O EAD no contexto brasileiro
Com o avanço da tecnologia e da inclusão digital, talvez seja comum pensar que o conceito de ensino à distância surgiu com essas tecnologias.
É verdade que depois do famoso “Boom.com” da Web, no final da década de 90, o EAD foi elevado a outro patamar educacional devido à capacidade de nos comunicar a distância ter crescido amplamente, assim como às tecnologias terem se tornado cada vez mais acessíveis. Todavia, é um conceito que surgiu no Brasil no início do século XX, quando já existiam iniciativas em outros lugares do mundo desde séculos anteriores.
No contexto brasileiro, o ano de 1904 marcou o primeiro registro da tentativa de educar e capacitar as pessoas fora das práticas comuns de ensino da época. Esta tentativa surge com iniciativa do “O Jornal do Brasil” que, por cartas, proporcionou cursos de datilografia para a população, que na época sofria carência no acesso à educação.
Em 1920, aumentaram iniciativas por parte das emissoras de rádio na prática de transmitir conteúdo cultural e educacional.
Em 1923, por iniciativa liderada por Edgard Roquette-Pinto, Henrique Morize e outros intelectuais e acadêmicos brasileiros, foi fundada a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, que atuou de maneira fundamental na difusão deste tipo de conteúdo às massas carecentes do país, oferecendo cursos de Português, Francês, Silvicultura, Literatura Francesa, Esperanto, Radiotelegrafia e Telefonia durante os seus 13 anos de existência.
Em 1934, foi instalada a Rádio Escola Municipal do Rio, também por Edgard Roquette-pinto, onde os estudantes recebiam previamente por correspondência o conteúdo didático das aulas e acompanhavam também seus desdobramentos durante as transmissões de rádio.
Vale lembrar que, no ano de 1936, durante presidência de Getúlio Vargas, entra em vigor uma lei exigindo que as estações de rádio aumentem a potência de seus transmissores. Asso, cada vez mais, a tecnologia de ondas de rádio foi pivô na difusão do EAD deste período histórico. No estado de São Paulo surge o Instituto Monitor (inicialmente Instituto Rádiotécnico Monitor), que atua também ao longo dos anos seguintes de maneira pioneira na difusão do EAD no país, oferecendo cursos profissionalizantes por correspondência.
Nas décadas seguintes, muitas outras iniciativas deste gênero fomentaram a educação. Iniciativas governamentais e privadas fizeram com que os anos 60 e 70 fossem marcados por mudanças no código brasileiro de telecomunicações. Emissoras de televisão foram obrigadas a transmitir conteúdo educativo em parte de suas programações. A TV Cultura (fundada originalmente em 1960), TV Escola (Fundada em 1996) e o Telecurso (Programa da fundação Roberto Marinho, com atividades desde 1995) são bem conhecidos por parte da população, com enorme gama de conteúdo educativo e cultural acessível para a população de baixa renda.
A partir dos anos 2000 o MEC incentiva e regulamenta muitas instituições, as quais, atreladas ao crescimento de novas tecnologias, passam a ofertar diferentes cursos. Torna-se comum, ao longo dos anos, ver cursos de nível superior, desde tecnólogos a doutorados, formando pessoas à distância.
Os benefícios são inúmeros. Com custos menores de produção, é comum ver cursos superiores sendo ofertados a baixo custo, além de proporcionar para o estudante praticidade e liberdade no desenvolver das atividades educativas, dentre outros fatores que chamam cada vez mais a atenção das pessoas e torna acessível sua formação.
O cenário que vemos hoje, com avanços tecnológicos acentuados, é de crescimento do poder e do nível de interação ‘humano x humano’ com uma máquina como intermediário, além de gerações mais habituadas ao processo EAD.
É assertivo dizer que o ensino à distância veio para ficar e contribuiu significativamente na democratização da educação no Brasil e no mundo.
Este artigo foi escrito por Felipe Lucena e publicado originalmente em Prensa.li.