Naked Lunch Brasileiro
O romance de William S. Burroughs que se transformou em filme com o título "Naked Lunch" (1991) que significa (pt: O Festim Nu — br: Mistérios e Paixões) é a tradução perfeita para identificar, Francisco Reginaldo de Sá Menezes, mais conhecido como Xico Sá.
Como no filme, direto do Crato (Ceará), o jornalista, escritor e cronista brasileiro se defronta com a projeção da cidade "paranóia delirante" ao sair do sertão nordestino e ir ao encontro das grandes metrópoles por onde perpassou. Seja em São Paulo ou em seu habitat atual, a cidade maravilhosa, Rio de Janeiro, as vinhetas (que Burroughs chama de "rotinas") são delineadas por Xico através de imagens da silhueta de suas palavras.
Por opção, alega gostar do papel de cronista, trazendo situações corriqueiras e, até mesmo, com toques de familiaridade, seu leitor, passeia das curvas de uma dama aos seios da pátria amada.
Sua carreira teve início em Recife, com sua boa e velha máquina de escrever. Para além da escrita, entrevistas e diálogos constantes resultaram no melhor vulgo e oratória do escritor nordestino, muitas delas repercutidas em programas de bancada ao longo de sua carreira, como no "Cartão Verde" da TV Cultura, onde junto com o ex-futebolista Sócrates contava firulas e anedotas sobre o universo futebolístico. Fez parte também da bancada do "Saia Justa", programa exibido pelo canal a cabo GNT. Além de participações no programa "Amor e Sexo" da Rede Globo, e junto de Maitê Proença e Eduardo Bueno o " Peninha ", no canal SporTV.
No filme, o personagem principal, Bill Lee que sonhava com a ideia "Interzone" acorda de um pesadelo após 15 anos em que esteve enterrado em um torpor. Xico, por sua vez, acorda após 24 anos que atuou como colunista do jornal Folha de S. Paulo, no qual mantinha um blog semanal no site folha.com.
Sem papas na língua, Xico declamava em seu twitter "phoda-se o PT, a merda é que ñ há a mínima manchete contra os outros, aí tá a putaria jornalística e eu, lá de dentro, sei cuma funciona". Há cinco anos, as notícias que se espalhavam era a manchete da vez : "Proibido de apoiar Dilma, Xico Sá deixa a Folha".
Ao passar por esse alvoroço em sua carreira devido às especulações e , sobretudo por ter defendido sua opinião explicitamente - ao ponto de o levar a pedir demissão do emprego -, após escrever em uma de suas crônicas sobre a falsa imparcialidade existentes nos grandes pólos de comunicação brasileira. Xico afirma que tentaram calar sua opinião, justo no apogeu de um período eleitoral, mas não conseguiram.
Por fim, nosso Naked Lunch Brasileiro é a cópia do americano quando pensamos em toda a sua vida e seu viés anarquista embalado ao som de Reginaldo Rossi.
De um ser humano que participou, dentre outras rebeliões, da crítica feroz aos "golpistas que pedem a volta do terror da ditadura" e, do Imperialismo dos grandes oligopólios midiáticos e suas farsas. Sua crítica e liberdade de opinar, ato que lhe é de direito, derruba com as ideias calhordas do sistema, desenhando valores que hoje, fora de questão, fazem e permitem que novos jornalistas ou, até mesmo, os que já se debruçam sob os ócios do ofício, dissertem sobre os mais variados temas — do político e da política, do futebol ao amor romântico, sem pudorismos.
Este artigo foi escrito por Mariana Domin e publicado originalmente em Prensa.li.