Novak Djokovic ou “Novax Djocovid”?
A Austrália é um dos países que levou a questão da vacinação muito a sério e à risca, proibindo a entrada de qualquer pessoa que não resida no país sem o comprovante de vacinação. Sempre bom lembrar que existem outros países que estão adotando essa mesma postura, ou seja, os tenistas que não se vacinarem podem perder torneios importantes ao longo do ano.
Foto: Reuters
Mas, voltando ao Djokovic, a organização do Australian Open concedeu uma “permissão de exceção” para que o tenista pudesse disputar o Slam e, assim, defender seu título. Aqui, cabe um esclarecimento: a ATP (Association of Tennis Professionals) não interfere na organização dos Slams, que são os principais torneios disputados no ano. Com essa “permissão, começou toda a confusão.
Ao desembarcar na Austrália, Djokovic teve seu visto negado e as autoridades locais chegaram a pedir que ele se retirasse do país. O tenista acionou seus advogados que recorreram e ganharam uns dias para preparem uma defesa e apresentar perante um juiz. Segundo a BBC, a defesa, que se baseia na permissão de exceção, apresentou documentos comprobatórios que Djokovic contraiu o vírus pela segunda vez no mês de Dezembro. O teste foi feito no dia 16 e a data limite para aplicar o pedido era dia 10.
Se você está achando isso tudo confuso ou complicado, então, se prepare porque tem coisa pior. Djokovic testou positivo para Covid no dia 16, nesse mesmo dia ele esteve presente em um evento em sua homenagem e, no dia seguinte, visitou um centro de treinamento onde se encontrou com várias crianças e, no dia 18, fez um ensaio para o L´Equipe. Somente agora, com a sua defesa, que foi publicamente dito que o tenista contraiu o vírus em Dezembro.
A primeira vez foi em 2020, no chamado Adria Tour, evento de exibição promovido pelo próprio Djokovic durante os meses de Junho e Julho, em meio a momentos críticos da pandemia. Depois de cancelarem o torneio, o sérvio foi a público e disse que promoveu o evento na melhor das intenções, mas percebeu que o momento não era adequado e se desculpou.
Foto: William West/AFP
E aqui nós temos um impasse: separamos o homem do tenista ou analisamos os dois sendo a mesma pessoa? Pergunto por que muitas pessoas entendem que fulano pode fazer o que quiser na sua vida pessoal desde que não interfira no seu rendimento profissional. Eu penso diferente, então, peço licença para expor meu ponto de vista e se você discordar, eu respeitarei a sua opinião.
Novak Djokovic é o melhor tenista do mundo já tem um tempo. Ao lado de Roger Federer e Rafael Nadal, possui 20 títulos de Grand Slam e busca vencer mais um para se tornar o maior vencedor desses torneios. Possui diversas conquistas e, financeiramente falando, ganhou mais do que qualquer outro tenista na história. Dentro das quadras ele é um monstro e para vencê-lo, seu adversário tem que “suar sangue”.
Agora, fora das quadras ele acumula muitas controvérsias por suas atitudes e posturas frente à muitas situações, como, por exemplo, criticar abertamente árbitros e gandulas, exagerar nas comemorações frente ao rival e algumas explosões de raiva, sendo a última em 2020, quando sem querer ele acertou uma bolada em um juiz de linha e foi eliminado do Aberto dos Estados Unidos.
Djokovic nunca escondeu seu posicionamento contra a vacina. Por ser uma figura pública, um ídolo para muitas pessoas ao redor do mundo, incluindo crianças, sua postura deveria ser diferente. Talvez você não tenha a dimensão do que seria uma declaração dele falando sobre a importância da vacina. Milhares de pessoas se dirigiriam a um local de vacinação porque ele disse para fazerem.
Ignorar a ciência em meio a pandemia é algo sério, grave e pode colocar a vida de outras pessoas em risco, afinal, todos somos potenciais transmissores do vírus. O que ele faz com a vida dele, não é só problema dele em se tratando da Covid. O que ele precisa é arcar com as consequências de suas decisões.
Foto: Elise Amendola/AP
O que realmente incomoda é que ele criticou abertamente a ATP e demais federações por darem tratamentos diferenciados para alguns atletas, chegando ao ponto de propor uma nova ATP enquanto disputava o US Open. Através de uma postagem em seu Instagram, o ex-tenista e comentarista esportivo dos canais ESPN, Fernando Meligeni, critica a postura e o tratamento diferenciado que ele tem recebido:
“Agora ele é tratado diferente e abre uma cratera entre o 1 do mundo e o 100 do mundo e todos que jogam. Além das regalias por ser o melhor de todos, hora do jogo, tempo nas quadras de treino, hotéis, pedidos… hoje ele recebe um benefício que muitos não tiveram.”
Agora, voltando ao Australian Open, o sérvio venceu na justiça o direito de jogar o torneio. O Juiz Federal Anthony Kelly classificou como “irracional” a decisão de cancelar o visto do tenista. A decisão não caiu bem e o Ministro Federal da Imigração, Alex Hawke, deixou claro que irá recorrer da decisão e pode usar de um “poder pessoal de cancelamento”, o que resultaria na proibição de Djokovic entrar na Austrália por três anos.
Até o presente momento em que finalizo esse texto, a situação é essa. Djokovic publicou uma foto e um texto em seu Twitter agradecendo o apoio dos fãs. Mas, com certeza, isso vai render muito, não apenas no Australian Open, mas, em muitos outros torneios da ATP e Grand Slams.
Foto: Twitter/Novak
Este artigo foi escrito por Edu Molina e publicado originalmente em Prensa.li.