Loki - o deus da trapaça no tempo e no espaço da Marvel
Então os Vingadores acham que é zona? Que é a casa da mãe Joana?
É só um aspirante a deus roxo querer aniquilar metade do universo e conseguir atingir sua meta que eles podem simplesmente voltar no tempo, atrás de umas bijuterias cósmicas, para botar “ordem” na casa?
O que um mísero, elegante, charmoso e astuto deus da trapaça vai fazer? Ora, vai aproveitar a oportunidade da algazarra à sua volta para escapar por entre os dedos dos supostos benfeitores coloridos, saindo de uma panela de prisão asgardiana.
Para cair no fogo do espaço-tempo.
Loki é a terceira série da nova safra que a Marvel cozinhou. Num passado longínquo, existia Agents of Shield e até uma série da Agente Carter. Depois fomos para uma fase de altos chocantes (Demolidor) e baixos catastróficos (Punho de Ferro) no que chamaremos de “Era Netflix”. Aí chegou o Disney+.
Depois de bruxarias mil com WandaVision e patriotismo total com Falcão e Soldado Invernal, chegou a hora de um verdadeiro favorito do público tomar os holofotes.
O outro filho de Odin, Loki,interpretado por Tom Hiddleston, quer liberdade. Pelo menos a princípio. Infelizmente, liberdade é o que ele não vai encontrar, mesmo em níveis cósmicos. Logo que se vê solto novamente, é acorrentado por uma turma de agentes da Autoridade de Variação Temporal (TVA, em inglês).
Esses policiais viajam pelo tempo procurando “gente que saiu do curso definido da história”, para que a linha cronológica sagrada seja mantida intacta. Ou seja, Loki, deus da travessura, não pode ser deus de seu próprio destino. O que deixa nosso herói visivelmente frustrado. Os agentes levam-no para uma dimensão fora do tempo, onde ele conhece o Agente Mobius (Owen Wilson).
E Mobius vê em Loki mais do que o próprio vê em si mesmo. Vê nele uma chance de parar outra Variante (como chamam as pessoas que desafiam a linha do tempo sagrada), uma que está tentando causar um pouco de “terrorismo espaço-temporal”. Propõe uma alternativa à aniquilação total: uma parceria.
DOIS HOMENS. UMA MISSÃO. (Imagem - Divulgação)
Loki, agora com outro propósito, embarca numa investigação que faz lembrar alguns momentos de Ricky and Morty, porque envolve dimensões, loucuras sci-fi e versões alternativas dele próprio. Uma dessas versões, Sylvie (Sophie Di Martino), é a própria terrorista temporal.
Detetive Temporal Loki
Os três primeiros episódios da série se mostram bem diferentes do que a Marvel tem criado na Disney+. Os valores de produção, altíssimos, continuam convencendo o espectador de que ele está vendo um Filme Marvel, só que na TV. Mas ao invés de capitalizar num drama emocional, como em WandaVision, ou sociopolítico, como em Falcão, o lance aqui é mais filosófico e caótico (pensando bem, quando o assunto são linhas temporais, a gente sabe que podia ser mais caótico ainda, como em Dark).
A mencionada frustração de Loki ao perceber que não é o centro do universo, e pior, não tem poder para escolher o seu destino, abre uma motivação inovadora para o personagem. É o tipo de discussão que só os elementos mais viajados da Marvel são capazes de abordar, como Dr. Estranho ou o Surfista Prateado (ainda sem previsão para aparecer no MCU).
E junto disso há a loucura de poder, por exemplo, ir para o momento da queda de Pompéia, ou para um planeta prestes a ser destruído, tudo enquanto tenta alegremente entender o que está acontecendo, ou pelo menos continuar vivo. Após descobrir que para a maior força do universo, o que poderia ser literalmente “deus”, ele não importa lá tanto, Loki se vê sem propósito. Mas de certa forma livre.
Num momento de discussão com sua sósia-de-outra-dimensão, Loki até revela ser bissexual. Compartilha a dor de perder sua mãe, talvez a única pessoa que realmente tentou entendê-lo. E mostra que seu hedonismo pode ser a forma que um príncipe-deus tem de se autossabotar.
A liberdade, a fuga e o controle sobre quem Loki realmente quer ser (ou é) são o foco da série. É animador ver a Marvel se preocupando bem menos com eastereggs e fanservice, e um pouco mais com quem seus personagens são, e quem podem representar.
Ainda temos três episódios para ver até quais profundezas do universo o grande Loki chegará.
Será que ele vai realmente encontrar os Guardiões do Tempo? Será que vai voltar para Asgard e reinar como sempre mereceu? Ou será que vai encontrar um canto sossegado no universo para envelhecer, regado à bebida, festas e travessuras?
Sylvie dá a dica: o amor é desordem.
Daqui a três semanas a gente descobre.
(Imagem da capa - Divulgação)