Me demito! Quiet Quitting chega ao Brasil
Movimento da Demissão Silenciosa ganha popularidade no País.
A cultura de “dar o sangue” pelo trabalho parece não fazer parte do currículo da geração Z. Trabalhar além da jornada, feriados, finais de semana e oferecer mais do que o esperado? Nada disso! O novo modelo consiste em se dedicar o mínimo necessário para cumprir as tarefas do dia. E nem pensar em trabalhar nas atividades fora do cargo.
Estabelecer um limite entre a vida profissional e pessoal resume o Quiet Quitting, que chegou com mais força no Brasil, no segundo semestre deste ano.
Quiet Quitting, como surgiu?
O movimento começou com um vídeo no Tik Tok, que viralizou. No perfil do engenheiro Zaid Khan, @zaidleppelin, o americano convida a todos para uma reflexão:
“Trabalho não é sua vida. Seu valor não é definido pelo resultado da sua produtividade”
A publicação ganhou mais de 8 milhões de visualizações em apenas uma semana e recebeu milhares de comentários e muitos adeptos! “Faça apenas o que está na descrição do seu trabalho e o que é esperado no mínimo.”; “Eu nem consigo acreditar que meu trabalho era 80% da minha ambição e identidade”; “Eu amo meu trabalho, mas os gerentes sempre tentam fazer com que você vá além.”
Quiet Quitting, pelo visto, não tem a ver com o que sugere o termo: pedir demissão, de forma silenciosa, e buscar outro emprego. Pelos comentários, é possível perceber que o movimento reúne insatisfeitos com o tratamento recebido no atual cenário do mercado de trabalho.
Quiet Quitting, nova tendência no Brasil
A filosofia de vida que vai contra o conceito do sociólogo Max Weber (1864-1920) – “O Trabalho dignifica o homem” - também consiste em ganhar mais, trabalhar menos, mas com empenho, em um ambiente de trabalho agradável. Com saúde e bem-estar como prioridades, o movimento chegou ao Brasil com mais força no segundo semestre deste ano.
E os números mostram bem isso! O país tem registrado o movimento de maior número de pessoas que deixaram, voluntariamente, os seus empregos desde o cenário de trabalho na pandemia, em 2020. Só em fevereiro de 2022, 500 mil pessoas abandonaram os empregos.
Enquanto isso, o fenômeno, que também conhecido como “The Great Resignation” (A grande renúncia, em português), nos Estados Unidos, registrou mais de 4 milhões de demissões voluntárias, no mesmo período.
Mas é curioso observar que o fenômeno cresce num Brasil que registra taxa de desemprego acima de 11% e mais de 13 milhões de desempregados. E é justamente essas contradições que os especialistas tentam entender. Mas uma das causas é bastante conhecida e pode ser relacionada com essas três palavras: stress, trabalho e pandemia.
Quiet Quitting e a pandemia
O motivo principal que, segundo especialistas, motivou o avanço do Quiet Quitting foi a pandemia da Covid-19. O vírus alterou a dinâmica do meio corporativa e institucionalizou o home office.
O modelo de trabalho foi adotado para proteger vidas e controlar o vírus. Mas o problema é que muitos funcionários acabaram estendendo a jornada para evitar a demissão, diante de uma crise financeira. E o resultado desse esforço foi devastador para a saúde física e mental. Daí que surge a “demissão silenciosa”.
Quiet Quitting e a sídrome de Burnout
A síndrome de Burnout foi apontada como uma doença ocupacional, pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O problema é reflexo do stress e longas jornadas de trabalho, que levam as pessoas à exaustão.
Estudo recente publicado por pesquisadores da Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard na revista científica Lancet alertou para a saúde mental de trabalhadores na pandemia.
Os pesquisadores reforçaram que as mudanças nas relações de trabalho foram benéficas, mas o cenário agravou as doenças mentais e psíquicas.
A qualidade do ar no local de trabalho pode afetar a função respiratória e a transmissão de vírus; altas demandas físicas e longas jornadas de trabalho podem resultar em dor e incapacidade musculoesquelética; horários imprevisíveis, sobrecarga de funcionários e estresse ocupacional podem contribuir para burnout, sofrimento psíquico e problemas cardiovasculares, reforçou o estudo.
Antiwork e The 4 Day Week
Além do quiet quitting, também há outros movimentos que priorizam a saúde e bem-estar do trabalhador.
O primeiro é o antiwork (antitrabalho, na tradução para o português), discussão que surgiu com força na rede social americana Reddit, que conta com mais de 67 milhões de visitantes por mês. O movimento consiste na ideia de que não é necessária a quantidade de empregos atuais e que a sociedade deveria trabalhar apenas o necessário.
Entre outras ideias que também contrariam o atual modelo de trabalho estão a inclusão de um dia a mais de descanso na semana.
O movimento é encabeçado pelo empresário neozelandês Andrew Barnes, autor do livro The 4 Day Week (A semana de quatro dias).
Em destaque, o livro convida o leitor para uma reflexão: como a revolução do trabalho flexível pode aumentar a produtividade, a lucratividade e o bem-estar, ajudando a criar um futuro sustentável.
Este artigo foi escrito por Sandra Riva e publicado originalmente em Prensa.li.