Mais um Dia 1: O futuro da amazon sem Jeff Bezos
Na última semana, o gigante - e talvez o mais famoso - e-commerce do mundo, Amazon, passou por sua mais profunda mudança estrutural.
Jeff Bezos, fundador e CEO da empresa, deixou o cargo após 27 anos no comando. Apesar de deixar o posto, o empresário continua na Amazon, mas ocupa o cargo de presidente-executivo do conselho.
A troca na liderança foi anunciada em fevereiro, e a data para a transição estava marcada para 5 de julho. A data foi escolhida por marcar o aniversário de 27 anos da companhia, criada em 1994.
A escalada do homem mais rico do mundo
Jeff Bezos não escapa do estereótipo de criança prodígio que conquistou o mundo dos negócios usando sua inteligência.
O jovem foi aluno da River Oaks Elementary School, uma escola para pequenos superdotados e, com apenas 12 anos de idade, desenvolveu um sistema matemático para avaliar o desempenho dos professores.
Em uma época que o número de usuários online não passava de 40 milhões, o executivo arriscou na criação do e-commerce que começou como uma loja virtual de livros e, hoje, além de vender os mais variados produtos é a empresa mais valiosa do mundo.
Uma curiosidade sobre o nome do e-commerce, é que Jeff o escolheu por conta do Rio Amazonas. Considerado o maior do mundo em extensão e em fluxo de água por vazão, o Rio levou inspiração para o projeto que tinha como princípio ser líder e a melhor no que se propusesse fazer. Aparentemente, deu certo.
Ser um dos homens mais ricos do mundo, proporcionou ao empresário realizar alguns sonhos paralelos como fundar a Blue Origin, empresa de exploração espacial, e tornar-se dono do The Washington Post, um dos jornais com maior circulação nos Estados Unidos, em 2013.
Todos os olhos estão voltados para Andy(Z)
Um dos principais feitos de Bezos para o universo da tecnologia foi o lançamento, em 2006, da AWS. O Amazon Web Services é quase uma empresa separada para armazenamento e hospedagem na nuvem.
O surgimento da AWS deu-se quando a marca pensou em criar uma plataforma de loja online para um cliente. Apesar da demora para colocar o projeto em prática, a espera compensou.
Hoje ela oferece diversos suportes para gerenciamento de redes, aplicativos e bancos de dados, ferramentas de desenvolvimento e Internet das Coisas.
No ano passado, a AWS contribuiu com 63% do lucro da Amazon. O sistema atende mais de 1 milhão de pessoas em 190 países, incluindo clientes como NASA e Netflix.
Dado os devidos créditos à Bezos pelas ideias mirabolantes que deram certo, devemos lembrar de quem coloca o projeto em prática. No caso da AWS, o sistema de hospedagem começou a ser desenvolvido em 2003 por Andy Jassy.
Jassy, de 53 anos, ingressou na Amazon em 1997, como gerente de marketing. Foi escolhido, 5 anos depois, para ser conselheiro de Bezos. Desde 2006 ele comanda a divisão da AWS. Mas isso mudou. Andy Jassy foi o escolhido para assumir o cargo de CEO da gigante Amazon.
Dessa vez, o Dia 1 é oficial
Andy Jassy é o “homem perfeito” para o cargo de CEO da Amazon neste momento. O novo comandante tem a mesma visão de negócios, nível de exigência e ousadia de Jeff Bezos. O que os difere é a simpatia e a conexão com o mundo ao seu redor.
Apesar do fundador da Amazon ser um gênio, precisamos esclarecer que sua forma de enxergar alguns pontos - abordados mais à frente - no ambiente de trabalho são um tanto quanto abusivos.
Cabe a Jassy continuar o histórico de invenção da Amazon, que se estende da computação em nuvem e alto-falantes inteligentes até os armazéns altamente automatizados que permitem o envio de mercadorias em um dia.
Além disso, o novo CEO da companhia terá como um dos seus principais desafios renovar a imagem da gigante Amazon perante seus mais de 1,3 milhões de funcionários sem deixar que o cliente seja seu foco principal.
Para entender a relevância dessa postura, é preciso voltar para antes de Jeff Bezos deixar o cargo de CEO. Foram adicionados, no dia 1 de julho, dois novos princípios de liderança na política interna da Amazon. A adição chamou a atenção por destacar metas para os empregados da empresa.
Intitulado “Esforce-se para ser o melhor empregador da Terra”, o primeiro princípio destaca a função dos líderes e de como eles precisam estar abertos para ajudar, apoiar e promover o sucesso do grupo a partir de produção, segurança e ótimo desempenho.
