As lições de uma derrota
Os Jogos Olímpicos são um evento fascinante. A reunião de tantas modalidades em um espaço de 15 anos mobiliza pessoas que nem são tão ligadas em esportes, mas que abrem uma exceção para torcer pelos atletas de seu país e, caso estes tenham boas chances de medalha, um tanto melhor.
Um bom exemplo disso é o Surfe. A modalidade fez sua estreia no Japão com grande audiência no Brasil pela presença de competidores de alto nível, tanto no masculino como feminino. Com a expectativa de conquista de medalha, os olhos da audiência se voltaram para o desempenho de Italo Ferreira, que faturou o Ouro, e Gabriel Medina, que acabou a competição sem medalha, mas com muita controvérsia sobre o seu resultado.
Gabriel Medina é um surfista consagrado. Aos 27 anos, seu talento nas ondas é uma unanimidade. Por este fato a expectativa de uma final 100% era enorme. Na semifinal, o brasileiro encarou um adversário japonês e foi surpreendido. A diferença entre as notas dos dois foi mínima, porém, a derrota teve um sabor amargo para Medina, sua equipe, para muitos entendidos do esporte, e para a torcida.
O surfe é um esporte em que o desempenho do atleta depende de fatores que fogem do seu controle. O primeiro é o mar, que em um dia pode estar excelente e, algumas horas depois, péssimo. O segundo é o fato de que sua nota é dada por um grupo de jurados. Gabriel Medina e seu adversário realizaram manobras muito parecidas, porém os jurados deram uma nota mais alta ao japonês.
A indignação pela derrota levanta importantes pontos a serem pensados sobre o mundo do esporte. As redes sociais deram voz ao torcedor, que pode em tempo real demonstrar sua indignação. Medina também não escondeu sua contrariedade. Quase que instantaneamente 210 milhões de brasileiros viraram especialistas no julgamento de ondas. Será mesmo?
Gabriel Medina obteve duas ótimas notas logo no começo da bateria, que tem 30 minutos de duração. A impressão de quem assistia pela televisão era de que o surfista passou a administrar a disputa com o japonês, até ser surpreendido e precisar correr atrás de uma virada que não veio. Vitórias e derrotas fazem parte do esporte. E sejamos sinceros, pouquíssimos brasileiros têm a capacidade de julgar com conhecimento de causa os critérios usados para definir a nota de uma manobra no surfe. Portanto aceitemos a vitória e a derrota de nossos ídolo com mais serenidade.
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Este artigo foi escrito por Marcos Koboldt e publicado originalmente em Prensa.li.