Magalu, Via, Americanas: ações derretem sob influxo da crise
A Magalu – uma das marcas mais populares – perdeu um terço do valor no período de apenas um ano. A queda começou em julho passado, quando a empresa com valor estimado em R$ 125 bilhões começou a ter perdas bilionárias e o declínio não perdeu força ainda. Em junho, a MGLU3 continuou perdendo valor e atualmente é negociado na faixa dos R$ 2,50. No seu apogeu, a ação era negociada a R$ 27,25.
Não são somente as ações da Magalu que estão derretendo. Sem dúvida, é o pior desempenho no Ibovespa no semestre, com perdas de 67,45%, mas a Via Varejo (Casas Bahia) e Americanas tiveram perdas no período de 63,24% e 56,54%, respectivamente. Entretanto, o caso do Magazine Luiza é o mais impressionante. Depois de valorizar mais de 91.000% entre 2016 e 2021. No fim de junho, houve uma ligeira alta provavelmente devido a um movimento especulativo apostando na recuperação do mercado.
Porém, a XP Investimentos continua não recomendando a compra dos papéis das empresas de e-commerce vislumbrando um período desafiador para a macroeconomia. Já o BTG Pactual acredita que a volatilidade se concentrará no curto prazo, apostando na recuperação a médio e longo prazo. O banco Morgan Stanley vê um movimento tanto da Magalu quanto da Via para estancar a sangria contando com melhoras na parte operacional, onde visam preservar as margens de lucro e não investir em crescimento, ou seja, prevê a estabilidade das ações.
A situação é tão desafiadora que os especialistas se dividem entre a neutralidade, o pessimismo e um otimismo relativo. Logicamente, há quem veja uma oportunidade quando ações de gigantes do varejo estão sendo negociadas com desconto de até 90%. O problema é enxergar sinais de recuperação econômica no médio prazo.
Retail Melting
O cenário macroeconômico mencionado pela XP Investimentos é a atual conjuntura que funde inflação e juros altos levando à retração no consumo. O desemprego é um outro componente a tisnar o resto do ano. O crescimento das varejistas chinesas é outro fator a pesar sobre o desempenho das companhias nacionais.
O resultado do e-commerce no primeiro trimestre foi positivo em 12,9% em relação ao mesmo período de 2021. Entretanto, perdas são relatadas desde outubro, quando o acumulado de três meses registrou queda de 5,2%. No fim do ano, registrou uma alta de aproximadamente 20%. Em abril, outra queda de quase 9% em contraposição ao mesmo período do ano passado, quando cresceu 17%.
Percebe-se que as oscilações positivas passaram a ser menores entre o ano passado e 2022, sendo mais repiques do que crescimento sustentável. A expectativa é de uma redução ainda maior com a manutenção da inflação e dos juros na casa dos dois dígitos.
Cenário de Carvão
A tendência de queda não atinge apenas grandes empresas brasileiras. A Amazon teve um prejuízo líquido de US$ 3,8 bilhões em abril. No mês anterior, registrou retração nas vendas. Representantes da empresa creditam o resultado ao aumento da inflação, um fenômeno hoje mundial, guerra da Ucrânia e quebra na cadeia de suprimentos.
Citando especificamente o caso da Amazon, o diretor e estrategista da Leverage Shares, Oktay Kravak, declarou ao Bloomberg Linea que “o cenário é de uma mina de carvão”. Segundo ele, o mercado esperava queda no pós-pandemia, mas não tão “drástica”. O que é difícil, então, é enxergar como ficará o mercado nos próximos meses.
O mesmo analista infere na oscilação da Amazon que é o indicador do que espera empresas do mesmo segmento e de porte menor. Da mesma forma que suas congêneres brasileiras, a companhia foca na sua parte operacional, como o manuseio e entrega de pacotes na intenção de maximizar a experiência de consumo e reduzir perdas de receita.
Não cair em tentação
O Federal Reserve elevou as taxas de juros nos EUA a um nível recorde desde 1994, ficando entre 1,5 e 1,75%. Há a expectativa que o percentual possa chegar a 3% até o final do ano. O Banco Central Europeu divulgou a provável elevação das taxas de juros em 0,25% neste mês e outro aumento no mesmo patamar em setembro.
Todos os sinais apontam para uma provável recessão global com maior risco de retração econômica, principalmente nos países emergentes. A proximidade das eleições eleva o risco no país e nos investimentos atrelados à precificação das companhias. Como a volatilidade das ações de empresas ligadas ao varejo demonstra, os papéis com remuneração baseados na Selic como Tesouro Direto e os títulos de renda fixa continuam mais atrativos.
A regra não é absoluta, embora a bolsa tenha registrado perda de 11,5% em junho. Mineradoras e empresas de energia e commodities são as apostas da Carteira Valor, além de bancos tradicionais. As fintechs vem sendo afetadas pela alta de juros em nível global. A Carteira Valor é composta por 20 corretoras e indica as cinco ações mais promissoras de cada mês. Apesar de acompanhar as variações da bolsa, seus índices são melhores, excetuando-se os períodos de julho/agosto de 2021 e março e abril/2022.
Bear Market
O movimento especulativo valorizou as ações da Magalu no final do último mês e pode ser creditado à tendência de certos investidores de arriscar pensando em ganho futuro. Não é improvável a piora das ações das redes de varejo, embora um cenário que as torne penny stocks seja demasiadamente pessimista. Bem menor possibilidade ainda de atingir o piso matemático, o que seria o fundo do poço.
No que tange às ações dessas redes, o momento é de jogar parado. Dificilmente haverá um movimento massivo para queimar os papéis e seus proprietários certamente aguardam uma recuperação a médio prazo. Compradores também devem aguardar algum sinal de variação para baixo na taxa de juros, o que indicará controle inflacionário e permitirá a recuperação do consumo.
Resumindo: é melhor esperar alguma luz na mina de carvão.
Este artigo foi escrito por Renato Assef e publicado originalmente em Prensa.li.