Crise, caos, pandemia e, ainda assim, a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação de Comunicação (Brasscom) prevê uma demanda de até 420 mil profissionais de tecnologia para o Brasil até 2024.
Combinando esse dado à informação de que, em 2022, os investimentos do Brasil em educação e ciência tiveram a pior marca em 20 anos, podemos imaginar um cenário de desafios para quem pensa em abrir uma startup de tecnologia no país.
Mas há quem veja nisso uma oportunidade.
Atualmente, as edtechs (empresas que usam a tecnologia para criar soluções inovadoras na área de educação) representam 17,3% de todas as startups no Brasil, conforme o Mapeamento de Comunidades 2020, sendo assim, o maior segmento entre startups no país.
Em 2021, superaram em 770% o valor de investimentos recebidos no ano anterior, totalizando US$22,5 milhões para o setor.
Porém, a pandemia transformou essa realidade. Enquanto alguns setores sofreram impactos profundos com o isolamento social, as edtechs viram um boom na demanda por serviços e plataformas de aulas, avaliações e gestão remota, acelerando processos que levariam anos para serem implementados.
Mais do que uma (boa) oportunidade de negócios, as edtechs representam uma maneira de solucionar um gap importante no mercado: é preciso desenvolver maneiras baratas e eficientes de educar e atualizar profissionais para o mercado de tecnologia. E rápido.
Puxando a sardinha para os temas do Open Finance: o que o mercado financeiro tem a ver com isso?
Muito mais que um problema de RH
Hoje, o Brasil conta com 34 milhões de adultos desbancarizados – com pouco ou nenhum acesso a serviços e produtos bancários. Ainda assim, é um engano achar que essa parcela da população não é relevante economicamente.
Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva, esse grupo movimenta anualmente cerca de R$817 bilhões.
Na avaliação do presidente do Instituto, Renato Meirelles, a conclusão é que o Brasil cresceria mais rápido e sairia de crises econômicas com a bancarização.
“Ficou definido na pesquisa que os bancos que operam no país ainda não falam com uma parcela significativa da população e que muitas dessas pessoas que não têm conta em banco são empreendedores, entre os quais ambulantes e trabalhadores autônomos, que precisam estar mais inseridos na economia formal.”, disse.
Atualmente, 69% dos desbancarizados ainda compram fiado, ou seja, não têm acesso à crédito com valores justos. Muitos são ex-bancarizados que não tiveram boas experiências como clientes de bancos. “Quanto mais no interior e mais no Nordeste, maior é a presença da caderneta de fiado, ou caderneta de crédito que teve origem no varejo”, diz Meirelles.
Ao mesmo tempo, não basta simplesmente levar produtos financeiros a quem não tem. É preciso transformar trabalhadores informais em empreendedores.
Com essa visão – aliada ao fato de que existem dois aparelhos de celular por habitante no Brasil – é perfeitamente possível imaginar uma parceria entre o mercado financeiro, as empresas de tecnologia em Open Finance e as edtechs dispostas a construir jornadas de educação a um público esquecido pela educação tradicional.
Sabemos que o Open Finance é a melhor maneira de democratizar produtos financeiros e incluir grande parte da população dentro do universo bancário, oferecendo ferramentas para que empreendedores informais possam criar negócios sólidos, mesmo em rincões isolados.
As edtechs têm a oportunidade, a tecnologia e a responsabilidade de acessar os cantos mais profundos do país. Mas isso só é possível com um olhar para uma educação financeira que leve em consideração o universo único da realidade brasileira: desigual, caótica e muito, mas muito, potente.
Este artigo foi escrito por Pedro Matallo e publicado originalmente em Prensa.li.