anitta. O principal destaque é a faixa “Diferença Mara”, uma baladinha que rapidamente alcançou o Top 100 Mundial da plataforma, com o pegajoso refrão “a nossa química é rara, nossa diferença é mara…”. Dias após o lançamento, chegou a figurar no Top 50.
O EP continua com um número expressivo de downloads, quase quatro meses após o lançamento. Ok, podem não ser novos clássicos da música nacional, mas são agradáveis, dançantes e grudentas, o que sempre é muito bom para quem pretende perdurar fazendo sucesso.
Vamos fazer uma selfie?
E quanto à Juliette influencer (ou se preferir, instagrammer)?
Pouco depois de sair do reality show, seu nome passou a figurar entre as 25 contas mais acessadas do país no aplicativo. Isso gerou dividendos poderosos para nossa heroína: com tanta gente vendo suas publicações, dezenas de empresas e agências passaram a disputá-la para anunciar produtos e serviços, através de suas redes sociais. O nome “Juliette” vende tudo, e vende bem.
Segundo reportagem do portal G1, em maio de 2021, a moça saltou de 4 mil para mais de 24 milhões de seguidores, conquistados enquanto estava confinada na casa mais vigiada do Brasil. O que a credenciou automaticamente como uma ferramenta de vendas das mais respeitáveis.
Isso foi evidenciado pelo próprio Tiago Leifert, na ocasião apresentador do BBB 21, enquanto a parabenizou pela trajetória e pela conquista: “não sou eu que estou dizendo isso… são os mais de 24 milhões de seguidores que você tem. Juliette, você é um fenômeno”, finalizou, para uma Juliette assustada com tanta repercussão.
Segundo dados na mesma reportagem, o valor de uma publi para quem tem a partir de 1 milhão de seguidores, pode valer a partir de 10 mil dólares. Em termos atuais, 60 mil reais (em dinheiro de gente).
Não precisa fazer muito esforço para constatar que nossa amiga tem o Insta repleto de anunciantes: sapatos, perfumes, cervejas, bancos, serviços de streaming, chinelos, cosméticos, roupas, lojas de departamentos… Juliette tem seu “toque de Midas”, ou se preferir, é uma máquina de fazer dinheiro.
… and the winner is… Juliette!
Não à toa, Juliette recebeu o prêmio de Mulher do Ano da revista GQ, concedido pela revista internacional aos destaques nas artes, negócios, moda e esportes. Bem diferente daquela outra premiação que certo presidente de certo país da América do Sul queria ganhar, segundo o que escrevi outro dia nessas páginas.
Como troféu pouco é bobagem, arrebatou também o Prêmio Jovem Brasileiro, em três categorias: Melhor Participante de Reality, Melhor Programa (pelo documentário disponível na Globoplay) e Rainha do Insta, sendo a artista mais laureada nesta premiação.
No início de dezembro, a moçoila levou mais um para casa, o People 's Choice Awards 2021, outorgado em Santa Monica, Califórnia. Ok, ela levou na categoria regional, concorrendo com Gil do Vigor, Pequena Lo e Nath Finanças, entre outros; pode nem ser uma premiação tão relevante, mas só confirma a tremenda evidência de Juliette.
Um documentário para chamar de seu
Espera aí… ela ganhou um prêmio por um documentário? Não é o que eu falava lá no começo da reportagem?
Sim, nossa Juliette também foi objeto de estudo de um documentário, intitulado Você Nunca Esteve Sozinha; apesar de não ser um daqueles programas com bichinhos fofinhos, a série tem sete episódios produzidos especialmente para o Globoplay.
Dirigida por Patrícia Carvalho, o doc entrou em produção logo após o término do BBB 21. Segundo a sinopse disponível na plataforma, os episódios buscam responder: “quem é essa mulher? O que no seu passado projeto o fenômeno que ela (sic) se tornou? Os bastidores da fama e os próximos passos”.
Pelo que vi da produção, a história parte da vitória no reality e faz um flashback profissional e pessoal da garota, encerrando nos bastidores da gravação do clipe “Diferença Mara”.
Não faltam participações de diversas figuras da música e do entretenimento, desde Duda Beat e Maria Gadú (citada nominalmente na letra de “Diferença Mara”), a Carlinhos Brown, Gilberto Gil e Anitta.
Sempre em frente
E os próximos passos? O “para onde vai” que escrevi no início?
Não seria exagero afirmar que Juliette deva aparecer ainda mais no cenário musical em 2022. A única nova estrela que talvez brilhe com tanta intensidade seja a gaúcha Luisa Sonza, que ainda assim é bem menos palatável para boa parte do público, devido a um estilo um tantinho mais ousado.
Uma coisa certa é o lançamento de uma música com o DJ Alok, prevista para janeiro de 2022, e pelo que a própria Juliette tuitou, “vocês vão enlouquecer. Sério! Não é marketing! Nem eu esperava”, fechando a mensagem com um singelo emoji de coração.
Ela diz não saber o que virá em 2022, segundo a revista Quem Acontece, mas pretende finalmente tirar férias, coisa que se privou desde o final do BBB. Mas Juliette deixa um recado: “quero ficar bem, apresentar o que tenho de melhor. O ano é nosso, de todos nós que estamos vivos em meio a essa pandemia. Mas não dá para descansar. A cabeça não para de pensar em projetos um minuto”.
Uma constatação, para encerrar a reportagem: no momento, Juliette tem cerca de 33 milhões de seguidores no Instagram, e pasmem, foi uma das pouquíssimas influencers, celebridades ou coisa que valha a não dar as caras na Farofa da GKay, apesar de ter sido convidada pela anfitriã Gessica Kayane!
Juliette transcende o reino das subcelebridades e firma o pé nas constelações de estrelas de porte médio, a caminho da primeira grandeza. Um passo desejado, mas muito improvável para a maioria dos participantes e vencedores de realities.
Eu volto!
Este artigo foi escrito por Clarissa Blümen Dias e publicado originalmente em Prensa.li.