Nazismo: como se nada houvesse ocorrido
Nazismo II - Jason Rosewell em Pexels
Não sei se vocês recordam, mas há algum tempo publiquei um artigo sobre um podcaster brasileiro que fez uma singela apologia ao nazi-fascismo e acabou expulso do programa que apresentava.
Não obstante, um comentarista de uma conceituada rede de rádios (que virou TV) resolveu defendê-lo, com direito a saudação sieg heil e tudo o mais que tinha direito. Também precisou passar no RH da emissora.
Lembraram da questão? Se você é como meu marido, que tem TDAH e o mesmo poder de retenção da peixinha Dory, de Procurando Nemo, não se preocupe: aqui está o link. Leia. É curtinho. Estarei esperando.
Bem, não apenas o pessoal do podcast como o da emissora, e acho que grande parte do público compartilha do mesmo problema da peixinha Dory.
Raios caem duas vezes no mesmo lugar
Porque nos últimos dias, coincidentemente, tanto o podcaster homônimo de uma gloriosa marca de bicicletas, quanto o comentarista da rádio, foram recontratados e assumiram seus antigos postos, à vontade para divulgar suas ideias no mínimo incômodas.
Tal sincronia até me pareceu orquestrada. Um tapa na cara da sociedade, para mostrar que eles (e seus respectivos contratantes) mandam. Mas acho que estou imaginando coisas. Teoria da conspiração.
Seria mais ou menos como imaginar, sei lá, um Ministro de Estado pedindo propina em ouro (que vale mais que dinheiro) para desviar verbas de seu Ministério para pastores amigos. Louco, né?
Nazismo é crime
Falando sério (como se até agora o que eu escrevi fosse bobagem): estamos vivendo uma crise institucional das mais assustadoras. Como fiz questão de frisar, sublinhar, gritar no artigo anterior, nazismo é uma ideologia movida a ódio.
Mais que isso, pela legislação vigente neste país, se ninguém rasgar a constituição, essa meleca é crime. Com multas e pena de detenção previstas. CRIME. Coloco em maiúsculas pra ver se todo mundo percebe.
É um caso que não cabem meias palavras; não têm presunção de inocência, não tem pedido de desculpas, nota de repúdio, nada. Não resolve.
É imperdoável. Como aqueles feitiços em Harry Potter, que aliás, caso não tenham percebido, crítica nazistas e fascistas nas figuras de Voldemort, Grindelwald e mesmo Salazar Sonserina (primeiro nome de, não por acaso, um ditador em Portugal, terra onde a autora morou pouco antes de escrever o primeiro livro da obra - mas esse é outro assunto).
Vergonha
Como é que nesta altura do campeonato, com a sociedade vivendo uma tremenda crise, dois veículos, o podcast e a rádio, voltam a dar voz para esses dois sujeitos? Isso é compactuar com o pensamento deles, simplesmente. Ambos têm um poder de comunicação e penetração no público gigantesca.
É um desserviço à imprensa, ao jornalismo, à cidadania, à humanidade. E sim, ambos tornam-se cúmplices desse crime. Além de tudo, no caso da rádio, um desrespeito, como disse em meu Twitter, com a memória e a história de quem já passou por aqueles microfones.
E ninguém faz nada?
Aparentemente, não. E pelo jeito vai ficar por isso mesmo.
Desculpem meu texto nervoso, choro e ranger de dentes. Mas não consigo aceitar.
Eu volto. Mas preciso de um calmante.
Este artigo foi escrito por Clarissa Blümen Dias e publicado originalmente em Prensa.li.