Nos Tempos de Tibério César, o Filme
Na longínqua década de 1950, na cidade de Três Corações, no Sul de Minas, resolveram fazer um filme amador, com atores locais. E de fato o fizeram. O nome era “Nos tempos de Tibério César”.
Segundo contam, o filme, que seria um drama, na verdade acabou parecendo mais uma grande comédia, por causa de alguns erros cometidos durante a filmagem.
Em resumo, a fita contava como o cristianismo entrara nos palácios dos Césares, “vencendo” o Império Romano.
Fuad, um professor de História que tive no Colégio Três Corações, foi um dos figurantes do filme e sempre contava, às gargalhadas, sobre os erros cometidos durante a filmagem.
Havia problemas em várias cenas. Em uma delas, aparecia ao fundo a fachada e o letreiro de uma loja que até hoje existe na cidade: a Casa José Naback.
Em outra cena, o centurião levantou a espada para matar um cristão e, nisso, apareceu seu relógio de pulso no braço.
Chegaram a enterrar um ator e deixar apenas sua cabeça de fora da terra, como se o mesmo tivesse sido decapitado. Ocorre que uma formiga entrou em seu nariz e a cabeça decapitada ficava se mexendo, fazendo caretas, na tentativa de tirar a formiga do nariz.
Logicamente, a iniciativa de se fazer um filme em Três Corações naquela época foi extremamente louvável, um pioneirismo digno de muitos aplausos.
A cidade é e era uma das mais importantes do Sul de Minas. Para se ter uma ideia, em Três Corações está instalada aquela que foi a primeira agência do Banco do Brasil de Minas Gerais e a 12.a do Brasil.
Então, dinheiro não faltava para se fazer um longa-metragem na Terra do Rei Pelé. O problema estava na técnica improvisada e nos “atores”, que na verdade eram pessoas da própria cidade, sem nenhuma experiência na sétima arte.
Apesar de tudo, o filme, embora precário, acabou sendo exibido também em Varginha, Itajubá, São Lourenço, Lavras e outras cidades menos importantes. E no fim das contas acabou sendo o único registro de um épico romano no Brasil.
Irmãos Brescia era o nome da companhia produtora, também responsável pelo argumento, roteiro, direção, música, direção de arte e fotografia.
O próprio professor Fuad, já falecido, era um dos que mais zombava do filme. Até porque o Fuad era uma figura. Uma das boas lembranças que tenho dele era a alteração que ele fez em um verso de Canção do Exílio, o mais famoso poema de Gonçalves Dias. Assim disse Fuad:
“Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá, Os pássaros que aqui gorjeiam Matei todos com o estilingue”.
Este artigo foi escrito por Sandro Mendes e publicado originalmente em Prensa.li.