O encerramento da carreira de Johnny Hooker
A sensação que temos é a de que estamos o tempo todo trabalhando de graça na internet, criando conteúdo para diversas plataformas, nos tornando reféns de algoritmos.
Cria-se conteúdo na tentativa de agradar o algoritmo para quem sabe o conteúdo ser entregue e, contando com um pouquinho de sorte, se tornar viral.
Mas o que muitos já vêm percebendo é que viralizar não significa muita coisa para sua carreira ou arte.
A realidade do artista hoje talvez seja mais difícil do que a de décadas atrás. O grande obstáculo de um artista dos anos 80 era pular o muro da gravadora. Conseguindo isso, ele não estaria mais sozinho.
Pense no seu ídolo do passado: ele estava nas rádios, nos programas de TV, nas revistas, pois havia uma gravadora injetando dinheiro naquela carreira, pagando para que ele aparecesse nesses veículos de comunicação. E ele colhe os frutos desse investimento até hoje.
Todas as músicas dos nossos grandes ídolos só são ouvidas nos dias atuais pois receberam um investimento grande nas décadas passadas.
E sem um investimento financeiro, essas músicas não teriam tido a chance de nascerem e se consolidarem no imaginário popular.
Nos tempos modernos, é o próprio artista que deve investir na própria carreira. Se antes exigia-se apenas que o artista soubesse fazer uma bonita canção, um disco incrível, e era ofertado a ele todas as ferramentas para conseguir realizar sua obra, hoje o artista se vê obrigado a ter uma “mente empreendedora”.
Espera-se que, além da arte, o artista seja empresário, publicitário, social media. E com isso, a arte, acaba permanecendo em segundo plano.
Já falei que o orgânico não funciona mais no meio digital como ocorria nos primórdios da internet. Então, o que o artista precisa fazer?
Para aumentar ouvintes no Spotify, por exemplo, ele precisa investir em publicidade no Instagram (é a plataforma que melhor funciona hoje para divulgar uma música).
O artista cria uma campanha para o Instagram que vai levar seu potencial público para o Spotify. Quando sua música é ouvida no Spotify, o artista recebe um valor pelo streaming. Só que esse valor nunca cobre os gastos da campanha. A conta nunca fecha.
Ou seja, o Facebook/Instagram ganham, o Spotify/Deezer ganham, e o artista fica no vermelho.
Nunca fizemos tão boas canções como agora. Diariamente é lançado no Spotify 60.000 músicas. Em um cenários bem pessimista, digamos que 0,1% dessas músicas tenha potencial para ser a música da vida de alguém ou o hit de uma geração, estamos falando de umas 60 músicas por dia que ficam esquecidas no porão da internet.
Eu entendo o cansaço do Johnny Hooker, pois é o cansaço da maioria dos artistas que conheço. E alguns estão adoecendo no meio dessa loucura toda que a gente vive.
Mas o que eu ando descobrindo, sobre mim mesmo, é que eu vou continuar fazendo minha arte, mas respeitando o meu ritmo, o meu fuso horário. E gostaria muito que o Johnny Hooker e todos os outros artistas contemporâneos a mim, continuassem fazendo também. No ritmo e no fuso horário de cada um. Afinal, a direção é mais importante que a velocidade.
Este artigo foi escrito por Zuza Zapata e publicado originalmente em Prensa.li.