Limbo, covid e a HBO
Nem tudo o que é novo é bem aceito. Do retumbante fracasso do Google Glass ao uso da seta em muitas das cidades brasileiras, algumas das novidades padecem de carisma, design e vergonha na cara. Ou como diz a mais brasileira das expressões "tem lei que pega, outras não". Ainda assim, de todos os adventos dos anos 2000, a velocidade parece desfrutar de aceitação universal.
Da turiassu à radial leste; do cabo da boa esperança à aurora boreal, ninguém gosta de esperar. Esquimós, faria limers, hindus e estagiários se unem em incômodo quando alguém perde prazos ou caças. O tempo nem sempre é dinheiro, mas o custo da espera sempre parece alto demais. Fazemos qualquer coisa para "passar o tempo", o que inclui ver foto de gente que não importa, noticias irrelevantes e navegação aleatória.
Se a tradição católica tem o purgatório, os consultórios médicos, as salas de espera, a pandemia trouxe o limbo do teste de COVID. Um tempo entre o pretérito libertino, o presente sintomático e o amanhã incerto. Uma espécie de multiverso viral que mistura "eu avisei" com "depende do resultado".
O PCR é uma espécie de bedel da realidade, ressaca da aglomeração. Um lembrete de que o vírus recusa a ceder espaço mesmo quando as restrições diminuem. Os planos, viagens e projetos instagramáveis que, costumam esconder modorrência dos outros 335 dias do ano, são forçados a permanecer sob a névoa da dúvida.
Ou como diz Mare da excelente série (HBO) maratonada nessa última quarentena forçada: "Fazer algo grande é superestimado. Porque então as pessoas esperam isso de você o tempo todo. O que eles não percebem é que você está tão ferrado quanto eles".
Imagem de capa - A careta é real - Photo by Mufid Majnun on Unsplash
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Este artigo foi escrito por Daniel Manzano e publicado originalmente em Prensa.li.