Nope (2022) - Parte 1
Terceiro longa escrito e dirigido por Jordan Peele é tão bom quanto seus antecessores. Mas não é original. E isso não é um problema, nem de longe.
Eu tenho a impressão de que todo grande cineasta, em algum momento de sua carreira escolhe fazer um filme sobre fazer filmes. Truffaut o fez em "Noite Americana", Fellini em "8 1/2" e, mais recentemente, Tarantino em "Era uma vez em Hollywood".
Pode parecer prematuro para Peele se autorreferenciar desta forma em seu terceiro trabalho, mas é bom lembrar que ele não é um novato. Sua carreira como diretor iniciada em 2017 com "Get Out" é na verdade uma nova fase na carreira do outrora comediante e ator coadjuvante prolífico.
E ao escolher contar uma história sobre contar histórias, ele faz isso se debruçando sobre os ombros dos melhores. Para não correr o risco de estragar a experiência do caro leitor com o filme, que tem a sua estreia prevista para a próxima semana (25 de agosto), eu vou dividir minha crítica em duas partes.
A primeira será livre de spoilers, e vou focar nos aspectos mais gerais do filme sem entregar muito. A segunda, eu irei publicar depois da estreia, e pretendo dissecar de forma mais profunda minha análise pessoal dos signos e referências que encontrei em Nope.
Nope se passa no deserto californiano, no vale de Santa Clarita, ao sul do estado. OJ (Daniel Kaluuya, agora mais maduro, mas tão competente e intenso quanto em Get Out) e Emerald Haywood (Keke Palmer) são dois irmãos, herdeiros de um lendário criador e adestrador de cavalos na indústria cinematográfica.
Após uma tragédia, os irmãos precisam lidar com as dificuldades financeiras que a ausência do pai criou e a inadequação de ambos com a indústria que eles precisam atender.
Hollywood é hostil com ambos, e a diferença de percepção do que é necessário para o negócio deles funcionar, faz com que eles tomem decisões que os prejudicam. Até que um evento extraordinário em seu quintal lhes apresenta, ao mesmo tempo, uma chance de virar o jogo e um risco enorme com o desconhecido.
Nope é similar aos seus antecessores, mas não exatamente onde você talvez esteja imaginando. Peele assina o filme com suas peculiaridades usuais de diretor: a trilha sonora é cirúrgica, a cinematografia é impecável, os diálogos são bem resolvidos em tom e forma, e suas referências são inesperadas, mas no ponto. Apenas não procure por um plot twist de explodir mentes. Ele está lá, mas o peso dele no filme não é o mesmo que foi em Get Out ou Us.
Existe um subtexto adjacente, como nas obras anteriores, sim. Me parece que ao produzir um filme sobre fazer filmes em Hollywood, Peele conseguiu de sua maneira falar do horror cósmico que é sofrer whitewashing nessa indústria. E ele equilibra isso ao mesmo tempo em que parece contar como ele, no papel de diretor, ator, escritor etc. conseguiu caçar a sua própria baleia branca e abrir espaço para um cinema legitimamente negro e universal.
Não! Não Olhe! É um western, ao mesmo tempo que é uma homenagem singela a Spielberg, uma piscadela a Shayamalan e um bom retorno ao cinema pós-pandemia. Recomendo assistir em IMAX, ou na maior tela possível, e com o mínimo de informação sobre a história. Espero que você se divirta tanto quanto eu me diverti. Te vejo na Parte 2.
Este artigo foi escrito por Marcel Trindade e publicado originalmente em Prensa.li.