Nos metaversos as coordenadas são as NFT-s
A tecnologia, em algumas aplicações, buscou uma comparação (simples) entre o real e o virtual.
Quantas coisas remetem à vida real que servem para traduzir funções no mundo digital? Talvezisso sirva como um artifício para aproximar a compreensão.
Mas, de fato, as versões digitais se aproximam apenas em um primeiro momento das versões analógicas. Por exemplo, o botão de salvar que lembra um disquete. Porém, talvez a melhor expressão que exemplifica a divergência entre os dois mundos seja "anonimato" (será que ainda há quem acredite que no mundo virtual pode-se ser invisível?).
Desta maneira, chegou a vez de criar uma outra aproximação entre o real e o digital: a localização. Pois, quando falamos de espaço, território ou local, é comum vir à nossa mente formas de transitar sem se perder (mapas e aplicativos). E, de fato, o ser humano, desde os tempos primordiais, teve que desenvolver formas para se situar no espaço, registrar onde haviam os perigos, a alimentação e quaisquer outros fatores relacionados à própria sobrevivência. A informação era situada no espaço com suas devidas e necessárias características.
Ok, mas e este conceito nos metaversos?
Como você vai catalogar e, principalmente, localizar tantos espaços e bens virtuais?
Neste caso, o localizar não é o mesmo de uma bússola ou de mapa para seguirmos, mas algo que permita minimamente uma garantia da própria existência destes itens virtuais. Desta maneira, o NFT (non-fungible-token) é algo que pode ser compreendido como um certificado de autenticidade (e, posteriormente, outras funções relacionadas à posse do item, tal como as imagens para quem possui o pacote Blue do Twitter, que permitem NFT´s para se diferenciarem, com molduras e informações).
Você já percebeu que quando falamos em NFT é algo que vai além do “efeito manada” que está ocorrendo, abrindo uma suposta possibilidade de criar coisas virtuais e vendê-las por valores milionários. Neste caso, que queremos abordar a questão de como esses certificados podem trazer usos concretos e factíveis dentro do contexto dos mundos virtuais.
Lastro no Loot
Por exemplo, em um jogo como Sonic, você coletava anéis dourados. Contudo, você não poderia vender esses itens. Pois figuravam como algo pontual na tela no score ou mesmo nas vidas. Ao desligar o jogo, estas moedas sumiam. Porém, com tempo surgiram os cartões de memória com o save dos games. Logo, as informações ficavam salvas, tais como: posição no jogo, itens e também as moedas.
Aqui eu vejo um “elo perdido” entre o jogo e as criptomoedas, uma circunstância embrionária, mas que foi um marco para o registro e descentralização de informações. Afinal, não há tantas diferenças entre um inocente memory card, no qual você poderia levar dados de suas partidas e acessar de outro consoles, e uma carteira de criptomoedas. E, também, qual a diferença entre as moedas do jogo e as moedas das quais estamos falando? Do ponto de vista de existência, reservada as devidas proporções, nenhuma!
O único ponto aqui seria a credibilidade, a equivalência com a economia real, a troca por dinheiro ou a comprar itens, coisa que não demorou para atingir este status.
Queria comprar esta armadura com dinheiro de verdade! (Divulgação - World of Warcraft)
Pois, em World Of Warcraft você poderia acumular moedas de ouro e, também, poderia vender, mesmo que sem uma garantia do lote. Embora houvesse confiança e serviços estruturados, ainda era algo sem os devidos certificados, lastreados na confiança e na necessidade.
Contudo, agora com esta tecnologia, temos uma série de possibilidades, uma moeda ou várias podem ser devidamente registradas e, desta maneira, compradas, trocadas e até declaradas no imposto de renda. O fato é: para cada item ou grupo de itens haverá uma única certificação ampliando as possibilidades em relação à confiabilidade e permitindo o uso como um ativo financeiro.
Não posso deixar de citar o Second Life, um metaverso por excelência no qual inclusive teve sua moeda digital própria (o Linden), que ajudou a pavimentar aquilo que temos hoje.
Esta (não tão nova) configuração espacial, ou melhor, configuração virtual baseada no espaço real, digitalizada com seus desafios emergentes, tem na NFT uma solução associada à localização tal como um “metageorreferenciamento”. Obviamente que não estamos falando de possibilidades finais, mas aquilo que poderá resolver estas dúvidas e necessidades emergentes e, certamente, passará por esse tipo de ideia. Para ajudar a compreender estas metáforas relacionadas a utilizações do espaço:
Georreferenciamento: podemos entender, em linhas gerais, como banco de dados espacializado.
O prêmio da longitude: livro que aborda o desafio para medir a longitude relatando relatando uma história do século 17 que implica em avanços até hoje.
Resumindo o que tentei expressar aqui: NFT´s podem ser consideradas um mapa do metaverso e, também, dos itens do metaverso. Muito mais que uma localização, mas um registro. Talvez, estas metáforas sejam ferramentas úteis para nos localizarmos neste mundo que não é tangível, mas causa impactos na realidade sem precedentes.
Hoje olhamos as artes rupestres e tentamos decifrar o que nossos ancestrais queriam dizer, registros que contribuíram com a sobrevivência da humanidade. Por que será que eu tenho a sensação que: no futuro, nossos descendentes, olharão para as blockchains e suas NFT´s da mesma forma que olhamos para as paredes das cavernas?
Este artigo foi escrito por Francisco Tupy e publicado originalmente em Prensa.li.