‘Modern Love’ é para rir, chorar e aprender com as relações humanas
Imagem: Divulgação | Amazon Prime Video
(O seguinte artigo não possui spoilers sobre as temporadas de Modern Love)
Existem histórias de amor e existe Modern Love.
A série antológica original da Amazon Prime Video estreou em 2019 com 8 episódios contando histórias verídicas baseadas em uma coluna semanal do mesmo nome, publicada pelo renomado jornal The New York Times.
Se engana quem pensa que Modern Love é só mais uma (saturada) produção sobre relações amorosas. A série aborda as diferentes formas de amar, sentimentos como perda, redenção, vulnerabilidade, descoberta, e o conflito entre alegria e agonia que uma relação pode proporcionar.
É impossível não se identificar com um (ou mais) episódio da série, cuja tão esperada segunda temporada acaba de chegar ao streaming. Com não mais de 35 minutos por episódio, John Carney, diretor e escritor principal da série, consegue envolver qualquer um nas belíssimas histórias situadas na cidade de Nova York, que não dependem uma das outras para serem assistidas – você pode ver na ordem que desejar.
Mas, afinal, o que tem de tão especial em Modern Love?
Além de um elenco de peso, com Anne Hathaway, Tina Fey, Andy Garcia, Dev Patel, Andrew Scott e muitos outros (apenas na primeira temporada), a série aborda com leveza temas que, apesar de cotidianos em sua maioria, podem ser difíceis de lidar no dia a dia.
Em um dos episódios mais marcantes da primeira temporada, por exemplo, conhecemos uma brilhante jovem advogada (Anne Hathaway) que é bipolar e precisa refletir sobre impacto da sua saúde mental em seus relacionamentos, especialmente na sua vida amorosa.
Os dois estados de humor de Lexi (Anne Hathaway) | Imagem: Divulgação
Não é necessário nenhum aviso de gatilho, já que a história é contada de um jeito que emociona, mas não explora em momento algum a doença de forma sensacionalista e irresponsável. Você consegue compreender a condição da personagem e se comover conforme ela se aceita e permite que outras pessoas a conheçam por inteiro.
Modern Love transborda empatia. Te faz se colocar naquela situação apresentada e imaginar: o que eu faria no lugar dele (a)? E mais: a série entrega emoções intensas, traz reflexão e faz com que o público sinta intimidade com os personagens, como se fizesse parte da história também.
Você termina a temporada sem nem perceber, porque os episódios são curtos e não causam nenhuma exaustão mental – ou sentimental. Dá para maratonar, mas eu sugiro que a série seja assistida aos poucos, aproveitando os detalhes de cada episódio. Vale a pena parar para refletir sobre cada história.
O que a 2ª temporada traz de novo?
Mais uma vez John Carney acertou em cheio na escolha dos contos que seriam adaptados para a telinha. Você pode escolher entre histórias de despedia, um relacionamento dividido entre a noite e o dia, descobertas sobre a sexualidade, amor na adolescência que perdura ou até uma paixão separada pela pandemia.
Lil (Dominique Fishback) e Vince (Isaac Powell) são amigos inseparáveis até que o amor entra no caminho | Imagem: Divulgação
Dessa vez, Modern Love trouxe nomes como Kit Harrington (nosso eterno Jon Snow), Lucy Boynton, Minnie Driver, Anna Paquin, Gbenga Akinnagbe e Tobias Menzies, entre outros.
Carney continuou usando a mesma fórmula que fez a primeira temporada um sucesso, mas foi além com mais um acerto acrescentando diversidade ao elenco com personagens LGBTQIA+ e negros como protagonistas, e levou algumas histórias para além da Big Apple, usando Londres e Dublin como cenários para os episódios 1 e 3.
Alguns erros também aconteceram...
Mas nem tudo são flores na adaptação dos contos para a nova temporada. Infelizmente, o uso da fantasia foi exagerado em alguns episódios, o que soou clichê e deixou a experiência, antes tão agradável, um pouco cansativa. Os episódios 1 e 6 são exemplos disso.
O episódio mais aguardado da temporada, “Strangers on a (Dublin) Train”, protagonizado por Kit Harington e Lucy Boynton, foi uma grande decepção.
