Minha primeira impressão sobre web3
Imagem: Canva
Web3 não se resume somente ao hype dos NFTs, realidade aumentada e virtual, além de experiências nos metaversos. O que está por trás da Web3 é o blockchain, e estamos arranhando uma espessa camada nessa superfície.
Apesar de me considerar um entusiasta em muitos assuntos, não me sinto particularmente atraído por criptografia, tampouco compartilho do mesmo entusiasmo geral que move todos os aspectos de nossas vidas para uma economia instrumentada, em que o difícil será prever como isso se materializará em nosso cotidiano.
Em níveis tecnológicos, porém, aguardo essa nova onda (movimento cripto, NFTs, Metaverso) que deve funcionar como o eixo de um novo ciclo que pode ou não se suceder tanto para web quanto para mobile.
Diante disso, dada toda atenção no que agora está sendo chamado de #Web3, decidi aprofundar-me no que está acontecendo nesse espaço para ver o que posso estar perdendo.
O que penso sobre web3
O termo #Web3 pode parecer um tanto quanto ambíguo, mas é resultado da união de mundos online anteriores: da web1 descentralizada, web2 que centralizou tudo em plataformas e a web3 que são conteúdos gerados por usuários, por meio de registro distribuído em blockchain.
E a explicação do porquê as plataformas centralizadas surgiram é muito simples:
1. As pessoas não querem executar seus próprios servidores e nunca o farão
Executar seus próprios servidores é um processo ardiloso e cansativo que demanda tempo e que implica em ter um servidor web, site e e-mail administrado por si próprio. A premissa para web1 era que todos na internet seriam editores e ao mesmo tempo consumidores de conteúdo.
Agora, as empresas estão iterando novas funcionalidades nesse processo, construindo-as com conectividade mais aprimorada, através de metadados semânticos que fornecem aos usuários uma melhor conectividade.
2. Um protocolo se move devagar se comparado a uma plataforma
A tecnologia sofre um problema crítico toda vez que o resto do ecossistema está se movendo rapidamente. Se os usuários não acompanharem, irão falhar, ainda mais em um cenário descentralizado, propenso a mudanças constantes.
Existem setores enfocados em definir e melhorar metodologias como o Agile (conjunto de práticas e comportamentos para criação de um produto) para tentar descobrir como organizar grupos enormes de pessoas para que estas possam se mover o mais rápido possível.
Um exemplo são os protocolos obsoletos dos anos 90, como Gopher, que são incapazes de movimentar-se, e a única forma de executá-los é pegar o que estava parado no tempo, centralizá-los e iterar rapidamente.
A Web3 pretende trazer uma visão sistemática mais dinâmica aos seus consumidores. Para ter uma ideia rápida do espaço e uma melhor compreensão do que o futuro pode trazer, decidi mostrar exemplos de apps criados em NFT (Tokens ou códigos, números com registro de transferência digital)
Criando aplicativos distribuídos
Supondo a criação de um app chamado First Derivative, dispositivo este que permite criar, descobrir e trocar derivados NFT e que rastreie um NFT subjacente a partir de derivados financeiros que rastreiam um ativo subjacente. Inclusive, destaca-se que esses próprios aplicativos atuam de maneira individual, não há nada particularmente distribuído.
Quanto ao termo “distribuição”, ele refere-se ao local onde reside o estado (conceito que conecta informações, através do histórico de edição e do Derivado NFT) e à lógica, com permissões para atualizar o estado: no Blockchain e não em um banco de dados ‘’centralizado’’.
Quando se fala sobre Blockchains, automaticamente, o discurso enviesado traz confiança distribuída e toda mecânica de como isso funciona, entretanto, em muitos casos ignora-se a realidade de que os clientes não podem participar dessas mecânicas.
Tudo porque os diagramas de rede são controlados, baseado em um modelo de confiança que é construído por servidores, e os Blockchains são projetados para serem uma rede de pares e não para que seu dispositivo móvel ou navegador seja um desses pares.
Um exemplo que se encaixa perfeitamente no contexto citado: ao rodarmos o app do First Derivative no celular ou na web é necessária uma interação com o Blockchain para modificar ou renderizar o estado, já que o blockchain não pode viver em seu dispositivo móvel.
Portanto, a única alternativa passa a ser interagir com o blockchain ‘’amarrando e dando um nó’’ no que está sendo executado remotamente em um servidor de algum lugar.
Os adeptos do blockchain podem dizer que não há problema se esses tipos de plataforma centralizadas surgirem, porque o próprio estado está lá disponível, portanto, se essas plataformas se comportarem mal, os clientes podem simplesmente se mudar para outro lugar sem nenhum tipo de imbróglio.
Recriando a roda
Diante dos acontecimentos históricos das mudanças da web1 e da web2, fica claro que a web3 pode estar indo para o mesmo caminho das anteriores, tudo porque grande parte dos NFTs estão na rede ethereum (uma rede de Blockchain descentralizada criada para executar contatos inteligentes de forma automatizada) que foram construídas com muitas armadilhas implícitas na web1.
Para tornar essas tecnologias usáveis, é necessário a construção de plataformas, por meio de pessoas que vão rodar servidores para você interagir com novas funcionalidades que surgem, lembrando que a maioria foi negociada no OpenSea (mercado online para tokens não fungíveis), além da Infura, Coinbase e etc.
Acredito que os protocolos Web3 demorem a evoluir, principalmente quando se constrói um primeiro derivativo, em que será necessário precificar os derivativos com uma porcentagem do valor do subjacente.
Esses dados estão em uma API que o OpenSea fornece ao usuário, de maneira única, sobretudo na maneira de configurar os royalties que existem no espaço web2.
A iteração rápida em plataformas centralizadas é um aspecto positivo, afinal os protocolos distribuídos se consolidam no controle das plataformas, iterando além do que é possível, em um cenário onde fica difícil mudar os padrões de uma hora pra outra.
É a mesma coisa quando se constrói um mercado de NFT: ele não oferece nenhum controle adicional se o OpenSea mediar a visão de todos os NFTs nas carteiras que as pessoas usam (e todos os outros aplicativos no ecossistema).
Só pra deixar claro, o artigo não busca difamar, tampouco acusar o OpenSea do que eles construíram. Pelo contrário, do meu ponto de vista, eles estão tentando construir algo que funcione e isso é incrível!
Meu ponto é que devemos esperar que esse tipo de consolidação de plataforma aconteça, compreendendo também, que percalços são inevitáveis em dado momento. Minha preocupação é que a comunidade Web3 crie uma expectativa muito além do que já estamos vendo.
Conclusão
O ecossistema da web3 ainda apresenta mais incertezas do que certezas, principalmente diante de todo histórico atual de sua utilização, por isso não acredito que vamos nos livrar de plataformas centralizadas, como também, não mudará fundamentalmente nosso relacionamento com a tecnologia.
Com a web3, cria-se um espaço para criatividade e exploração, mas será que isso será o suficiente para impedir que a mesma dinâmica da internet se desdobre novamente? Somente o tempo dirá!
Da mesma forma, as pessoas não executarão seus próprios servidores, projetando sistemas que possam distribuir confiança sem ter que distribuir infraestrutura.
Isso significa criar uma arquitetura cuja premissa é estreitar relacionamentos com clientes e servidores de maneira centralizada, usando criptografia ao invés de infraestrutura com objetivo de distribuir confiança, ampliando conexões.
E por fim, o que mais me surpreendeu na web3 é que apesar de ser construída em criptografia, existe pouca criptografia envolvida!
Este artigo foi escrito por Rainier Luidgi e publicado originalmente em Prensa.li.