Meu Gás Minhas Regras
Os países europeus, diferentemente do Brasil, não possuem riquezas naturais com tanta abundância sendo altamente dependentes das importações para manter a economia funcionando bem como a ordem social. O petróleo e principalmente o gás são dois combustíveis de extrema importância, e graças a Rússia que tais produtos são adquiridos pelos europeus.
Com o conflito entre russos e ucranianos, era evidente que não só o caráter territorial estava em questão quando se analisava as perspectivas maléficas do combate mas também, o aspecto econômico. Neste caso, a preocupação se voltava em torno de quais medidas poderiam ser tomadas contra Moscou para cessar a sua incursão e resolver o problema a curto prazo.
Uma das soluções encontradas pela União Europeia foram as sanções econômicas, sobretudo ao setor energético, que é uma das principais fontes de renda da Rússia. Isso seria um golpe de mestre por parte de quem tomou tal medida mas existia um pequeno detalhe: se as sanções surtissem efeito, de onde os Europeus obteriam o gás para fazer a economia girar, uma vez que 40% dele é russo?
Será que o maior parceiro deles desde a segunda guerra mundial com toda sua influência geopolítica poderia utilizar da coerção para que outras nações pudessem fornecer tal produto? A resposta é não. Desde que se iniciou o problema Vladimir Putin de antemão já sabia que este ponto nevrálgico seria tocado e vendo a grande arma que tinha partiu para o ataque.
A Gazprom que é a maior exportadora do mundo e da Europa, exigiu que cada nação europeia abrisse uma conta no Gazprombank para que o pagamento feito até então em Euro fosse convertido para o rublo (moeda russa). Inicialmente a ideia foi rechaçada por todos que dependem do gás, mas vendo que a perspectiva era sombria, França, Itália, Alemanha e outros países usaram do bom senso e cumpriram as exigências para receber tal recurso.
Outros como Polônia, Bulgária, Finlândia, Holanda não cederam às exigências já tiveram o fluxo de gás cortado. Nota se como existe um impasse severo nessa questão e também como a falta de planejamento diante deste cenário pode levar a um desabastecimento completo causando danos gigantescos à economia.
Toda essa dependência do gás russo poderia ter sido evitada se a União Europeia não adotasse de forma radical o fechamento das usinas nucleares que também são uma fonte de energia. Tal medida foi adotada com o discurso da energia limpa, ou seja, utilização de fontes naturais de energia eólica e solar para cessar a emissão de gases poluentes.
A medida tomada também ocorreu pois ela acreditava que os russos iriam praticar a política de boa vizinhança e venderia a preços acessíveis sem nenhuma contrapartida e de fato isso aconteceu. O exemplo claro disso foi o encontro do então Presidente americano Donald Trump com os membros da OTAN em 2018 e o alerta dado em relação a esse problema.
Quatro anos se passaram desde o aviso e o cenário se concretiza de forma muita acelerada. A Alemanha que é a maior economia europeia possui atualmente 52% da sua reserva de gás, caso não resolva esse imbróglio poderá passar o inverno totalmente congelada. Medidas já começaram a ser tomadas, como por exemplo campanhas de conscientização no intuito de economizar o gás, evitar o banho quente e até mesmo utilizar lenha para cozinhar.
A Rússia está utilizando sem sombra de dúvidas o gás como instrumento de guerra e isso deveria ser ponderado antes de qualquer sanção. Frear o país foi um tiro no escuro, pois o maior mercado consumidor de gás que é Ásia capitaneado pela China continua a consumir o produto com preço acessível e grandes volumes.
Os líderes europeus não estão se dando conta dos empregos que serão ceifados, da inflação galopante e os riscos de uma grave crise social irreversível continuando o problema. Ursula Von der Leyen, presidente da comissão europeia, disse na semana passada que os ucranianos estão prontos para perderem as suas vidas com a perspectiva de fazer parte da União Europeia. Ela não leva em consideração que tal perspectiva está levando o seu país de origem, a Alemanha e todo o continente a um beco sem saída.
O objetivo era jogar a Rússia ao ostracismo e torná-la isolada, mas o que se vê é justamente o oposto e é ela quem está ditando as regras do jogo. A frase “o mundo não gira, ele capota” nunca foi tão apropriada para um contexto tão explícito e ao mesmo tempo triste como esse.
Este artigo foi escrito por Jones Júnior e publicado originalmente em Prensa.li.