Milagres e Tragédias
Dizem que todos os dias acontecem milagres. É verdade. Sempre acontecem, pequenos ou grandes: é o doente à beira da morte que se recupera, é o sujeito que acerta na loteria, é aquela proposta de emprego inesperada, é aquele excelente negócio que se fecha quando já estava perdido.
Mas todos os dias também acontecem tragédias, pequenas ou grandes. É o parente ou amigo que falece, é o prejuízo que se toma quando o carro é roubado, é o filho que não nos obedece e se machuca na rua, é a injustiça que sofremos, é a calúnia que recebemos e por aí vai.
Dias atrás infelizmente testemunhei uma grande tragédia, em Três Corações. O pai saiu de manhã para comprar fralda no centro da cidade. O bebê recém-nascido ainda estava com a mãe no hospital, aguardando a alta do médico. Não se sabe exatamente por qual motivo, talvez por ter tropeçado em uma calçada bastante estreita, o pai caiu na frente de um caminhão e foi atropelado. Socorreram de imediato o pobre homem, mas ele morreu logo em seguida.
No asfalto ficou o pacote de fralda que ele carregava ao lado de uma poça de sangue, símbolos de uma vida que chegava e de uma outra que partia. O filho nascia e o pai morria, vida e morte lado a lado, em um mesmo momento.
Somos simples bonecos na mão do destino. Ele brinca conosco, nos manipula, nos surpreende. O destino tem um controle remoto nas mãos e nos leva para lá e para cá. E ele pode ser muito cruel, cínico, irônico.
Pensamos estar no controle, mas isso é uma inverdade. Somos frágeis demais. Como uma pessoa pode morrer ao buscar uma fralda? Como pode um homem morrer no dia do nascimento de seu próprio filho?
Milagres e tragédias acontecem todo dia. Vida e morte caminham lado a lado, nesse indecifrável mistério que é a existência humana.
Este artigo foi escrito por Sandro Mendes e publicado originalmente em Prensa.li.