“Não Olhe Para Cima”: Um Filme Que Faz Pensar.
Preferi escrever minha análise a respeito do filme "Não Olhe Para Cima" depois de um pequeno tempo de seu lançamento, pois se trata de um filme que precisa ser digerido, assim como suas consequentes reações, ainda mais num mundo como o nosso atual, onde quase tudo polariza em debate político (antes fosse realmente político e não sobre conceitos de sociedade que já deveriam ter sido superados).
Sinopse
O filme conta a história de Randall Mindy (Leonardo DiCaprio) e Kate Dibiasky (Jennifer Lawrence), dois astrônomos que são responsáveis por uma descoberta surpreendente: um cometa orbitando dentro do sistema solar que está em rota de colisão direta com a Terra. Com a ajuda do doutor Oglethorpe (Rob Morgan), Kate e Randall buscam informar Presidente dos Estados Unidos Orlean (Meryl Streep) que tem ao seu lado, o chefe de gabinete e seu filho, Jason (Jonah Hill). Os eventos seguem para uma peregrinação diante da mídia em busca de alertar sobre o evento catastrófico. Com apenas seis meses até o impacto do cometa, o foco das ações se dispersa das mais variadas formas, demonstrando que mesmo diante do fim próximo, a humanidade está presa às suas futilidades.
Elenco
O elenco, de cara, já impressiona. Somadas, são mais de 40 indicações ao Oscar. Os protagonistas Leonardo DiCaprio e Jennifer Lawrence, fora de sua zona de conforto e de seus esteriótipos, conseguem trasmitir muito bem o que significam seus personagens. Meryl Streep, Jonah Hill, Mark Rylance e Cate Blanchett fazem exatamente o que seus papéis requerem e chegam a transmitir exagero, o que para alguns pode parecer uma má atuação, mas que na verdade faz parte exatamente do que se é proposto, do que se deseja transmitir.
Todos eles igualmente caminham dentro de uma narrativa propositadamente fora de ordem que, ao mesmo tempo que envolve, arrisca na perda de ritmo.
Análise
Categorizado como uma comédia por muitos críticos e com a roupagem de uma sátira, genêro característico de Adam Mckay, a história nos traz muito mais um drama, que comparado com a realidade, principalmente com a pandemia, chega a ser deseperador. As risadas, quando conquistadas, sempre são de nervoso. Quando assistimos tendo como preceito a questão sobre o que pode ser mais importante do que um cometa que está vindo em direção da Terra e nos damos conta de que as reações dos personagens, inclusive dos protagonistas, apesar de caricatas, são muito plausíveis para a realidade, nosso choque é gritante. E a intenção é justamente essa, impactar como um cometa.
Apesar do autor dizer que o enredo foi imaginado antes da pandemia, é impossível não traçar similaridade, mesmo que você não tenha ouvido alguém falar sobre isso antes. O negacionismo, os interesses pessoais e financeiros como prioridade em qualquer circunstância, os paralelos com uma suposta divisão de lados onde não deveriam haver lados, todos esses absurdos saltam aos olhos, cena após cena.
O próprio nome do filme já diz muito: Uma ordem que se inicia com o “Não”. Por mais fiel que alguém seja, faz-se praticamente impossível o ato de manter a negativa por muito tempo, ou pelo menos, de não conviver com a curiosidade da afirmação contrária.
A Resposta do Espectador
Com toda essa construção, "Não Olhe Para Cima" não é um filme incrível, isso nem era a intenção de sua produção. Não buscou ser unanimidade de crítica, não quis ser algo agradável. o objetivo tampouco foi ser uma espécie de "pancada". É um filme mais para um "cutucão" contínuo. Ele incomoda tanto quem se indigna com o comportamento dos personagens quanto quem acha que tudo é muito exagerado e que o mundo não é assim. Obviamente, o que se esperava da produção era justamente o debate, ou melhor dizendo, a polêmica. Os "memes" viralizaram e as respostas em outros "memes" se sobrepunham, como o próprio filme satiriza em determinado momento. O recurso do fale bem ou fale mal, fale sempre de mim, que é a nova arma da publicidade moderna, demonstra-se alcançado, principalmente quando o filme se torna o mais visto da história da Netflix, no período de uma semana.
Conclusão
Por ser um filme tão bem construído, no sentido de ter objetvos claros e claramente atingí-los, o filme é um grande sucesso e com certeza vale a pena ser assistido, a não ser que você esteja num momento em que prefira se manter anestesiado do ato de pensar demais durante seu entretenimento e prefira manter-se no que ele pretende justamente fugir: produções que tentem nos inundar com uma ficção distante de felicidade e satisfação.
Este artigo foi escrito por Eder B. Jr. e publicado originalmente em Prensa.li.