Os dois se encontram em um trem para Dublin, enquanto retornam para a casa assim que a pandemia começa e o lockdown é decretado no país. Eles acabam se conectando durante viagem e decidem se reencontrar na estação em duas semanas, quando esperavam que a quarentena fosse acabar. Mas como sabemos, não acabou.
Paula (Lucy Boynton) e Michael (Kit Harington) se conhecendo durante uma viagem de trem | Imagem: Divulgação
A simpatia de Lucy desapareceu em uma personagem extremamente crítica, que não desperta empatia em nenhum momento. Já Harington é um romântico beirando a ingenuidade. Infelizmente, não existe química entre os dois, o que torna impossível torcer pelo casal.
O fracasso do episódio é algo incomum para John Carney em Modern Love. Foi frustrante, e às vezes constrangedor, ver dois atores talentosos serem desperdiçados em uma história insossa e mal contada.
Histórias reais que são inspiradoras
E esse é o grande trunfo de Modern Love. As histórias, a conexão, a dor, as alegrias e cada momento são reais. Apesar dos possíveis erros de adaptação, cada episódio abre uma porta para que o público possa ver a intimidade de quem, um dia, compartilhou a sua vida com o The New York Times.
Fiz uma seleção dos episódios que mais mexeram com as minhas emoções:
1. Take Me as I Am, Whoever I Am (episódio 3 temporada 1)
Imagem: Divulgação Amazon Prime Video
Sinopse: Uma mulher reflete sobre como sua experiência com o Transtorno Bipolar tem impactado sua vida amorosa.
Por que você deve ver: É uma das melhores atuações de Anne Hathaway (na minha humilde opinião). O episódio trata a saúde mental de forma delicada e sem generalizar o transtorno, que ainda tem uma imagem problemática para as pessoas de modo geral. O visual do episódio é belíssimo e o figurino da Hathaway é quase um personagem à parte, ambos definem o tom do episódio de forma singular, quando a transição entre as fases depressivas e de mania acontecem.
2. When the Doorman Is Your Main Man (episódio 1 temporada 1)
Imagem: Divulgação Amazon Prime Video
Sinopse: Uma amizade inusitada entre uma mulher solteira e sozinha, morando em Nova York, e um porteiro que carinhosamente cuida dela, agindo como guarda-costas, confidente e figura paterna.
Por que você deve ver: Essa é uma história que surpreende positivamente e faz sorrir com tamanha doçura e sensibilidade. Com Cristin Milioti, a mãe de How I Met Your Mother, e Laurentiu Possa como o porteiro protetor, esse episódio redefine o ideal do homem perfeito. O ritmo pode ser um pouco lento, mas vale a pena.
3. A Life Plan for Two, Followed by One (episódio 4 temporada 2)
Imagem: Divulgação Amazon Prime Video
Sinopse: A garota nova na escola se apaixona pelo seu melhor amigo e se convence de que eles foram feitos um para o outro, mesmo que ela nunca consiga sair da “friend zone”.
Por que você deve ver: Parece a premissa de um filme clichê de adolescente, mas na verdade esse episódio mostra como muitas vezes criamos narrativas na nossa mente sobre algo que, na realidade, é completamente o oposto. Vemos os anos passarem, e os personagens amadurecem, junto com o sentimento que nutrem um pelo outro. É uma história simples e fácil de se identificar.
4. How Do You Remember Me? (episódio 7 temporada 2)
Imagem: Divulgação Amazon Prime Video
Sinopse: Dois homens se reencontram nas ruas de Nova York e recordam seu primeiro e único encontro. Mas será que eles se lembram daquela noite da mesma forma?
Por que você deve ver: As transições entre o presente e as lembranças dos dois personagens é um pouco cansativa, mas vale a pena observar sobre como cada um teve uma experiência completamente diferente do outro durante o encontro. E isso faz pensar: quantas vezes lembramos de um momento que para outra pessoa significou algo pouco ou nada similar que para nós?
Outros episódios que não foram meus preferidos, mas que você deve prestar atenção:
Primeira temporada: Episódio 2: When Cupid Is a Prying Journalist | Episódio 7: Hers Was a World of One.
Segunda temporada: Episódio 1: On a Serpentine Road, With the Top Down One | Episódio 6: In the Waiting Room of Estranged Spouses.
Você pode assistir às duas temporadas completas no Amazon Prime Video.