Matrix Ressurections - A volta dos que não foram?
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“É isso mesmo que vocês querem? Então toma!” Esse deve ter sido o pensamento que norteou Lana Wachowski ao roteirizar, produzir e dirigir Matrix: Ressurections. Depois de anos certamente tendo que lidar com o apelo dos fãs, não seria nenhuma surpresa.
Já adianto aqui que não se trata de um filme ruim, ou um fiasco cinematográfico. Mas em se tratando de Matrix e do que as próprias Wachowski já produziram, é, no mínimo… preguiçoso.
Um dos diretores do longa, David Mitchell, chegou a afirmar bem antes do lançamento do filme que ele não seria nem um reboot, nem uma sequência, mas nas palavras do próprio diretor: “É uma criação muito bonita e esquisita…que subverte as regras dos sucessos de bilheteria".
Analisando suas palavras hoje, soam como “Eu avisei.”
O filme até diverte, cumpre bem a sua missão de entreter o telespectador. E se não tivesse carregando consigo a bagagem que seus antecessores trouxeram, até seria melhor recebido por crítica e público.
Mas ao contrário dos seus antecessores, o que vemos aqui é uma história romantizada demais, que mais parece uma fanfic do que uma sequência de uma das mais revolucionárias franquias do cinema.
Quando se fala em Matrix, o que vem ao pensamento é: uma história cheia de filosofia moderna que causa um “bug” na mente; cenas de ação espetaculares e de tirar o fôlego, e principalmente; efeitos visuais hiper criativos e de última geração.
Aqui vemos muito pouco ou quase nada disso.
!!! ALERTA DE SPOILERS A PARTIR DESTE PONTO !!!!
Em Matrix: Ressurections, um dos principais conflitos da trama é o conflito interno de Neo (Keanu Reeves) em aceitar se suas lembranças são reais ou se são fantasias da sua mente. É um plot ruim? Não. Mas sozinho, e sendo desenvolvido em mais de 1 hora de filme? Não representa nem de longe o legado da franquia.
Até os vilões aqui são caricatos. O agente Smith, antes cruel, frio e calculista, vivido por Hugo Weaving, aqui é um Playboy bonitão de fala mansa vivido por Jonathan Groff (American Sniper, Glee), que vive uma relação quase que de “amor e ódio” com Neo.
Está mais para um “irmão mais novo” do que para um arquirrival.
Quanto ao principal vilão, o Analista, vivido por Neil Patrick Harris (Garota Exemplar, The Smurfs), me parece que a caricatura é de propósito.
Considerando que a diretora Lana nasceu Larry Wachovski, do sexo masculino, é bem provável que tenha frequentado alguma terapia em algum momento de sua vida.
Aqui vemos um analista que tenta a todo momento convencer seu paciente de que seus instintos e memórias não passam de fantasia, e receita drogas e mais drogas pra controlar os “distúrbios” causados pela mente do mesmo.
Não sei você, caro leitor. Mas eu consigo ver aí uma grande ironia por parte da autora. Afinal de contas, uma mente tão brilhante (e confusa) quanto a de Lana não deve ser nada fácil de entender, não acha?
Aliás, “auto-ironias” são uma constante no desenvolvimento da trama. A maior delas é quando a história faz uma piada de si mesma, no primeiro diálogo entre o então Sr. Anderson e seu então chefe, ainda sem nome.
No diálogo, “Smith” diz para Sr. Anderson que entende o fato de ele não querer mais escrever “Matrix” (supostamente, apenas um jogo criado por ele), mas que a Warner Bros. exige a continuação. E encerra: “As histórias nunca terminam de fato. Não acha?”
Seria uma ótima sacada para um filme de humor, mas convenhamos: Matrix, com sua estética cyberpunk e humor nunca foram melhores amigos. Ficou algo meio “peixe fora d'água…"
!!! FIM DOS SPOILERS !!!
Os novos personagens até se esforçam, mas não acrescentam nada de novo e relevante. Destaque para Bugs (Jessica Henwick - Star Wars, Punho de Ferro), o novo Morpheus (Yahya Abdul-Mateen II - Aquaman, Watchmen, a série) e Priyanka Chopra, que volta ao papel dela mesma em Matrix: Revolutions: a pequena e agora adulta Sati.
Por último e não menos importante, Carrie-Annie Moss volta a reviver (literalmente) sua inesquecível Trinity, que agora terá mais destaque do que nunca, sendo elevada ao mesmo patamar de Neo, o que pra mim foi o maior acerto da sequência e o que realmente trará novos ares à franquia.
Em resumo: Matrix 4 cumpre o seu papel enquanto entretenimento, mas deixa a desejar enquanto sequência da franquia. Nem se reinventa, e nem conta a mesma história, ficando num morno meio termo entre ambos. Quase uma analogia ao famoso ditado “A volta dos que não foram…”
O filme recebeu nota 5,7 no IMDB e 63% de aprovação apenas no Rooten Tomatoes.
Este artigo foi escrito por Eliezer J. Santos e publicado originalmente em Prensa.li.