M3GAN (2023)
Assisti M3GAN hoje a convite da Universal Pictures e, devo admitir, é um filme competente. Talvez não em assustar. Mas justamente em causar estranheza. Vá aos cinemas, compre a sua pipoca, mas veja como uma comédia, vai ser muito mais divertido do que se desapontar com esse filme como uma peça de terror.
Chegando em boa hora para se juntar ao panteão no qual Anabelle e Chucky ocupam tronos, cortejados por tentativas agridoces recentes como Brahms, da natimorta franquia Boneco do Mal e até mesmo o mascote macabro de Jigsaw em Jogos Mortais, M3GAN ofertou uma campanha generosa de marketing. Alinhada com as mais recentes tecnofobias que deixam os nossos populares bonecão macabro da Xuxa e do Fofão no chinelo, o filme sombreia de forma inteligente a grande vedete do futuro que finalmente chegou: a inteligência artificial. E o faz de maneira direta e sucinta. Mas pouco se detém nessa ou em qualquer outra questão levantada.
É um festival de “quases” debates prestes a acontecer, que são interrompidos no momento exato em favor de um entretenimento muito mais leve e necessário. Temas como parentalidade, luto infantil, excesso de zelo, vício em trabalho e protagonismo feminino vão surgindo e imediatamente sendo esmagados pelos clichês delirantes de um slasher tão bom que poderia ter estreado 30 anos atrás na Tela Quente. M3GAN é uma retomada do básico, de tempos mais simples, onde as mortes não aconteciam explicitamente em frente à câmera e a coerência narrativa era perdoada pelo absurdo.
O filme se alinha perfeitamente em conceito com sua protagonista. O vale da estranheza aplicado na figura de M3GAN se transpõe ao filme conceitualmente. Personagens são bidimensionais, detetives que riem quando certamente não deveriam, chefes caricatamente abusivos… Nada parece exatamente certo… e ao mesmo tempo funciona. Eu achei o filme tão estranhamente descontraído de si mesmo, tão especificamente esquisito, que não consigo deixar de pensar que não pode ser um feliz acidente: M3GAN foi feita pra confundir. Não acho coincidência, inclusive, que o filme venha no vácuo de Maligno, outra produção de James Wan, igualmente esquisita, mas sem o brilho juvenil que a Blumhouse trouxe a M3GAN. Em tempos onde o novo horror elevado da A24 e de prodígios como Jordan Peele suspendem o medo em um pedestal, M3GAN ri disso tudo sentada no chão, se divertindo com o público que a olha nos olhos. Recomendo assistir no cinema para poder se divertir toda vez que apanhar uma reprise nos Telecines da vida em um futuro muito próximo.
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Este artigo foi escrito por Marcel Trindade e publicado originalmente em Prensa.li.