Nós falamos do Bruno
Divulgação - Disney
Agora que já passou o hype, mas nem tanto a ponto do filme envelhecer, tenemos que hablar sobre o Bruno.
Para quem não sabe, personagem-chave do sucesso Encanto, sexagésima animação em longa-metragem dos Estúdios Disney. Bem, não vamos falar exatamente sobre o Bruno, mas sobre a fantástica trilha sonora que embala toda a saga da Família Madrigal.
Mirabel, protagonista dos ritmos colombianos | Divulgação: Disney
A aventura, centrada na adolescente Mirabel Madrigal (a única sem um dom especial), foi musicada por Lin-Manuel Miranda, que além de compositor é ator, dramaturgo, cantor e produtor. Ou seja, contrate o cara para um trabalho e ganhe outros de brinde. Tipo uma promoção.
A Disney já o conhecia em pelo menos duas ocasiões: primeiro, na colaboração com “How I’ll Far You Go” (Saber Quem Sou, na versão brasileira), uma das mais belas canções da trilha sonora de Moana. Recebeu indicações ao Globo de Ouro, Critics Choice Awards e ao Oscar; segundo, protagonizou ao lado de Emily Blunt o interessante O Retorno de Mary Poppins, fazendo uma releitura do personagem Bert, do filme original. Aqui rebatizado como “Jack”, não fez feio perante ao excelente desempenho de Dick Van Dyke na versão de 1964.
Sonoridades únicas
Mas voltemos à família Madrigal. Miranda trabalhou meses a fio sobre ritmos tradicionais colombianos, criando peças únicas como o famoso café local. Não é a primeira vez que a Disney aborda uma cultura sul-americana, mas desta vez respeitando profundamente as raízes culturais.
Basta lembrar que em Alô Amigos!, que deu ao mundo o brasileiríssimo Zé Carioca, o samba foi ouvido, mas sob um olhar excêntrico no turista gringo. E em A Nova Onda do Imperador (que vamos abordar em breve), nada regional foi utilizado.
As canções de Encanto são envolventes e não se resumem a ilustrar as cenas, mas na maioria das vezes conduzem a linha narrativa.
Caso da canção de abertura, corretamente intitulada Família Madrigal. Em seus quatro minutos e dezessete segundos, faz a apresentação da (extensa) família, seus dons, problemas, e não menos importante, o esforço absurdo de Mirabel para esconder que não tem poder algum. Tem um andamento acelerado, divertido, que convida a acompanhar a animação sem tirar os olhos da tela.
Estou Nervosa e O Que Mais Vou Fazer? apresentam os personagens Luísa e Isabela, respectivamente, irmãs da protagonista. Trazem as personalidades de cada uma e também o desesperador sacrifício que realizam diariamente para manter as aparências, ocultando seus reais desejos.
O som do arrependimento
Não Falamos do Bruno é outra na linha narrativa, tão boa nos quesitos letra e melodia que a Disney já admitiu se arrepender de não tê-la inscrito como melhor canção original para a disputa ao Oscar. A música (e o personagem) tornaram-se instantaneamente populares assim que o filme ganhou as telas, no final de novembro de 2021.
Bruno previu tudo, menos a própria popularidade | Divulgação: Disney
A canção inscrita, aliás, pode nem ser tão popular, mas sem dúvidas têm chances fortíssimas de concorrer ao prêmio da Academia: Dos Oruguitas (Duas Lagartas, em português).
Única canção totalmente em espanhol no filme, conta através de metáforas todos os acontecimentos que deram origem à família, e se reparar bem, manda um tremendo spoiler dos minutos a seguir.
Dos Oruguitas é belíssima, capaz de emocionar qualquer um que tenha uma mínima noção do que é pertencer a uma família e nos sacrifícios que podem ser necessários. Tem um estilo sonoro um pouco diferente do que esperaríamos, mas garante com louvor sua permanência entre os grandes clássicos musicais disneyanos.
Ainda há Vocês, com uma marcante passagem de bastão, e İHola Casita!, um tradicional tema “final feliz”, mas dentro do estilo colombiano proposto por Lin-Manuel Miranda.
Para ver e ouvir
A trilha instrumental, composta por Germaine Franco, entrelaça-se completamente às canções, fazendo Encanto tornar-se mágico tanto para ver (preste atenção nos detalhes de luz e sombra deste filme, é o ponto alto da Disney nesse particular), mas principalmente para se ouvir.
Assim como sua protagonista, Encanto é aquele tipo de filme que chega quietinho, sem prometer muito, e de repente mostra que o seu verdadeiro dom está na junção de todos os seus detalhes, tornando-se inesquecível.
Este artigo foi escrito por Arthur Ankerkrone e publicado originalmente em Prensa.li.