O calor das cidades
São Luís (MA). Foto: Foster M. Palmer
Hoje eu estava no carro, que andava em lenta velocidade, e por alguns segundos reparei nas pessoas na rua: algumas nas calçadas, outras nas paradas de ônibus, umas atravessavam a avenida, algumas tomavam café do pequeno vendedor de rua, um senhor caminhava com alguma dificuldade com as pernas cambaleantes, alguns jovens, uma criança.
O tempo estava nublado e levemente frio (para o que é considerado frio em São Luís, uns 24 graus?) nesta tarde, e consequentemente convidativo para a cama e pro lençol. É um horário em que costumo preferir estar “morta”, normalmente eu fico melancólica nas primeiras horas da tarde, se pudesse viveria só pela manhã e pulava direto para a noite.
Mas ver aquelas pessoas em movimento e vida mesmo sob um tempo nublado, e cada um fazendo suas coisas, correndo atrás do que precisam ou desejam, trabalhando ou indo estudar (mesmo que talvez sem nem estar com cabeça para isso), me fez pensar em como é importante viver em sociedade.
O coletivo aquece, traz aconchego. O coletivo esquenta o coração. Ver crianças, idosos, ver pessoas enfrentando o sol ou a chuva sem desistir da vida (muitos por que sequer poderiam se dar esse luxo) é maravilhoso.
Digo isso porque estamos numa época em que todos temos alguns momentos de melancolia e desesperança, tristeza e egoísmo. Às vezes parece mais fácil ficar na cama e não encarar o dia.
Mas basta colocar o pé pra fora de casa ou do trabalho, respirar um ar diferente, ver gente comprando o pão e de repente parar e observar tudo isso que você vê a roda da vida girando e sim, quer fazer parte dela.
A vida é movimento e é o constante movimento que nos dá energia. Entendo também quem prefira viver perto do campo ou em contato maior com a natureza, mas em algum lugar li ou ouvi que “isolar-se não traz nada além da mediocridade”.
Não concordo completamente, pois há casos e casos, há quem tenha desistido das pessoas por razões meramente químicas ou mesmo intelectuais, mas de minha parte devo dizer que o coletivo traz calor ao coração.
Virginia Woolf costumava odiar quando o marido a levava para longe de Londres (ao campo) para que ela acalmasse a mente perturbada. Agora eu entendo a escritora. Ver gente, ver muita gente (não necessariamente numa metrópole como Londres, cidades médias ou até pequenas são mais acolhedoras), pode ser a cura diária necessária. Compartilhar momentos, não só com a natureza em geral, mas também com nossa própria espécie — nossa louca espécie, é essencial.
Este artigo foi escrito por Valéria Sotão e publicado originalmente em Prensa.li.