Locomotivas e Hyperloops
Entre locomotivas e Hyperloops, Bolsonaro tem feito sua escolha. Imagem: Alan Santos/Agência Brasil
Nas estradas que cortam os interiores do Brasil, abundam outdoors que reforçam o apoio do agronegócio ao presidente Jair Bolsonaro. Ele e seu séquito gostam mesmo de demonstrar seu apreço pelo setor, a que chamam “locomotiva da economia”.
Nisso, não estão de todo errados. Apesar de, em 2020, ter representado apenas 6,8% do PIB (dados do Sebrae), a produção da agropecuária compõe quase metade de nossas exportações, segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Além disso, o agronegócio foi o único setor da economia que cresceu em 2020. Assim, se exportamos mais do que importamos mesmo no auge da pandemia, foi muito graças a ele, a quem o nosso presidente é tão grato.
Contudo, se considerarmos só os maquinistas da agropecuária na equação, a conta não fecha. Isso porque, se exportamos commodities e não temos uma indústria nacional capaz de suprir nossa necessidade de tecnologia, isso quer dizer que nós literalmente vendemos ferro para recomprá-lo como parte de um celular por um preço muito maior.
Onde está a mágica então? Ora, está por trás do preço daquele PlayStation ou IPhone que, nos EUA, são praxe na casa do trabalhador médio, mas no Brasil são artigos de luxo. Está nas barreiras tarifárias, que evitam as custosas importações e a chegada dessas tecnologias ao Brasil.
A solução é, então, renunciar ao superávit, essa diferença positiva entre exportações e importações, que provê reservas de dólares para proteger o fraco real de tempestades cambiais? Claro que não. Tampouco é transferir as forças produtivas e o capital do agronegócio para a indústria: temos solo e clima ideais, não podemos arcar com os custos de renunciar a isso cabalmente.
O que falta é tecnologia brasileira: alimentamos as ideias do mundo, mas não as nossas. Trocando carícias com o agronegócio, o presidente se esquece de ajudar a ciência, de onde sai o valor que se agrega à balança comercial, à nossa moeda e, sobretudo, aos latifúndios do outdoor. O segredo não é a força da “locomotiva”, mas a inteligência do Hyperloop.
Este artigo foi escrito por Diogo Leite e publicado originalmente em Prensa.li.