Não olhe para... o leste europeu
Imagem: divulgação / Netflix
Como todos sabem Rússia e Ucrânia estão em guerra, declarada por Putin, noticiada a cada minuto pela mídia em todos os seus meios digitais e convencionais.
Além do óbvio e terrível conflito, é preciso que nos atentemos à um detalhe que piora ainda mais a situação: a narrativa midiática desta guerra.
Afinal a mídia ocidental em relação a conflitos internacionais quase sempre (ou desde sempre) faz o retrato que lhes convém, segundo interesses escusos, nesse caso interesses relativos ao ocidente, no contexto geopolítico regido pela OTAN.
A Organização do Tratado Atlântico Norte (OTAN), tem sido ao longo de algumas décadas, um instrumento apenas para servir ao jogo político dos países ocidentais, especialmente EUA, os “donos” do mundo.
A própria existência da OTAN, que é uma organização para fins militares, é algo bastante questionável para os dias atuais, já que tal entidade inicialmente foi criada para defender o ocidente contra a ameaça da União Soviética nos tempos de então, da Guerra Fria.
A organização continua existindo muito atuante mesmo depois de 30 anos do fim do bloco soviético, ou seja é um instrumento muito útil aos interesses do ocidente frente à Rússia e o que ela representa no leste europeu e seu poderio geopolítico na região da Ucrânia.
Convém lembrar que o país vizinho também fez parte do bloco soviético, o que explica a grande influência russa em solo ucraniano.
Afinal a usina nuclear de Chernobil é situada ao norte da Ucrânia e foi construída pela Rússia nos tempos soviéticos.
Portanto, Vladimir Putin reivindica seu poder sobre o território ucraniano a todo custo, especialmente ao leste, região de Donbass, onde se situam Donetsk e Luhansk, que são repúblicas separatistas reconhecidas pelo Kremlin. Bem como em fevereiro de 2014, Putin anexou a região da Criméia ao território russo.
Em Donbass ocorrem conflitos desde 2014 com manifestações pró-Rússia e antigoverno. É a região mais rica da Ucrânia em potencial energético com industrias de carvão e metalurgia.
A OTAN mira seu olhar para a Ucrânia a fim de que esta seja incluída na organização. Convém lembrar que se a OTAN realmente expandir seus domínios até a Ucrânia, a entidade terá então autoridade sobre o poderio militar do país, o que também inclui o potencial nuclear, mesmo que este fora desenvolvido pela Rússia na época da União Soviética.
A Ucrânia é vítima?
Por mais que guerra deva ser a todo custo evitada e repudiada é um tanto difícil de classificar a Ucrânia como vítima no contexto político.
Um país que além da histórica questão geopolítica com a Rússia, enfrentou por volta de 2014 horríveis conflitos internos.
Uma revolução que ficou conhecida como Euromaidan, cujo objetivo foi protestar contra o então presidente Victor Yanukovitch, já que este recusou assinar acordo para se juntar à União Europeia.
Yanukovitch era fortemente alinhado a Putin e por isso mesmo recusou associar a Ucrânia ao bloco europeu. Protestos e revolução popular tomaram as ruas de Kiev, a princípio motivadas pelo tuíte de Mustafa Nayem, um jornalista ucraniano bastante crítico ao governo de seu país.
As revoluções promoveram a ascensão de grupos de extrema direita, especialmente neonazistas que promoveram ataques violentos aos opositores pró-Rússia, o que resultou na deposição de Yanukovitch, que se exilou na Rússia.
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Um documentário intitulado Ucrânia Em Chamas, produzido em 2016 pelo famoso cineasta norte-americano Oliver Stone e dirigido pelo ucraniano Igor Lopateniuk, esmiúça de modo detalhado as motivações desses conflitos que a mídia ocidental noticiou de modo superficial.
Volodymyr Zelensky, atual presidente da Ucrânia, era até 2014 um famoso comediante da Tv ucraniana. Após a revolução que depôs Yanukovitch, Zelensky foi eleito presidente, sem jamais ter ocupado algum cargo político em toda sua vida.
Como se não bastasse, o comediante eleito presidente é apoiado por partidos extremistas de direita. Um grupo miliciano chamado Azov parece ser o de maior expressão e também o mais perigoso, pois além de terem um perfil neonazista, constitui um batalhão que foi incorporado ao exército ucraniano em 2015.
No uniforme dos soldados pode-se ver claramente o símbolo (à esquerda) que é bastante parecido com o símbolo da S.S., grupo paramilitar nazista que ajudou Hitler a chegar ao poder na Alemanha. Uma fala recente dos discursos de Putin diz que “é preciso desnazificar a Ucrânia”. A mídia ocidental no geral não parece levar isso a sério.
via Hora do Povo
Putin está a décadas no comando da Rússia, em vários aspectos com uma postura controversa, o que o leva a ser visto como um ditador pela mídia ocidental, por controlar os meios de comunicação e até interferir nos costumes da população evidenciando seu lado conservador; além de acusações de perseguição política à opositores e até assassinatos.
Contudo, Putin em todo esse tempo no poder também fortaleceu a economia russa com geração de emprego e renda e implementou políticas sociais. Entre acertos, erros e dúvidas, o ex-agente da KGB tornou-se no mínimo, um político experiente no comando de seu país e obviamente não se curva aos desmandos dos EUA e de boa parte da política ocidental.
Guerra não é e nunca foi o melhor meio de se resolver questões geopolíticas entre as nações. Afinal guerra é extremismo, inevitavelmente leva destruição e miséria à população. No entanto, após tudo o que ocorreu antes, somente agora o ocidente está realmente olhando para o leste europeu. Um olhar tardio.
Este artigo foi escrito por Roberto Alves e publicado originalmente em Prensa.li.