Não olhe para cima: a hipérbole da realidade
O filme “Não olhe para cima”, produção recente da Netflix, tem levantado muitas opiniões. Tanto positivas quanto negativas, mas sempre polêmicas. Para além de um elenco brilhante e consagrado mundialmente, há a centralidade de uma atuação política medíocre. Ainda assim, a proposta do filme consegue atingir de forma direta e muito clara dimensões que vem sendo ocultadas em um cenário de polarização política.
“Não olhe para cima” é, sem dúvida alguma, uma hipérbole da realidade. Com um elenco consagrado mundialmente, o filme traz um contexto político tão extremo que beira o trágico-cômico.
Diante de uma tragédia global identificada por pesquisadores da Universidade do Michigan, a forma como o governo e a grande mídia lidam com a questão garante boas risadas por soarem “inacreditáveis”.
Por outro lado, refletir sobre o enredo e sua evolução nos permite questionar até que ponto essas situações são realmente um exagero. Isto porque as situações trazidas, como colocar em dúvida pesquisas científicas; descredibilizar e ridicularizar uma profissional mulher; tornar galã um profissional que fez o mesmo trabalho, inclusive que a mulher ridicularizada; transformar a política em um show midiático…Mas não são essas questões que nos atravessam cotidianamente?
Grande parte das críticas negativas ao filme é sobre o desperdício de grandes nomes do cinema mundial com um filme mais que cômico, quase "esdrúxulo''. No entanto, um olhar um pouco mais sensível nos permite ver que para hiperbolizar a realidade somente grandes nomes: há um toque de sobriedade nas feições, nos tons de voz, na movimentação.
Enfim, no posicionamento, que nos faz questionar o quão próxima deste exagero está a nossa realidade. E, já provamos por A mais B que, se deseja questionar o que nos está posto é preciso gerar incômodo, é preciso mexer na nossa zona de conforto. Nada melhor, para isto, do que o choro, a dor, a beleza sutil ou o cômico.
No caso do filme “Não olhe para cima” é a sensação de desespero por não haver o que fazer que nos traz a reflexão de onde estamos hoje e do que podemos fazer para sair deste lugar de alienação, arrogância e ignorância. A hipérbole da realidade nos faz pensar sobre a realidade que ainda podemos criar!
Este artigo foi escrito por Rhay Belloti e publicado originalmente em Prensa.li.