Manifesto sobre a tristeza para o artista criar
A tristeza é o melhor para o artista criar?
É o que muitos dizem! E em alguns momentos eu preciso concordar com isso!
Eu mesmo, quando estou triste, as minhas criações me parecem que têm um gosto melhor. A tristeza é tipo um vazio que te abraça. Um vazio que está dentro de você.
E todo vazio existe para ser preenchido de alguma forma. Isso é de nós, seres humanos. A gente sempre quer tampar esse buraco do tamanho de Deus na gente.
A tristeza é um vazio onde o artista, em sua natureza de criar, cria algo para preencher. A tristeza, em certos momentos, é quase doce de sentir.
Mas não é apenas na tristeza que o artista cria. A felicidade é o contraponto da tristeza. Enquanto a tristeza é vazio, a alegria é o preenchimento.
E para que criar quando já há o preenchimento?
A arte, então, é criar algo para preencher o vazio? De certa forma, eu penso que sim. A gente cria algo para preencher um vazio que existe em nós, na vida. A gente cria para ter onde guardar estes sentimentos que temos.
A tristeza é o melhor momento para se criar?
Acho que depende de artista para artista. Mas acredito que cada um já usou essa matéria da existência humana. Acho que em toda arte há um pouco de Blue, um pouco da tristeza.
Não posso bater o martelo dizendo que sim e nem que não. A tristeza é uma condição humana que temos, que possuímos, por não pertencer a este mundo. E temos que aceitá-la uma hora ou outra.
O artista apenas cria algo para ser mais confortável sentir ela. Talvez seja isso, o artista sente a tristeza e começa a criar. O artista mergulha na tristeza para buscar em si mesmo o que é possível para ser matéria de criação.
Acho que os artistas são mais sucessíveis à tristeza, talvez seja por conta de eles sentirem, ouvirem, verem o que nem todos veem. E nisso eles transformam essas matérias em algo novo. Talvez por nascerem com a alma para fora do seu corpo, e assim qualquer vento ela sentisse.
Estar triste é estar vulnerável. Toda grande arte tem um pouco de tristeza em si, estar triste é estar vulnerável e a arte é uma forma de se apoiar.
Na minha opinião, estar triste é a forma em que melhor criamos, pois estar triste é o momento em que estamos vulneráveis e, ao estar vulnerável, o outro se conecta conosco. O outro entende o que queremos dizer, pois, no fundo, ele também está sentindo o mesmo e não conseguiu expressar, dar um nome. E quando chega uma arte assim, alguém que através de uma obra de arte expressa esse sentimento universal, que todos que vivem e respiram neste mundo sentem, a arte se torna universal.
A tristeza é uma das matérias que os artistas usam para se expressar, para criar as suas obras, pois a tristeza sempre vai estar em contato com o artista por nunca poder criar a grande obra que vai preencher esse enorme vazio, esse buraco do tamanho de Deus.
Como o romancista russo Fiódor Dostoiévski escreveu: “há no homem um vazio do tamanho de Deus”. Assim como o matemático Blaise Pascal afirmou: “há no homem um buraco na forma de Deus”.
Kaique Britto
Este artigo foi escrito por Kaique Britto e publicado originalmente em Prensa.li.