O segundo se chama “Sucesso e escala trazem ampla responsabilidade”, que se refere ao crescimento da empresa e à importância de o engajamento dos funcionários para sempre atuarem com excelência, buscando melhorias diariamente.
Apesar dos novos princípios serem bonitos e idealistas, a realidade dos funcionários da empresa é completamente diferente.
Por trás da sua entrega rápida
Um relatório investigativo publicado pelo The New York Times, intitulado "A Amazon que os clientes não veem", trata das políticas que orientaram o funcionamento da empresa no início da pandemia.
O artigo publicado em 15 de junho enfoca os acontecimentos no centro de distribuição JFK8 com sede em Staten Island, em Nova York, que é o principal depósito da Amazon.
O NYT constatou que, durante a pandemia, o JFK8 recebeu e despachou milhões de itens semanalmente. De acordo com o Times, "há cerca de um milhão de pessoas nos Estados Unidos que dependem dos salários e benefícios da empresa", e, como a Amazon pretende se tornar a maior empregadora do mundo em um futuro próximo, é preciso voltar suas atenções aos funcionários.
Isso não é o que está acontecendo. Em novembro do ano passado, funcionários de 15 países organizaram protestos durante o período da Black Friday, uma das épocas mais lucrativas no varejo.
Entre as reivindicações estavam questões como aumento de salários, pagamento de periculosidade durante a pandemia, recontratar os trabalhadores que foram demitidos por falarem sobre saúde e segurança nos depósitos, entre outras.
Além das questões atreladas ao período pandêmico, ex-funcionários da empresa relatam que os métodos adotados para gerenciar o funcionário e sua produtividade eram irreais.
Alertas eletrônicos são acionados quando o trabalhador conversa mais do que o necessário, o tempo para ir ao banheiro é cronometrado, os funcionários estão constantemente sob vigilância, entre outros.
A Amazon até tentou introduzir alguns pequenos benefícios durante a pandemia, como permitir que os funcionários carreguem telefones para permanecer em contato com seus entes queridos, um aumento modesto de pagamento, bem como permitir tempo de folga sem vencimento.
Além disso, suspendeu certas políticas, como “feedback de produtividade”. Mas essas informações não foram adequadamente repassadas aos trabalhadores. De acordo com o Times, os funcionários tinham a impressão de que ainda estavam sendo monitorados e seriam punidos por se afastarem dos serviços.
Para agravar esta situação, “[quando] a Amazon oferecia aos funcionários licenças flexíveis, o sistema que as administrava travou, emitindo uma enxurrada de avisos de abandono de emprego para os trabalhadores.”
Nem é preciso dizer que muitos funcionários foram demitidos devido a falhas na comunicação.
O que esperar de Andy Jassy
Assumir riscos é mais difícil para novos líderes. Uma das razões frequentemente citadas para o sucesso de Bezos foi sua vontade de experimentar - e falhar. Ele foi capaz de ver 10 passos à frente de onde a Amazon estava em um determinado momento.
Seu sucessor está assumindo o controle no momento em que essas etapas estão ficando mais difíceis de realizar.
A promoção de Jassy já era prevista antes mesmo de Bezos anunciar que iria sair do cargo. Na verdade, alguns funcionários acreditam que sua saída é crucial para que a empresa prospere contra o intenso processo político e regulatório que enfrenta.
Várias pessoas que trabalharam com Andy falam de sua abordagem sensível, porém precisa, que com certeza irá ajudá-lo sob os holofotes políticos, já que ele enfrentará níveis de hostilidade voltados amplamente para a Amazon, principalmente em relação a processos relacionados ao antitruste.
Há esperança na Amazon, de acordo com várias pessoas familiarizadas com sua estratégia política, de que Jassy substitua Bezos como a face pública da Amazon.
O objetivo é trocar o empresário mais conhecido do mundo, que para alguns é a própria personificação dos excessos do capitalismo, por um fã de esportes discreto e que se posiciona acerca de questões sociais.
A exemplo, Jassy já levou a público em seu twitter sua indignação sobre os assassinatos de pessoas negras nos Estados Unidos, demonstrou apoio ao “Black Live Matters”, também discutiu nas redes sobre as questões que envolvem a causa LGBTQIA+ e imigração, tópicos especialmente populares no solo norte-americano.
Obviamente, sabemos que falar é muito mais simples do que agir. Entretanto, os posicionamentos do novo CEO da Amazon causam interesse na comunidade de funcionários que enxergam uma luz no fim do túnel acerca de seus direitos e levam a gigante em uma nova direção.