Lingua Portuguesa: o perigo dos parônimos.
Num programa jornalístico de renome e numa das maiores redes do país, ouvi um dos comentaristas falar em “recursos vultuosos”. Empregada no lugar de “vultosos” atinge tanto a coerência – que é o encadeamento lógico – quanto a semântica, pois torna a frase sem sentido: vultuoso significa rosto inchado e/ou avermelhado.
O emprego dos parônimos – palavras parecidas, mas com significado diferente – precisa ser feito com cautela. Afinal são comuns os erros ao falar ou escrever. Quando se trata de jornalistas, é praticamente imperdoável.
Outros parônimos que ensejam equívocos são: mandato (exercício de um cargo por tempo certo) e mandado (ordem de uma autoridade); infringir (desrespeitar alguma regra) e infligir (impor alguma coisa); delatar (denunciar) e dilatar (ampliar). Exemplos são inúmeros numa língua rica como o português.
Significante e Significado
O erro descrito no início deste artigo implica também no equívoco entre significante e significado. Ferdinand de Saussure, linguista suíço do início do século XX apresentou a definição de signos que compõe a língua e são divididos por duas facetas: significante e significado.
O significante é o que é concreto, aquilo que impressiona os sentidos. O significado está no campo mental; é o conceito, abstração. Sons e fala, pela definição, são significantes. A identificação mental do objeto e das pessoas é o significado. Portanto, só vamos dizer ou escrever “mesa” se soubermos antes que o objeto visualizado é uma mesa.
O significado é estável, ao contrário do significante que sofre alterações conforme a língua – no exemplo, “mesa” será “table” em inglês – ou mesmo considerando diferentes regiões do país e grupos sociais. Mandioca, dependendo da região, será chamada de macaxeira ou aipim. Gírias, normalmente, identificam o grupo social, exceto quando se tornam de uso geral.
No caso de “vultuoso” há um significante e um significado totalmente diferente de “vultoso”, o qual se refere a grande quantidade. Há uma explicação para o emprego errôneo: os ditongos oferecem um apoio fonético principalmente no meio de palavras. Assim ocorre em “apaixonado” e “biscoito”, palavras em que é mais difícil observar formas apocopadas na linguagem oral. “Cabeleireiro”, entretanto, oferece uma dificuldade maior pela presença de dois ditongos crescentes, sendo comum se ouvir “cabelereiro”.
Polissêmicos e Homônimos
A homonímia na parte semântica é importante para diferenciar o significado de palavras homógrafas como emprego (substantivo) e emprego (verbo), homófonas como cessão e sessão e homógrafas homófonas (homonímia perfeita) como cedo (advérbio) e cedo (particípio do verbo ceder).
Os polissêmicos, então, vão depender sempre do contexto empregado. Romance (significante), por exemplo, pode ser um livro ou um relacionamento (significados diferentes). Não raro, haverá ambiguidade. Em “após dois meses, perdi os óculos” pode significar que os óculos não servem mais ou que simplesmente não sei onde estão.
Para não se perder na riqueza do português, vale sempre considerar as indicações de significante e significado e o contexto. Nem sempre erros vultosos são percebidos somente pelo emprego incorreto de parônimos. Na verdade, são mais perceptíveis. Portanto, fique sempre atento.
Este artigo foi escrito por Renato Assef e publicado originalmente em Prensa.li.