Negros da teoria à pratica
Salvo equivoco pessoal e/ou limitação cerebral não me recordo desde o final dos anos 60, presenciar tamanha atividade cultural, social e agora econômica na comunidade negra. Me parece que o movimento que vinha sendo ensaiado, provocado pela conquista do maior acesso no campo da educação principalmente, que levou jovens negros para algumas universidades públicas com políticas como ENEM e Fies, se espraiou para o campo da economia.
São vários doutores, mestres, técnicos que pensando a questão do posicionamento do negro na sociedade brasileira, entenderam que era preciso ser dono ou fazer parte do que está sendo denominado Black Money.
Entenderam que não bastaria ter o canudo universitário sem que lhe fosse garantido o acesso ao mercado qualificado de trabalho. Percebeu-se também que a sociedade branca, não estava disposta a dividir esse espaço até então cativo para os seus. O negro de pé a porta de um restaurante não é mais apenas o manobrista ou segurança, mas, alguém que está aguardando que o serviço de parking lhe traga o veículo, não o velho e surrado fusquinha, mas, um veículo comum à classe média até então dominante.
Em algumas atividades especificas como o serviço público, notadamente no judiciário é grande o número de afrodescendentes dividindo a oportunidade de garantir um emprego digno com salário melhor ainda.
Nas prateleiras das livrarias autores brancos dividem espaço com escritores negros, mesmo quando a educação predominante se recusa abrir espaço para aplicação da Lei 10639, para implementação e desmistificação dos símbolos tidos como branco, mas, que na verdade sempre foram pretos. Enfim, acabou-se a era da verdade inabalável de uma simbologia que ao olhar apurado, nunca poderia ser da forma descrita, já que esses símbolos tem seu nascedouro no continente africano.
Em breve um novo terremoto deve ser provocado, agora na seara política, onde os afros descendentes não querem ser apenas uma cota na disputa de cadeiras dos parlamentos. Entenderam que é preciso estar na arena real da sociedade, onde se decide as politicas públicas, onde o dinheiro arrecadado pelo Estado, seja direcionado para recuperar a dignidade de parcela expressiva da população nacional, que o IBGE diz ser de 56% dos mais de 200 milhões de nacionais.
Assim, em 2022 o Brasil terá seu primeiro partido político, criado, dirigido e mantido pela comunidade negra. Se confirmado os números do IBGE, será a maior força política do país ou seja: os leões assumem o protagonismo de contar sua própria história, tirando dos caçadores a narrativa até então predominante.
Este artigo foi escrito por Barboza Jr. e publicado originalmente em Prensa.li.